Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Retrovisor
DENIS CISMA denis@cisma.com.br
A oficina do vovô
René queria um DKV cupê que pertencia a um cliente da família. Mas o alemão --e seu carro-- haviam desaparecido
Quando era criança, no começo dos anos 1960, René Witzke gostava de visitar a oficina do avô no bairro do Itaim, uma das primeiras autorizadas DKW de São Paulo.
Os carros em conserto eram o playground perfeito para um menino de cinco anos de idade. Observador, o garoto gostava de apontar as diferenças entre os veículos da oficina e o DKW da família. René não entendia porque seu pai tinha um sedã e não um cupê, modelo em que era possível abrir as janelas traseiras e tomar um vento no rosto.
A oficina deixou de ser autorizada DKW em 1967, quando a Volkswagen comprou a Vemag. Mas o amor da família por aqueles modelos seguiu até René ter idade para dirigir.
Em 1975, ano em que René completou 18 anos, seu pai decidiu presenteá-lo com um DKW.
Lembraram do carro de um cliente alemão da oficina: um Sonderklasse Luxus Coupé 1957.
O problema é que a família havia perdido o contato com esse cliente.
A única pista que tinham era que ele vendia vinho para um mosteiro.
Em um fim de semana, a família toda decidiu ir até o tal mosteiro. Descobriram que o alemão do DKW cupê ainda continuava a fabricar vinhos em Vinhedo, no interior de São Paulo.
E para lá se foram os Witzke. Em um posto de gasolina, descrevendo o carro e o alemão, conseguiram um endereço.
A esposa do alemão abriu a porta, surpresa. O homem, mais surpreso ainda, confirmou que ainda possuía o carro, mas que não estava à venda.
Mas a esposa, comovida pela aventura que a família havia feito até chegar ali (e com a oportunidade de se livrar do carro velho), convenceu o marido.
Feliz, a família Witzke voltou para casa dirigindo o Sonderklasse Luxus, que estava em ótimas condições. O único problema era o manual, todo rabiscado.
"Uma pena!", disse René. "Sabe quem rabiscou? Você! Aos cinco anos, brincando na oficina do vovô", revelou o pai.