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Álbum de remixes 'Castello Dança - Sintoma' fala direto ao corpo

Repertório é basicamente uma revisão de 'Sintoma', segundo disco de Castello Branco, porém com mais corpo

Thales de Menezes

Castello Dança - Sintoma

  • Preço Cerca de R$ 73 (plataformas digitais), R$ 70 (vinil).
  • Autor Castello Branco
  • Gravadora Sonido Trópico

Um álbum de remixes não costuma ser a melhor maneira de conhecer o trabalho de qualquer artista. Muitas investidas desse tipo deformam a música original. Mas, no caso de "Castello Dança - Sintoma", as novas versões dão bons indícios do que é capaz de fazer o cantor e compositor.

Porque a guinada na direção do som eletrônico exibida no disco não é das mais radicais. O repertório é basicamente uma revisão de "Sintoma", seu segundo álbum. Nele, o som de Castello Branco constrói uma atmosfera de tranquilidade, com instrumentação escassa, voz contida e letras introspectivas.

A pegada de seu canto esbarra em mantras, o que permite até uma comparação com as letras reflexivas de Walter Franco. As canções têm o vocal pontuado em violão e instrumentos acústicos que parecem chegar cheios de timidez, dando chance a uma conexão tênue com as baladas dos Secos & Molhados.

É o que a moçada nos anos 1970 chamava de "música de flautinha", encaixando nesse rótulo artistas com evidentes traços da cultura hippie em sua produção. É impossível não aceitar "hippie" como um adjetivo para o estilo de Castello Branco, e essa atribuição é positiva.

Com essa alma serena e letras discursando sobre espiritualidade, seria difícil que as canções migrassem para um bate-estaca eletrônico exuberante.

O que Castello Branco divulga agora como uma aproximação da música eletrônica é um conjunto de boas letras e melodias que ganham mais corpo, notadamente percussivo.

Mais do que o peso do som das pistas, talvez o que mais se destaque nessa transposição sonora é o caráter repetitivo da música dançante. Num trabalho que se assemelha a mantras orientais, essa repetição insistente das batidas acaba se adaptando de modo agradável.

Algumas músicas receberam apenas uma leve injeção de peso, como "Cara a Cara" e "Não Me Confunda". Outras, como "Coragem", chegam perto de ser outra canção. No caso dessa, são ótimas as duas versões, a do disco original e a do remix, bem resolvidas em suas diferenças.

O fio condutor da audição segue atado às letras. A simplicidade é certeira, como em "Cara a Cara": "Vê só/ Quem sorri bonito/ É que nasceu pra ser feliz/ Você sorriu/ É todo seu/ Todo amor". Ou em "Assuma": "Lá de onde eu vim não há dor que não passa/ Não tem tempo ruim nem conversa fiada/ Não há mal que não possa ter seu fim".

Suaves ou mais agitadas, as canções continuam servindo de moldura delicada aos versos. Talvez a sutil diferença seja que nas versões de "Sintoma" a atenção naturalmente se dirige à mente, enquanto "Castello Dança - Sintoma" fala direto ao corpo.

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