Mostra revisita espírito travesso e multifacetado de Bruno Munari

Com mais de cem peças, retrospectiva examina carreira do italiano que teve êxito no trânsito entre arte e design

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São Paulo

Meias, cuecas, calça, camisa, escova de dente e uma escultura. O checklist ideal do artista e designer italiano Bruno Munari não dispensava uma obra de arte, encarada como uma maneira de dar um toque pessoal aos genéricos quartos de hotel.

Quem se entusiasmasse com a ideia não precisava se preocupar com espaço na bagagem. As misturas de origami e recortes idealizadas pelo italiano nos anos 1950 são dobráveis, portáteis. Disponíveis em tamanhos variados, podiam ser levadas em bolsas pequeninas ou espremidas em volumosos malões nas férias.

As "esculturas de viagem" são apenas algumas entre os 117 itens —desenhos, objetos, projetos e outros experimentos— reunidos na retrospectiva que o Museu da Casa Brasileira inaugura sobre Munari agora, em parceria com o Istituto Italiano di Cultura.

Com uma trajetória que acompanhou o século 20 —ele nasceu em 1907 e morreu em 1998, aos 90 anos—, Munari participou de importantes vanguardas na Itália, como o futurismo e o movimento de arte concreta, que ele ajudou a fundar.

Mas foi, sobretudo, um "pensador independente", afirma o historiador da arte Alberto Salvadori, conterrâneo de Munari e organizador da mostra.

Tanto é que não se contentou com as artes plásticas, tendo expandido sua produção para a pedagogia e o design.

Não que, como sugerem suas esculturas portáteis, Munari tenha seguido muitas regras em algum dos dois campos. Muitos dos objetos que criou desobedecem à máxima de que a "forma segue função" preconizada pela Bauhaus.

É o caso de sua cadeira "para visitas brevíssimas", cujas formas desconfortáveis têm como objetivo encurtar os encontros com pessoas inconvenientes.

"Ele era contra a arte sacralizada, envolta em uma aura", diz Salvadori. Nesse sentido, explica o historiador, o design foi a maneira que Munari encontrou de reaproximar a arte do público, de forma que os objetos do dia a dia fossem elevados à categoria de arte.

Apesar da seriedade da proposta, ela tende a vir acompanhada de boas doses de humor e de ironia nas obras do artista. Trabalhos como os idiomas inventados das "Escrituras Ilegíveis de um Povo Desconhecido" podem ser vistos ao mesmo tempo como um experimento de metalinguagem ou, diz Salvadori, uma piada.

O mesmo acontece com seus "Livros Ilegíveis", que abdicam do texto e de todos os outros atributos que costumamos encontrar nas publicações impressas. Em vez disso, Munari brinca com o esqueleto básico da publicação, encadernando, por exemplo, folhas coloridas de diferentes formatos

Livros, aliás, eram uma espécie de obsessão pessoal de Munari. Salvadori conta que seus títulos infantis, ricamente ilustrados, são lidos pelos italianos há três gerações.

As obras teóricas de Munari não ficam para trás, e o método de criação de projetos que ele cunhou ainda hoje é referência nas escolas de design. Nele, o artista disseca as etapas da solução de um problema.

É com o método de Munari, aliás, que Salvadori acha que mais temos a aprender com o italiano. "Munari não tinha preconceitos, só queria encontrar soluções. Agora, temos muitos preconceitos, e nenhuma solução."

Essa visão tem a ver com o subtítulo da mostra, "A Mudança É a Única Constante", afirma Salvadori. "Em movimento, não há tempo para julgamentos. É preciso ir em frente."

Exposições

Bruno Munari: A Mudança É a Única Constante no Universo

Espaços Culturais

Bruno Munari é reconhecido pelo trabalho como artista plástico, designer e pedagogo. Na mostra, são apresentados 117 trabalhos do italiano, com obras feitas desde os anos 1930 até o final de sua carreira, como edições raras de livros de arte e publicações infantis que renderam a ele o Prêmio Hans Christian Andersen, em 1947, além de experimentos que ele fez com luz em diferentes superfícies.

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