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Bienal de Arquitetura de SP mira democracia e reconstrução urbana

Próxima edição do evento será carregada de reflexões sociais sobre a vida contemporânea nas cidades

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Sabrina Fontenele

Diretora de Cultura e curadora do IAB-SP

Fernando Túlio

Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil - São Paulo (IAB-SP), é mestre em gestão e políticas públicas (FGV) e doutorando em planejamento urbano e regional (FAU-USP)

Karina Souza

Coordenadora da Bienal de Arquitetura de São Paulo

As primeiras décadas do século 21 ficaram marcadas como uma época de protestos públicos que demonstravam a importância da ocupação das ruas, e o caminhar coletivo se reforçava como instrumento de luta e de resistência contra as recessões democráticas.

“Caminhar não mudou o mundo, mas caminhar com outras pessoas tem se revelado rito, instrumento e armadura da sociedade civil que é capaz de resistir à violência, ao medo, à repressão”, sintetizou a escritora e ativista americana Rebecca Solnit.

Ninguém esperava, no entanto, que em 2020 o mundo seria marcado pela necessidade de reconstruir o caminhar coletivo a partir dos espaços domésticos e virtuais. O isolamento social exigido pela pandemia da Covid-19 criou cenas marcantes de parques, praças e ruas esvaziados, enquanto a crise habitacional se mostrou ainda mais emergente.

As desigualdades de classe, raça e gênero, que já limitavam a convivência e a circulação, ficaram ainda mais evidentes. Mas, desta vez, submetendo à circulação apenas os corpos socialmente mais vulneráveis e, ao confinamento, os mais privilegiados.

Questões relacionadas aos dados e sistemas de informação sobre a vida nas cidades —tanto o acesso quanto sua gestão— ganharam destaque na pauta, assim como o imperativo ecológico.

São tempos, entretanto, em que a solidariedade mostra sua força e em que despontam soluções inovadoras quanto ao planejamento e à gestão democrática. As bienais, como espaços de discussão sobre arquitetura e sobre cidade, têm problematizado essa questão.

A Bienal de Arquitetura de Chicago de 2019, por exemplo, teve como tema "...E Outras Histórias". Distribuída por toda a cidade, discutiu as narrativas sobre a construção, usos e ocupação dos espaços até então ignoradas, convidando visitantes e cidadãos a participarem do debate.

E, neste ano, as bienais de arquitetura de Quito ("Transformações") e de Tbilisi (“O Que Nós Temos em Comum") mantiveram suas agendas com exposições e atividades em formato remoto, também trazendo temas que tratam da vida coletiva e suas mudanças contemporâneas.

Em busca de radicalizar o papel da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo enquanto dispositivo capaz de organizar e dar visibilidade às agendas que apontam alternativas para esse contexto de mudanças, o Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo, o IAB-SP, busca envolver a sociedade na reflexão e na proposição de alternativas para o viver nas cidades.

Em 2022, a 13ª edição do evento receberá intervenções, discussões e reflexões sobre o tema na forma de experiências de ação em diferentes áreas da cidade. O núcleo da Paulista compreende o espaço público da avenida, que concentra atividades e equipamentos culturais.

Desde 2015, quando passou a ser fechada para carros aos domingos, se transformou em relevante espaço de convivência da cidade, além de se destacar pelas constantes manifestações, especialmente no vão livre do Masp, projetado por Lina Bo Bardi justamente como espaço de ocupação democrática.

Os núcleos em rede, por sua vez, são constituídos por territórios fora do centro expandido, cujas manifestações são muitas vezes invisibilizadas, embora sejam territórios de luta e resistência constantes. Nesses núcleos, a proposta é promover —com as comunidades locais, organizações sociais e o poder público— projetos participativos integrados de transformação urbana e social.

Há uma ligação essencial entre diversidade e resiliência e entre pluralidade e democracia, e o IAB-SP busca, com o arranjo pensado para a próxima edição da bienal, apresentar soluções sustentáveis para a nova vida urbana, como apresentado no site recém-lançado.

Além disso, o concurso internacional de cocuradoria para a 13ª Bienal, lançado em 4 de novembro, receberá propostas até 24 de janeiro do ano que vem. Apresenta a ideia de reconstrução como desafio e procura chamar a atenção não apenas da classe de arquitetos, mas da sociedade como um todo para uma reflexão-ação contínua sobre cultura urbana e arquitetônica.

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