Dez pessoas morrem em incêndio em pensão no centro de Porto Alegre

Outras 15 pessoas ficaram feridas; origem das chamas ainda é investigada

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Cristina Camargo Catarina Scortecci Luís Eduardo Gomes
São Paulo, Curitiba e Porto Alegre

Um incêndio em uma pensão na região central de Porto Alegre provocou a morte de dez pessoas e deixou outras 15 feridas na madrugada desta sexta-feira (26).

Até o início da noite, sete feridos permaneciam internados em hospitais, dois em estado grave. A origem das chamas ainda é investigada.

A Pousada Garoa, onde ocorreu o incêndio, oferece vagas a pessoas em situação de rua por meio de uma parceria com a Prefeitura de Porto Alegre.

Incêndio destrói pensão e causa dez mortes na região central de Porto Alegre - Evandro Leal/Agência Enquadrar/Folhapress

Ainda na manhã de sexta, a Defesa Civil indicou que o incêndio pode ter sido criminoso. Em entrevista coletiva, o prefeito Sebastião Melo (MDB) disse ter enviado à polícia imagens que mostram uma pessoa entrando e saindo da pensão em horário próximo ao do início das chamas, no meio da madrugada.

O prédio pegou fogo por volta das 2h, e a situação só foi totalmente controlada perto das 5h. O incêndio ocorreu próximo de um posto de combustíveis, o que assustou ainda mais moradores vizinhos ao prédio e motoristas que passavam pelo local.

O edifício ficou destruído, e os corpos das vítimas foram encontrados carbonizados, segundo os bombeiros. A suspeita é de que a maioria estivesse dormindo.

Os corpos foram levados para o IML. Os nomes e as idades não tinham sido divulgados até a noite desta sexta. Foi decretado luto oficial de três dias.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a Pousada Garoa estava irregular. Em nota, a corporação disse que não foi protocolado o PPCI (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio) nem emitido o alvará para atividade residencial, pousada ou hotelaria.

O prefeito disse que a Lei de Licitações não exige que a empresa forneça o PPCI, mas que todas têm o dever de atender às exigências dos bombeiros.

Após o incêndio, a Prefeitura de Porto Alegre anunciou que fará uma força-tarefa para verificar a situação de todos os 23 espaços na cidade onde há vagas para pessoas em situação de rua.

Segundo o prefeito, os 23 espaços pertencem à mesma empresa responsável pela Pousada Garoa e oferecem, no total, 400 vagas para pessoas em condição de vulnerabilidade a partir de um contrato emergencial firmado em 2022 com a gestão municipal. Nesse programa, os beneficiários recebem um voucher da FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania) que é válido por 15 dias e pode ser usado para ocupar uma vaga nas pensões.

Ainda de acordo com Sebastião Melo, das 400 vagas contratadas, mais de 300 estão em uso atualmente. Na pensão onde houve o incêndio, localizada na avenida Farrapos, das 30 vagas existentes, 16 estavam reservadas para o programa de voucher.

Quando a prefeitura abriu o credenciamento para fazer a contratação, a Garoa foi a única empresa que se habilitou para prestar o serviço, afirmou o prefeito.

Além da força-tarefa, Melo anunciou a abertura de uma investigação preliminar sobre o contrato e disse que o procedimento pode gerar uma sindicância. A reportagem não conseguiu localizar o proprietário da empresa, André Luís Kologeski da Silva.

A investigação sobre o incêndio é conduzida pelo delegado Daniel Ordahi, da 17ª DP, e as diligências envolvem Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar e Instituto Geral de Perícias.

"Estão sendo aguardados os relatórios técnicos e resultados das demais apurações investigativas", afirma a Polícia Civil, em nota.

Breno Rivera Rodrigues, 29, um dos sobreviventes, disse que ainda estava acordado quando o fogo começou. "Pegou fogo no colchão, num quarto que não tinha ninguém. Aí eu só me lembro que começou a correria. Foi questão de minutos para o fogo tomar conta", afirma ele.

Rodrigues morava na Pousada Garoa havia mais de um ano. Ele conta que, quando as chamas começaram, estava no seu quarto no segundo andar, um espaço de "2 metros por 3", separado dos vizinhos por uma divisória de madeira. "Se eu não estivesse acordado, acho que nem estaria aqui. Eu só quero agradecer a Deus."

Tiago de Almeida de Sousa, 35, também morava no segundo andar. Ele ficou com escoriações de quedas que sofreu durante a fuga.

"Eu estava deitado, quase pegando sono. Um rapaz do outro lado começou a gritar, a gente pensou que era briga. A hora que eu abri a porta, estava pegando fogo em tudo. Estava já com fumaça, não dava para enxergar nada. Tive que sair correndo, caí no chão, aí meio que engatinhando saí para a rua", contou.

Os moradores dos imóveis vizinhos à pensão foram removidos do local.

O presidente Lula (PT) se manifestou sobre o incêndio em suas redes sociais e prestou "solidariedade às famílias e aos amigos que perderam seus entes".

"Com tristeza e preocupação soube da morte de ao menos dez pessoas em incêndio em uma pousada de Porto Alegre. O estabelecimento acolhia pessoas em situação de vulnerabilidade na capital gaúcha", escreveu.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), também se manifestou nas redes sociais e disse que a morte de pessoas no incêndio "consterna profundamente".

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