Música sertaneja, música caipira, sertanejo moderno. Qual a diferença de um para o outro? Zuza Homem de Mello diz que música sertaneja é a música do sertão —e sertão existe (ou existia) no Brasil todo.

Assim, há música sertaneja do Norte, do Nordeste, da fronteira, do Sul, etc. Música caipira seria então a música sertaneja do Sudeste, basicamente São Paulo e Minas, de onde se irradiou para o resto do país —mais numa direção, menos noutra.

Se a música sertaneja fosse um armário, a caipira seria uma de suas gavetas. Sertaneja ou caipira, uma condição básica é ter sua fonte (raiz) no mundo camponês, na roça. O chamado sertanejo moderno ou universitário não tem origem na zona rural. É manifestação urbana (ou suburbana) na sua temática e na sua pegada pop, vamos dizer. Faz enorme sucesso em várias camadas da população, mas só tem, da cultura camponesa, um pouco da forma (cantar em dupla, dueto em terça etc.)

"Viola Perfumosa" é um CD da música sertaneja mais pura, num registro de alto nível artístico, raiando em muitos momentos a música erudita. Os três intérpretes —Ceumar, cantora mas também violão, tambor e "bombo leguero" (em "Índia"); Paulo Freire, voz, viola caipira e "causos"; e Lui Coimbra, voz, violoncelo, rabeca e violão— muito ajustados e, na hora certa, fazendo duetos agradáveis e enriquecedores. Certas faixas têm músicos convidados, também de primeira linha.

As canções vão de Catulo ("Luar do Sertão") a Villa-Lobos ("Ó mana deixa eu ir..."); de Hervê Cordovil ("Calango-Ê", sobre colhedoras de café em Minas) a Luiz Vieira ("Coco do Mané"); da "Moda da Pinga" a "Tamba-Tajá", uma história com índios que levam consigo uma folha de árvore (tamba-tajá) que traz no verso um desenho com a forma do genital feminino.

O bom astral e o humor estão presentes ao longo das 13 músicas. "Horóscopo", de Alvarenga e Ranchinho, vai dando, mês a mês, razões para um homem não se casar.

A última faixa do CD, com introdução de "Chitãozinho e Xororó" (a música), vem com um texto apaixonado sobre Inezita Barroso ("Menina Ignêz", de Renata Grecco), a quem o disco é dedicado.

Uma queixa: o disco acaba logo, bem poderia ter umas três músicas a mais.

Caber, cabia...