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'Guerra Civil' mata sua premissa com violência selvagem e vazia

Filme com Wagner Moura e Kirsten Dunst mergulha no jornalismo de nação que se rebela contra suas autoridades

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Guerra Civil

  • Quando Estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny
  • Produção EUA, 2024
  • Direção Alex Garland

É difícil dizer se "Guerra Civil" pretende tirar partido de uma era em que guerras civis parecem prontas a estourar em todo o planeta ou se pretende apenas fazer uma exibição massiva de cenas de violência.

Na primeira hipótese, temos um filme voltado a questões atuais, em que inúmeras facções rebeldes parecem ter um só objetivo em comum: matar o presidente da República —depositário de problemas que nunca conheceremos.

Cena do filme 'Guerra Civil', de Alex Garland
Cena do filme 'Guerra Civil', de Alex Garland - Divulgação

Na segunda, temos imagens, quase todas familiares, de carros fugindo desesperados, acampamentos de desabrigados, cidades desertas, lugares inesperadamente bucólicos. Isto tudo que já conhecemos de muitos filmes de ficção científica ou não.

O que particulariza a empreitada é o acréscimo de um grupo de correspondentes de guerra. A fotógrafa Lee, papel de Kirsten Dunst, e o repórter Joel, vivido por Wagner Moura, a que vêm se juntar o simpático Sammy —Stephen McKinley Henderson—, veterano correspondente de guerra e a jovem e intrépida Jessie —Cailee Spaeny.

Jessie é grande fã, enorme até, de Lee. Jessie tem a força e a esperança dos pós-adolescentes. Fotógrafa amadora, tem um momento de êxtase quando o encontra. Só que ser fã não ajuda muito no meio de uma guerra que está por todos os cantos. Muito menos de Lee, que carrega nos ombros (e na expressão, sobretudo) o desgosto com o andamento sinistro das coisas nos Estados Unidos.

Os profissionais têm que chegar a Washington, capital do país. Jessie junta-se meio que de contrabando ao grupo, que dá carona a Sammy, que pretende ir até a Carolina do Norte apenas.

É um trajeto de mais de mil quilômetros, o que não seria tanto assim. Mas que mil quilômetros! Eles passarão por todos os tipos de atrocidades, carnificinas ferozes, enforcamentos sádicos etc.

Em cada ocasião, Jessie está com a câmera e pronta a correr riscos que seriam muito maiores caso Joel não estivesse pronto a puxá-la cada vez que ela se lança à linha de frente.

A estrutura da trama diz respeito a encontros geracionais. Temos aqui uma jovem que atravessa o caminho de Lee, ao mesmo tempo em que se diz sua fã, e mostra um ímpeto capaz de passar a mestra para trás.

Em vários momentos, Lee a observa com certa inveja, como a dizer "ela é como agora". Depois, a inveja se torna uma nostálgica lembrança de si mesma mais jovem. Joel é o protetor da menina. Ele é quem acolhe a garota quando Lee pensa na vida.

Uma terceira geração entra no jogo na pessoa de Sammy. Embora concorrente, ele se integra ao grupo e é quem melhor representa a figura paterna, a experiência. Esta compensa o que não tem de agilidade —sem contar o tratamento carinhoso (e eventualmente salvador) que dispensa aos outros da turma.

Não é, em princípio, um mau grupo. E correspondente de guerra (na escrita ou na imagem) é uma atividade pouco explorada e dramaticamente interessante.

O problema é o resto, que o filme preenche com cenas de violência em geral selvagem e com nenhuma relação com os heróis da história.

Uma cena parece bem-sucedida num todo no geral pouco interessante: aquela em campo aberto em que um soldado demente se dispõe a executar qualquer um que não lhe pareça americano o bastante.

Uma cena fracassa: a visita a uma cidade que pretende viver como se a guerra não existisse. Deve haver sugestão aí de certos comportamentos pacifistas radicais, mas o efeito é nulo. Ao estranhamento inicial da situação —nem tanto, cidades vazias em filmes de guerra não é coisa rara— se sucede a percepção de que a cena não tem nada a ver com nada.

Por fim, "Guerra Civil" sugere a dessacralização do cargo de presidente dos Estados Unidos, o que talvez seja o que tem de inusitado. Uma rebelião de tais dimensões contra o governo central dos Estados Unidos (talvez o erro tenha sido desativar o FBI, sugere alguém) chama a atenção para divisões internas de uma ordem nunca antes vista no país central do Ocidente.

Sabe-se que lá também as divisões internas são profundas e nem tão facilmente explicáveis. O filme não avança nessa direção, prefere fixar-se na atividade dos jornalistas, e também, por conseguinte, também neste caminho não avança.

Dá para ver? Dá. Leva-se alguma coisa do que se viu? Não que eu tenha notado.

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