Descrição de chapéu
Cinema

'A Câmera de Claire' transmite uma visão ordenada do caos amoroso

Terceiro filme do coreano Hong Sang-soo também trata de desacertos conjugais

cENA DO FILME A câmera de Claire
Kim Min-hee e Isabelle Huppert em 'A Câmera de Claire' - Divulgação
Inácio Araujo

A câmera de Claire (La caméra de Claire)

  • Quando Estreia na quinta (24)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Isabelle Huppert, Kim Min-hee, Jang Mi-hee
  • Produção França, 2017
  • Direção Hong Sang-soo

Veja salas e horários de exibição.

São as pequenas coisas, essas que passam quase sempre despercebidas, que fazem boa parte da grandeza de Hong Sang-soo. Tomemos por exemplo “A Câmera de Claire”, terceiro filme do mestre coreano em 2017, o terceiro também sobre desacertos conjugais.

No primeiro deles, “Na Praia, à Noite, Sozinha”, existe uma atriz tendo um caso amoroso com um diretor de cinema. No segundo, “O Dia Depois”, o cineasta é substituído por um editor que tem um relacionamento extraconjugal com sua secretária; a mulher do editor descobre e vai fazer um escândalo na editora.

Desta vez, tudo começa com uma mulher que despede uma funcionária, Manhee (Kim Min-hee), por considerá-la desonesta. Não estão em Seul, mas não sabemos onde estão. A funcionária faz questão, depois de ser despedida, de tirar uma foto junto com a ex-patroa.

Logo depois entra em cena Claire, a professora francesa (Isabelle Huppert). Aliás, logo depois sabemos que a ação se passa em Cannes, por onde Claire passeia e onde Ho (Jung Jinyoung), um diretor coreano, terá seu filme exibido e onde está com a mulher (a patroa que despediu Manhee).

Inútil dizer, Manhee é a garota com quem o diretor andou transando. Uma vez, quando estava bêbado e porque estava bêbado _é o que diz.

Mas talvez toda essa história esteja um tanto mal contada. Será que não são assim todas as histórias (em especial essas que envolvem três amantes) amorosas? Ou será que não são contadas apenas em parte?

Nisso entra em cena Claire. Ela gosta de fotografar. Aprecia registrar momentos. Por isso pode indagar se uma pessoa que fotografou apenas algumas horas atrás continua igual. Continua? Eis aí o verdadeiro assunto deste filme.

A fotografia é a arte do momento: fixa o instante e retém o seu mistério. Ela retira o personagem do tempo. O espaço fotográfico é fundado sobre a imobilidade. A questão: poderia uma sucessão de fotografias captar as transformações que ocorrem a uma pessoa num espaço curto de tempo?

Eis então como se desenvolve o tema: sim, as pessoas já não são quem eram minutos ou horas atrás. Não durante uma crise amorosa, que supõe idas e vindas, retrações, desencontros e reencontros. No caso, supõe inclusive a presença de um estrangeiro (a francesa Claire com sua câmera) e a intrusão de uma língua estranha (na França, a francesa e alguns coreanos do sul falam inglês entre si).

Com toda discrição do mundo, Hong Sang-soo nos joga então, com o último de seus filmes a ser lançado em São Paulo, na babel do desejo, em que a vontade de ordenação do homem é sacudida por forças que não controla.

Foi assim em “Na Praia à Noite Sozinha”, onde a dor da atriz dava o tom; em “O Dia Depois”, em que o mal entendido produzia a comicidade no meio do drama. É assim, finalmente, em “A Câmera de Claire”, um filme de dramas a um tempo intensos e voláteis.

Transmitir uma visão ordenada do caos amoroso não é o menor dos méritos do cinema tão original desse cineasta.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.