Combate ao crime ganha a luz do dia em HQ de Batman e super-herói negro

Crédito: Divulgação O personagem Signal ao lado de Batman na série em quadrinhos escrita por Scott Snyder e Tony Patrick e ilustrada por Cully Hamner
Os personagens Signal e Batman na série de Scott Snyder e Tony Patrick, ilustrada por Cully Hamner

DAVID BETANCOURT
DO "WASHINGTON POST"

O mais novo bat-sinal de Gotham City brilha de dia.

"Batman and the Signal", uma nova minissérie em três partes protagonizada por Duke Thomas —popular personagem adolescente dos quadrinhos de Batman que flertou com a possibilidade de vestir a capa de Robin, o Menino Prodígio, antes de se tornar Signal, um personagem mais bruto—, chegou ao mercado em papel e em versão digital, pela DC Comics.

Scott Snyder e Tony Patrick estão coescrevendo a série, ilustrada por Cully Hamner.

Os caminhos de Patrick e Snyder se cruzaram no Writers Workshop da DC Comics em 2016. Patrick foi um dos participantes da oficina de roteiro, e Snyder, funcionário da DC, é um dos professores que ajudam a formar novos quadrinistas por lá.

Patrick procurou Snyder com ideias para Duke Thomas, personagem que surgiu na versão repaginada da origem de Batman, "Ano Zero", escrita por Snyder em 2013.

"Havia um bom tempo que vínhamos tentando encontrar um lar para Duke", diz Snyder em entrevista.

HERÓI DIURNO

"Tony apareceu com uma ideia excelente para o personagem, que ele via com muita paixão. A ideia era fazer dele um herói diurno e desenvolver seus poderes."

A série, diz Snyder, "mostra um lado de Gotham que jamais vimos".

"Não só Gotham durante o dia mas toda uma história secreta, toda uma guerra secreta que está em curso. E com isso eu sabia que [a minissérie] era o lugar certo para o personagem."

Não faltam "sidekicks" e aliados no passado do Batman —todos eles heróis que operam primordialmente durante a noite.

Tomar um bat-personagem e fazê-lo combater o crime em plena luz do dia permite que um novo tipo de narrativa se desenvolva no universo do Homem-Morcego.

"A Gotham diurna é um playground muito fértil para nós",afirma Patrick. "Uma ideia com a qual vínhamos brincando é a de que a Gotham diurna talvez pudesse ser mais perigosa e corrupta que a Gotham noturna."

O lado diurno de Gotham também dá a Cully Hamner uma perspectiva artística ligeiramente diferente, já que os artistas costumam desenhar o Batman nas trevas e na sombra.

"Do ponto de vista visual, há muito [com que trabalhar]", diz o desenhista.

"De noite, as pessoas estarão mais interessadas em diversão ou estarão envolvidas em crimes mais sombrios. Durante o dia, temos pessoas envolvidas em crimes cometidos à vista de todos".

PRIMEIRO CAVALEIRO

Ver o uniforme e capacete de Signal, que misturam amarelo brilhante e preto e exibem um grande morcego no peito, pode levar os fãs a entendê-lo como uma espécie de bat-sinal vivo, mas Snyder diz que ele e Patrick criaram o nome Signal [que literalmente quer dizer "sinal" em inglês] inspirados nos cavaleiros medievais.

"Signal também é um termo que designa o primeiro cavaleiro em um campo de batalha. O cavaleiro sinal, o que entra em campo antes de todos os outros", explica.

"Há essa noção de que Duke é o primeiro a sair ao campo de batalha. Uma das ideias que tínhamos era a de que um dia ele se encontraria com [Batman], no [bat-sinal], ao crepúsculo, e os dois trocariam informações e de posto", complementa Snyder.

Duke Thomas não se destacará na bat-família de inimigos do crime apenas por combater criminosos durante o dia como o herói Signal.

Ele também é o único membro do grupo dotado de superpoderes e enfrentará vilões igualmente poderosos.

Snyder descreve seus poderes como "fotocinéticos", e como parte de um mistério maior envolvendo a história da família de Signal.

"[Duke Thomas] vê a luz do sol de modo diferente. Não queríamos lhe dar poderes como um olhar laser", diz Snyder, rindo.

"Ele processa a luz do sol mais rápido do que as pessoas comuns conseguem e, por isso, é capaz de ver o que acontecerá uma fração de segundo antes dos outros."

"Queríamos lhe dar um poder que fosse vantagem para começar seu trabalho em Gotham e, ao mesmo tempo, deixar seus poderes envoltos em mistério", explica.

"Duke acredita firmemente que, se puder descobrir de onde vieram seus poderes, o que eles significam e por que sua família os tem, talvez compreenda seu lugar na cidade."

NOVA GERAÇÃO

Quanto ao termo "sidekick" [companheiro ou acólito, usado para designar os que lutam ao lado do Batman], Patrick diz que Signal é bem mais que isso.

"Essa é a oportunidade que Batman tem de conferir poder a uma nova geração de heróis, em lugar de simplesmente adicionar um membro à bat-família", afirma Patrick.

"É uma oportunidade para que os fãs acompanhem desde o início a evolução de um personagem adolescente [da DC Comics] e, a depender do tempo que tivermos para brincar com Duke, vê-lo tornar-se um herói pleno. Meu sonho é que Signal um dia faça parte da Liga da Justiça. Adoraria ver um futuro como esse para Duke Thomas."

Patrick diz que reconhece a importância de ser um escritor negro e a voz por trás de um novo super-herói negro em uma grande editora de quadrinhos na era atual —na qual a mídia social dá aos fãs não brancos a oportunidade de exigir mais autenticidade, em lugar de personagens simbólicos criados como um sinal de reconhecimento da diversidade.

"É uma responsabilidade que levo muito a sério", frisa Patrick. "Mas também existe a responsabilidade de ser fiel ao personagem e ao universo da DC, e a Gotham, ao Batman, e à bat-família", completa. "A maior responsabilidade de todas é contar uma história ótima sobre a bat-família. Essa é a prioridade."

Tradução PAULO MIGLIACCI

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.