Descrição de chapéu Gal Costa

Petição quer que Justiça transfira corpo de Gal Costa para cemitério no Rio

OUTRO LADO: Wilma Petrillo, viúva de Gal, não foi localizada pela reportagem para prestar esclarecimentos

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São Paulo

Uma petição pública online solicita a transferência do corpo de Gal Costa para o Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. Os signatários pedem que a cantora seja enterrada conforme o seu desejo, no mausoléu da mãe, Mariah Costa Penna.

A jornalista Rita Moraes, se dizendo conhecida da artista, é a autora da petição, que se tornou pública na manhã desta sexta-feira, dia 10, um dia depois que a morte de Gal, vítima de um infarto fulminante, completou um ano.

A cantora Gal Costa - Lucas Seixas/Folhapress

Endereçado ao Procurador-Geral da Justiça de São Paulo, o texto do abaixo-assinado requer, por consequência, a exumação do corpo da artista, enterrada no mausoléu da família de sua ex-companheira, Wilma Petrillo, no Cemitério Venerável Ordem Terceira Nossa Senhora do Carmo, na Consolação, região central da capital paulista.

A Folha tentou, mas não conseguiu contato com Petrillo. Para ocorrer o traslado para outro estado, é necessária a permissão de algum familiar para a exumação do corpo, além de uma série de documentos, como um alvará judicial para o transporte do corpo e autorização da Vigilância em Saúde Ambiental.

Pessoas próximas a Gal sabiam de sua preferência por ser enterrada no mausoléu da mãe. Por isso, o enterro em São Paulo, que seguiu as orientações de Petrillo, causou estranheza na própria família da cantora. Na época, a informação foi confirmada pelo irmão de Gal, Guto Burgos.

"Eu comprei um túmulo no [Cemitério] São João Batista em 1995, se não me engano. A Mariah já estava lá e ela pediu que fosse enterrada ali. É verdade", disse ele, sem entrar em detalhes sobre os motivos pelos quais a vontade de Gal não foi atendida.

Na biografia da artista, Mariah aparece como uma figura decisiva. Ela era a principal referência afetiva de Gal e também a incentivadora de sua carreira artística.

Assim como os fãs, Moraes, a autora da petição, estranhou também o modo como a despedida à cantora foi realizada, uma cerimônia pobre em simbolismos e sem homenagens. Não por acaso, ela diz ter criado agora o abaixo-assinado, que reacende a polêmica sobre o enterro, sem nenhum outro interesse senão honrar a memória da artista.

"Ao longo desse tempo, muitas coisas me incomodaram, como não tornar público a causa da morte e o velório em que os fãs ficaram distantes", ela afirma. "Gal está enterrada com parentes da Wilma, com pessoas com quem ela não tinha nenhuma relação."

Moraes esteve com Gal, pela primeira vez, na ocasião de uma entrevista. Desde então, as duas se viram em diversas ocasiões. Elas se encontravam no Terreiro do Gantois, em Salvador, em camarins antes das apresentações e em jantares de amigos em comum.

No período em que Gal morou na capital baiana, do fim dos anos 1980 até 2014, Moraes vendeu alguns shows da artista. Sabendo que os produtores tinham uma relação turbulenta com Petrillo, a jornalista tratava diretamente com Gal. Petrillo, ela conta, só aparecia no momento de assinar a papelada.

"Gal mudava na presença da Wilma. Ela era uma pessoa doce e serena, mas, diante da mulher, ficava tensa, nervosa", diz Moraes, lembrando que Gal nunca apresentava Petrillo aos outros. "Wilma ficava meio de lado, enquanto nós duas conversávamos."

Sete dias depois da morte da artista, Moraes se juntou a um amigo, o dramaturgo Cássio Junqueira, para uma visita ao túmulo no cemitério da Consolação. Chegando lá, os dois ficaram espantados com o abandono do local, que sequer tinha uma identificação, indicando onde a cantora havia sido sepultada.

"Ajudei, na época, na limpeza do mausoléu", lembra Junqueira. "Acho que é uma causa legítima, a que está sendo discutida agora nessa petição, era o desejo da pessoa que deve ser respeitado."

Em julho deste ano, a revista Piauí publicou uma reportagem, que iluminou a trajetória da viúva de Gal. De acordo com a reportagem, Petrillo sabotou a carreira artística da mulher durante as quase três décadas em que estiveram juntas.

Um mês depois, a Folha mostrou que um imbróglio judicial se formou em torno do espólio da cantora, tornando incerta a liberação de suas gravações e de sua imagem para novos filmes, mostras e peças teatrais. Petrillo também sabotava os direitos autorais de Gal.

Na quinta-feira, dia 9, quando se completou um ano da morte de Gal, as redes sociais foram tomadas por homenagens à artista. Uma delas foi escrita pelo cantor e compositor Caetano Veloso.

"É como se tivesse sido ontem. Emissão de voz que já era música antes de ela entrar nalguma música. Não dá para medir, não dá para entender. Já faz um ano que o mundo não tem Gal? Impossível aceitar."

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