Folha de S.Paulo

Retrovisor

Mustang para o dia a dia

Em 1998, o diretor de fotografia Lito Mendes da Rocha precisava de um carro, mas estava meio sem grana. Ele e o amigo Drico Mello, que acabara de ter seu VW Gol roubado, chegaram a conclusão meio maluca de que ambos deveriam comprar, para usar no dia a dia, um Mustang dos anos 60.

Os tempos eram outros, e o mercado de carros antigos não estava tão inflacionado como hoje. Pelo preço de um popular novo, ainda era possível comprar um legítimo "pony car" americano.

Nessa época pré-internet, o jeito era garimpar nas revistas especializadas. Acharam um Mustang 69 e foram vê-lo.

O dono, ao ver os dois, já foi alertando: "Pode olhar o quanto quiser, mas estou de saco cheio de todo mundo vir aqui só para dar uma volta no carro."

Drico amansou a desconfiança: "Fique tranquilo. Se eu não comprar, aquele louco babando compra", disse, referindo-se ao amigo, que não teve chance --Drico não abriu mão do Ford.

Mas Lito, persistente, continuou sua busca. Avistou pouco tempo depois um modelo Hardtop 68, no Rio de Janeiro.

E lá foram os dois atrás do carro. Antes de chegar, por indicação de um colecionador, conseguiram o contato de um mecânico carioca especializado em Mustang. Não podia ser melhor, pois esse era justamente o profissional que dava manutenção e conhecia todos o macetes do carro. "Só tomem cuidado com o radiador", ele alertou.

Foi amor à primeira vista. Lito fechou o negócio e voltou dirigindo para São Paulo --algo nunca recomendado em se tratando de antigos. O ideal é colocar o carro numa plataforma e testá-lo em viagens curtas próximas de casa.

Não deu outra. Em São José dos Campos, o Mustang 68 começou a soltar vapor do radiador. Como o furo era na parte de cima, precisaram completar o nível de água e monitorar a temperatura do sistema durante toda a viagem.

A aventura criou um vínculo imediato com o carro e, por alguns anos, Lito realmente usou o Mustang no dia a dia.