O ponto de partida veio da Filarmônica de Minas Gerais, que acaba de lançar um CD com obras de Alberto Nepomuceno (1864-1920); entre elas está a “Sinfonia em Sol Menor”, finalmente disponível em registro de excelência.
Totalmente dedicado a Camargo Guarnieri (1907-1993), o programa desta semana da Osesp será gravado —sob o comando de Isaac Karabtchevsky— para o mesmo projeto.
Idealizado há dois anos pelo Ministério das Relações Exteriores, "A Música do Brasil" inclui também a participação da Filarmônica de Goiás, que terá a incumbência de registrar as 14 sinfonias de Claudio Santoro (1919-1989).
No total serão cem obras sinfônicas de compositores brasileiros em 30 CDs a serem lançados até 2023, distribuídos nacionalmente pelo selo Clássicos e no exterior pela Naxos.
O primeiro CD da Osesp com obras de Guarnieri terá o “Choro para Flauta e Orquestra” (com solo de Claudia Nascimento), o “Choro para Violino e Orquestra” (com Davi Graton), o “Choro para Fagote e Orquestra” (com Alexandre Silvério) e a “Seresta para Piano e Orquestra” (com Olga Kopylova). Os solistas são integrantes da própria orquestra.
Guarnieri é um mestre do contraponto, e sua obra é mais cerebral do que as de Villa-Lobos e Mignone. Ele sempre impõe desafios aos intérpretes.
A sonoridade plena da flauta de Claudia Nascimento dominou a primeira obra, em que uma triste “levada”, contornada pelos tímpanos, é realizada por harpa e cravo. Belos uníssonos no terceiro movimento mostram o perfeccionismo artesanal do compositor.
Não é fácil obter transparência nos ritmos sincopados do allegro ritmado do “Choro para Violino”, que ainda precisam de mais fluência. Mas o controle do brilho sonoro do solista Davi Graton emocionou a todos, especialmente na melodia doce do "Calmo".
O caráter improvisatório do “Choro para Fagote” —última obra escrita por Guarnieri— cai perfeitamente bem para o virtuose Alexandre Silvério. Um ponto alto foi o contraponto “bachiano” entre fagote e cordas no segundo movimento.
Solada com energia e segurança pela pianista Olga Kopylova, a “Seresta” é obra de grande especulatividade harmônica, com frases urgentes e súbitas, mas os ritmos do “finale” (“Gingando”) podem ganhar mais leveza e swing.
O projeto de gravações já é um dos mais importantes da música clássica brasileira em qualquer tempo, e sua realização cuidadosa pode mudar substancialmente o desenho de nossa história: para o mundo, sem dúvida, mas antes de tudo para nós mesmos.
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