Mostra em homenagem ao centenário de Athos Bulcão vai além dos azulejos

Exposição no CCBB-SP reúne 300 obras do artista que transformou a paisagem de Brasília

Obra do artista plástico Athos Bulcão exposta no Centro Cultural Banco do Brasil

Obra do artista plástico Athos Bulcão exposta no Centro Cultural Banco do Brasil Divulgação

Isabella Menon
São Paulo

“Só era difícil acertar como começar. Depois, ficava fácil. Era só colocar tudo invertido.” Em depoimento, o pedreiro João Alves do Santos conta a sua receita para assentar os azulejos de Athos Bulcão (1918-2008).

A fala do construtor integra uma mostra que homenageia seu mestre a partir de quarta-feira (1º/8), no CCBB-SP (Centro Cultural Banco do Brasil), no ano que se comemora o centenário do artista.

A regra do escultor era clara: os desenhos dos azulejos não podiam formar um círculo fechado. De resto, os operários eram livres para criar o que bem entendessem. 

Os painéis que os azulejos de Bulcão formam são comumente vistos como pano de fundo de reportagens sobre política, a exemplo do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. 

“Com um desenho muito simples, os azulejos permitem uma infinidade de desenhos, que fazem o nosso olhar ir escorregando”, afirma Marília Panitz, que assina a curadoria com André Severo.

Os azulejos se destacam pela modulação e grafismo com base nas formas geométricas. Hoje, estão presentes em vários pontos do Brasil, como no Memorial da América Latina, em São Paulo. 

Espalhados também nos tribunais de contas de Salvador, Vitória, Natal e Brasília —esta última também abriga um dos seus desenhos mais famosos: a Igreja Nossa Senhora de Fátima, conhecida por Igrejinha, projetada por Oscar Niemeyer. 

Na exposição, porém, os azulejos não são os protagonistas. Dividida em oito núcleos dispostos nos quatros andares do centro cultural, ela abriga 300 objetos, entre desenhos, pinturas, fotomontagens, capas de revistas, cenários de peças de teatro até lenços e figurinos para óperas. 

Um dos espaços é dedicado ao item que gera maior disputa entre colecionadores das obras de Bulcão: as máscaras que o artista começou a produzir quando foi morar pela segunda vez em Paris, em 1971.

Bulcão contava que as mascaras foram originadas após ele assistir à última cena do filme “2001 - Uma Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick.

A ala dedicada a essas peças se chama É Tudo Falso, uma referência ao desejo que ele tinha de fazer uma exposição com obras copiadas de outros artistas.

“Ele começou a fazer isso em um momento modernista em que havia uma discussão sobre a originalidade e que o artista não tem que se referir a ninguém, mas ele não ligava para isso”, diz Panitz. 

Bulcão passou os últimos quatros meses de vida fazendo um tratamento contra o mal de Parkinson no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde morreu aos 90 anos. 

Anos antes, o local foi um dos espaços que recebeu artigos do pintor. Ele costumava dizer que as obras que fez para o local, como ‘Lula’ (1997), estavam entre as suas preferidas, pois possibilitou levar felicidade a um ambiente comumente ligado à tristeza.


100 anos de Athos Bulcão
CCBB, r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. (11) 3113-3651. Seg. e qua. a dom. das 9h às 21h. De 1º/8 até 15/10

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