Viraram lenda no teatro paulistano as reações imprevisíveis do diretor Antunes Filho nos processos de criação de suas peças e nas atividades formativas do CPT (Centro de Pesquisa Teatral), escola que ele manteve desde os anos 1980 no Sesc Consolação.
Atores que trabalhavam com ele lembram, em muitas situações, suas broncas memoráveis. Algo que os fãs do diretor, morto no início de maio, poderão rever na série de documentários sobre seu trabalho que a Sesc TV exibe até o dia 20.
Claro que o aspecto folclórico relacionado à virulência de Antunes é só um assunto na extensa reconstituição que “O Teatro Segundo Antunes Filho”, com seis episódios, faz da obra deste que é considerado um fundador do teatro contemporâneo no país.
Ao mesmo tempo, seu perfil criativo estava totalmente colado ao ímpeto de demolir, com seus rompantes, as velhas estruturas ou os clichês da atuação.
“Se você começa a analisar Nelson Rodrigues de maneira freudiana você está fodido”, disse o mestre Antunes, em uma das entrevistas concedidas ao documentarista Amilcar M. Claro, que morreu em 2015.
Ele lançou “O Teatro Segundo Antunes” em 2002, costurando imagens de arquivo e entrevistas com Lígia Cortez, Luis Melo, Giulia Gam e muitos outros atores que passaram pelo palco de Antunes Filho.
Há, porém, dados desatualizados na série. Ela mostra, por exemplo, que Antunes iniciou uma montagem para “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna, mas depois deixou o trabalho de lado. Quatro anos após a estreia do documentário, Antunes enfim deu concretude ao projeto. “A Pedra do Reino” estreou em 2006.
Um das pérolas ditas pelo diretor ao documentarista está no quinto episódio, chamado “A Poética do Mal”, que vai ao ar no próximo dia 18. “Todos nós temos o mal dentro da gente, e precisamos colocar o mal no lugar certo, tornar o dragão que nos assusta uma coisa positiva”, disse.
“Se fala ‘não quero saber do mal, sou puritano’, esse cara é perigoso. Ele vai usar a força bruta para dizer que o bem tem que ser instituído na porrada”, afirmava. E era 2002 ainda.
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