Cursos online ajudam a tirar projetos de startups do papel

Formação inclui aulas sobre modelos de negócios e oferece encontros com investidores

Os sócios da startup Tuuris, da esq.:  Fellipe Soares, Douglas Teruya, Eduardo Tamaki e Fernando Esteves, em coworking em São Paulo
Os sócios da startup Tuuris, da esq.: Fellipe Soares, Douglas Teruya, Eduardo Tamaki e Fernando Esteves, em coworking em São Paulo - Rafael Hupsel/Folhapress
Paula Pacheco
São Paulo

Em busca de ferramentas para tirar seus projetos de startup do papel, empreendedores têm voltado às salas de aula. Cursos online dão hoje a base para que empresas desse tipo deem seus primeiros passos e consigam atrair investidores.

A plataforma de ensino online Udacity, desenvolvida com empresas do Vale do Silício, lançou especialmente para o Brasil um curso para fundadores de startup —empresas em estágio inicial e que buscam inovação, com potencial para crescer depressa usando novas tecnologias. 

A ideia de montar um curso com esse foco nasceu a partir da demanda que a direção da escola percebeu ao analisar o perfil de seus estudantes. A primeira edição teve 600 inscrições e 80 foram aprovados no processo seletivo.

“Existia uma oportunidade latente para empreendedorismo como um todo em nosso portfólio brasileiro. Esses alunos frequentemente mencionavam em nossas pesquisas que tinham o desejo de empreender no futuro ou já estavam a frente de um negócio próprio”, diz Renata Goldfarb, gerente responsável pelos cursos de negócios da Udacity.

Nos 16 módulos do curso online, com duração de 12 semanas, são apresentadas ferramentas para ajudar a construir uma startup: começa com a definição de objetivos para o empreendimento, passa pelo modelo de negócios, montagem da equipe, atração de recursos e preparação para o “pitch” (uma apresentação breve do projeto) a investidores em potencial.

Além da parte teórica, são realizados quatro projetos, revisados por especialistas. Todos também contam com sessões de mentoria individual online com especialistas do ecossistema de statups brasileiras, conta Renata. O curso ajuda, assim, a formar uma rede de contatos na área.

O curso para startups possibilita também aos projetos com melhores avaliações apresentarem suas ideias de negócios para investidores e programas de aceleração.

Também online é o curso gratuito lançado no ano passado Criação de Startups: Como Desenvolver Negócios Inovadores, dado em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Coursera, com duração de cinco semanas.

As disciplinas são oferecidas em português, e a ideia é que o aluno dedique de três a quatro horas por semana à atividade. São aulas teóricas, com apresentação de casos de startups bem-sucedidas.

Os fundadores da startup Tuuris, que nasceu em 2015 e liga pessoas interessadas em viajar a agências de turismo, foram atrás de um curso para ganhar uma base de negócios.

“Tínhamos uma experiência muito mais prática. No começo, colocamos a mão na massa e saímos fazendo. O curso ajudou a validar o modelo de negócios e a ter acesso a uma boa rede de relacionamentos profissionais”, diz Eduardo Tamaki, 31, formado em ciência da computação.

Uma das ideias que surgiram durante as aulas foi oferecer assinatura para as agências, que passaram a comprar créditos mensais para ter acesso aos clientes. Antes, o acesso à plataforma era gratuito. 

Por enquanto, são cerca de 600 agências cadastradas e 45 assinantes. Até maio de 2019, a previsão dos sócios é chegar a 500 assinaturas, o que deve levar o faturamento a R$ 100 mil por mês.

Eleita uma das dez melhores startups do curso da Udacity, a Tuuris foi selecionada para participar do processo de aceleração da WeWork Labs e hoje tem conversado com fundos de investimento na busca de aportes de recursos.

Nesses encontros, uma boa ideia não basta. De acordo com Romero Rodrigues, sócio do fundo de venture capital RedPoint Ventures, que é procurado por cerca de 1.400 startups ao ano atrás de recursos, é essencial ouvir os potenciais investidores, prestando atenção nas observações.

Também é recomendável que todos os sócios —pelo menos um dos quais deve ser especialista em tecnologia, base para uma startup— falem por tempo semelhante, mostrando que têm boa interação e preferindo falar em “nós” em vez de “eu”. “Se não souber jogar em equipe, não passa da primeira reunião.”

Para o coordenador do MBA de empreendedorismo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcus Quintella, cursos de capacitação voltados ao universo das startups são uma boa forma de aprender sobre fundamentos para gerenciar sua empresa. 

Mas ele recomenda que o empreendedor não fique preso ao passo a passo ensinado para ter uma boa gestão do negócio e busque também estudar casos práticos de fracasso.

“Casos de sucesso são apenas um em cada mil. Por isso é importante saber a razão de uma startup não ter dado certo, onde ela falhou, ainda mais em um momento em que tantas pessoas pensam em colocar de pé uma startup e a concorrência é crescente.”

Procurar empresas voltadas para empreendedores como Sebrae ou Cubo —centro para startups—, que também dão cursos para fundadores de startups, sem periodicidade fixa, é outro caminho.

Uma aula, porém, não resolve nada: é preciso reciclagem contínua. “Quem quer se tornar um empreendedor deve pesquisar o tempo todo para saber quando seu produto ou serviço deve evoluir e o que os concorrentes estão fazendo”, afirma Quintella.

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