Museu Britânico foi avisado de que joias roubadas eram vendidas no site eBay

Comerciante entrou em contato com a instituição ainda em 2021, de acordo com investigação do The New York Times

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The New York Times

Em 2021, o Museu Britânico foi alertado de que poderia haver um ladrão entre seus funcionários. Naquele ano, Ittai Gradel, um negociante de antiguidades da Dinamarca, entrou em contato com a respeitada instituição londrina com evidências que, segundo ele, mostravam que três joias das coleções do museu haviam sido oferecidas à venda no eBay.

Os funcionários do museu estavam cientes de que algo estava errado com um desses artefatos. Outro negociante, Malcolm Hay, entrou em contato para dizer que havia comprado uma das pedras, mas estava preocupado que ela fosse roubada. Ele devolveu a joia ao museu em maio de 2021.

O Museu Britânico, em Londres - AFP

O ladrão deve ter sido alguém dentro da instituição, afirmou Gradel em um email para o Museu Britânico que foi obtido pelo jornal americano The New York Times. Ele estava preocupado, acrescentou, que as três pedras fossem "apenas a ponta de um iceberg muito maior".

O Museu Britânico abriu uma investigação que chegou a uma rápida conclusão, de acordo com correspondências vistas pelo Times —que nada de irregular havia acontecido.

Jonathan Williams, diretor adjunto do museu, afirmou em um email para Gradel que "os objetos em questão estão todos registrados e não há sugestão de qualquer irregularidade por parte de qualquer membro da equipe do museu". Em outubro do ano passado, Hartwig Fischer, diretor do museu, disse a um curador que o assunto estava encerrado, de acordo com a correspondência. Gradel e Hay se recusaram a comentar o caso.

Agora, essa decisão parece estar voltando para assombrar o museu.

Na semana passada, o Museu Britânico anunciou em comunicado à imprensa que demitiu um membro não identificado da equipe sob suspeita de saquear joias da coleção e iniciou uma revisão de suas práticas de segurança. A força policial de Londres disse que está investigando.

Um porta-voz do museu se recusou na época a informar quantos itens estavam envolvidos, enquanto a investigação policial estava em andamento, mas o comunicado de imprensa afirmava que os itens roubados ou danificados incluíam joias de ouro e "pedras semipreciosas e vidro", algumas datando do século 15 a.C.

Na terça-feira, outro porta-voz se recusou a comentar a investigação do museu em 2021. "Essas questões estão sujeitas a uma revisão independente e também à investigação policial, portanto, não podemos comentar mais neste momento", disse ele, em um email.

A força policial de Londres disse em comunicado na terça-feira que não fez nenhuma prisão no caso.

Na semana desde que as notícias dos roubos vieram à tona, o caso tem sido alvo de intensa especulação na mídia britânica, com artigos diários conjecturando quantos artefatos foram perdidos e quem é o responsável.

Erin Thompson, especialista em crimes de arte no John Jay College of Criminal Justice em Nova York, disse ser incomum um grande museu tornar públicos detalhes sobre perdas internas. "Normalmente, isso é mantido em sigilo", afirmou. Ela disse esperar que outros museus sigam o exemplo do Museu Britânico e sejam mais abertos no futuro.

Outros especialistas disseram que o museu deveria ter agido com mais rapidez. Dick Ellis, ex-chefe da unidade de arte e antiguidades da Scotland Yard, disse estar chocado que o museu parecia ter tomado tão pouca ação nos dois anos desde o alarme ter sido levantado.

Para descobrir o que havia acontecido, Ellis disse, o Museu Britânico precisaria primeiro determinar o que exatamente desapareceu; então, a polícia precisaria obter registros do eBay ou de outros sites de leilão para conhecer detalhes sobre vendas completas ou tentadas.

Em seguida, acrescentou Ellis, a polícia precisaria entrar em contato com os compradores dos itens. Se algum comprador estiver fora da Grã-Bretanha, isso poderia dificultar as investigações.

Algumas investigações semelhantes duraram anos sem chegar a uma resolução. Em 2020, Dirk Obbink, ex-estudioso da Universidade de Oxford, foi preso sob suspeita de roubo e venda de papiros antigos. Ele foi libertado sem acusações, enquanto a polícia continuava a investigar, e um porta-voz disse nesta semana que não houve avanços recentes no caso.

Na semana passada, o Museu Britânico anunciou uma nova revisão independente, liderada por Nigel Boardman, ex-curador do museu, e Lucy D'Orsi, oficial de polícia britânica, para investigar os roubos e fazer recomendações sobre futuros arranjos de segurança. O porta-voz do Museu Britânico disse que a organização publicará os resultados da revisão, que está programada para ser concluída neste ano.

O museu também está buscando recuperar todos os itens perdidos. Ellis disse que isso poderia ser difícil se os artefatos foram vendidos há anos e passaram por várias mãos.

"Eu tenho simpatia pelo museu, tendo que cuidar de uma coleção deste tamanho", disse Ellis. Mas, acrescentou, "é responsabilidade do museu fazer isso".

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