Descrição de chapéu

'Excelentíssimos', filme sobre o impeachment de Dilma, é uma decepção

Documentário não opta por recorte temático nem se fixa em personagens do processo

Naief Haddad
São Paulo

Excelentíssimos

  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Douglas Duarte
  • Estreia nesta quinta (22)

Dias antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara, em abril de 2016, o então deputado federal Jair Bolsonaro discursou na condição de pré-candidato à Presidência.

“Nós somos irmãos, somos iguais. Não venham com história de dívida [aplausos]. Não venham com história de coitadinho do negro, coitadinha da mulher, coitadinhos dos gays... É um país de coitadinhos.”

Que não se acuse o presidente eleito de incoerência. Dizia em 2016 o que defendeu ao longo de 2018.

O discurso de Bolsonaro é um dos trechos de “Excelentíssimos”, documentário que mostra o fortalecimento da bancada conservadora a caminho das eleições de 2018. Mas não é esse o tema central do filme de Douglas Duarte. 

Assim como “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, lançado em maio, “Excelentíssimos” se concentra nos fatos e articulações que antecederam o impeachment e no dia em que o plenário da Câmara aprovou o impedimento.

Logo nas primeiras cenas, o filme deixa claro seu ponto de vista. Segundo Duarte, houve um golpe em Brasília e seus artífices —Michel Temer, Eduardo Cunha, Carlos Marun, entre outros— queriam assumir o poder o quanto antes. 

A partir desse pressuposto, o ponto é: como o documentário se desenvolve? Nesse sentido, “Excelentíssimos” é, em grande parte, uma decepção. 

Diante de um processo político tão complexo e abrangente, o documentário alcançaria resultado mais efetivo se optasse por um recorte temático. Em vez disso, escolhe não fazer escolhas, o que implica alternar cenas do Planalto, do plenário e das comissões do Congresso, das ruas... 

Tampouco se fixa em alguns poucos personagens, o que permitiria maior compreensão do papel dessas figuras no embate. 

De um lado, há Dilma, Lula, o então vice-líder do governo na Câmara Silvio Costa, um líder dos agricultores etc. Do outro, nomes de MDB, PSDB e DEM, além da chamada BBB, as bancadas do boi (ruralista), da bala (segurança pública) e da Bíblia (religiosa) e mais um longo etc.

No afã de abarcar tanto, “Excelentíssimos” resulta superficial em um tema no qual não faltam nuances. 

Além disso, são diversas as reiterações. Para que mostrar tantas vezes os patos da Fiesp, a federação das indústrias de SP? Por que exibir 14 minutos de votação no Congresso? Sem um esforço de síntese, o filme se estende por duas horas e meia.  

Há méritos em “Excelentíssimos”, como o cuidado em mostrar o absurdo de um processo de impeachment conduzido por Cunha, àquela altura réu por corrupção política e lavagem de dinheiro.

É pouco, no entanto. O grande filme sobre o impeachment de Dilma ainda está para ser feito.

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