Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Oposição na Venezuela tem 60% de apoio, indicam principais institutos

País está a uma semana das eleições presidenciais que opõem o ditador Nicolás Maduro do diplomata Edmundo González

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Buenos Aires

A somente uma semana das eleições presidenciais na Venezuela, as mais importantes da última década, os maiores institutos de pesquisa sugerem que, se houver amplo comparecimento às urnas e transparência no processo, a oposição sairá vencedora.

Os levantamentos mais recentes feitos pela empresa Consultores 21 e pelo Instituto Delphos, aos quais a reportagem teve acesso, indicam que, neste cenário ideal de participação democrática, o diplomata Edmundo González, candidato da oposição, tem 60% da preferência, ante uma média de 25% a 28% para o ditador Nicolás Maduro.

Apoiadora da oposição nas ruas de El Junco, na Venezuela, carrega cópia da cédula eleitoral que eleitores verão nas urnas eletrônicas para explicar os cidadãos como votar
Apoiadora da oposição nas ruas de El Junco, na Venezuela, carrega cópia da cédula eleitoral que eleitores verão nas urnas eletrônicas para explicar os cidadãos como votar - Adriana Loureiro Fernandez/The New York Times

São pesquisas realizadas em domicílio com mais de 2.000 pessoas e em todas as regiões do país. Este é um fator importante dado que, ainda que se proliferem os levantamentos online, 40% da população venezuelana não tem acesso à internet em suas casas.

Pesquisas telefônicas tampouco ajudam a ter um panorama acurado da realidade. No país, é muito comum que não se atenda a uma ligação telefônica de número desconhecido, uma vez que chamadas de dentro das prisões para extorquir cidadãos são cada vez mais rotineiras.

Os dois levantamentos indicam que mais de 70% da população local manifesta que tem vontade de comparecer às urnas neste pleito que ocorre após 11 anos de Maduro no poder e em meio a acusações de violação das regras eleitorais, com impedimento de missões de observação e inabilitação dos opositores mais notórios.

Mas o voto no país não é obrigatório. E o nível de participação daqueles 21 milhões de cidadãos com registro atualizado perante o Estado pode mudar muito o resultado do pleito do próximo domingo (28).

"A participação vai variar se a população compreender que a eleição será de fato competitiva ou se entender que não o será", afirma Saul Cabrera, o diretor da Consultores 21, que possui mais de 40 anos de atuação no mercado e não divulga publicamente os números de suas pesquisas uma vez que são encomendadas por clientes privados.

"Em 2015, os cidadãos viram que havia oportunidade de que seu voto de fato valesse. Já em 2018, com eleições parcialmente competitivas devido à inabilitação de opositores, a participação foi pequena."

Esses dois momentos são elucidativos. Em 2015, quando ocorreram eleições parlamentares, mais de 74% dos eleitores compareceram às urnas. A oposição levou a maioria das cadeiras naquele ano. Já em 2018, nas presidenciais, a participação foi de apenas 46%. Nos meses que antecederam o pleito, os principais opositores tiveram seus direitos políticos cassados por órgãos judiciais alinhados ao regime.

A pesquisa do Instituto Delphos sugere que, mesmo que mais de 2/3 dos eleitores digam querer participar do processo, a probabilidade alta de ir votar é maior entre os que se identificam com Maduro (68,1%) do que entre aqueles que se identificam com a oposição (48,4%).

Ainda com essa preferência dos maduristas, o líder da ditadura goza de amplo rechaço entre a população. Segundo o levantamento da Delphos, 68% dizem que jamais votariam em Nicolás Maduro.

Em teoria, o herdeiro de Hugo Chávez (1954-2013) foi eleito duas vezes. Maduro assumiu a Presidência interinamente em março de 2013 após a morte de Chávez e venceu no mês seguinte uma eleição por margem de 1,5% dos votos. A oposição, liderada por Henrique Capriles, contestou.

Após cinco anos —o tempo de mandato presidencial no país é de seis anos—, seu nome sai novamente vencedor nos resultados finais em 2018 em um pleito marcado por denúncias de fraude, boicote da oposição e abstenção daqueles 54% que não quiseram ir às urnas. Boa parte da comunidade internacional não reconheceu sua vitória.

Saul Cabrera afirma que o regime vem se mantendo no poder com "esquemas e engenharia eleitoral". "Desde 2010 o chavismo tem usado todo o poder do Estado para pressionar funcionários públicos a votar pelo regime e, por outro lado, fazer com que parte do eleitorado não queira participar no dia da votação."

Diante de tamanha incerteza, o 28 de julho vem sendo descrito como "apenas o primeiro passo" por líderes opositores. Todos temem que após essa data, passe o que passar, se instaure um novo período de incertezas e instabilidade de pelo menos cinco ou seis meses até janeiro, quando tradicionalmente ocorre a posse presidencial.

Maduro pode ter aberto a possibilidade de eleições após ampla pressão externa, mas não parece disposto a deixar o cargo.

Sua campanha começou na última semana a afirmar que a oposição tem um plano para não reconhecer os resultados eleitorais e que não há chances de que o regime não vença nas urnas. Para muitos analistas, trata-se de pavimentar o caminho para desacreditar qualquer reivindicação dos opositores ou da comunidade internacional.

Neste domingo (21), a campanha divulgou comunicado em que menciona pesquisas feitas em redes sociais e que apontam Maduro o preferido com mais de 70% dos votos. São levantamentos de metodologia desconhecida. Para Caracas, a oposição faz uma "guerra de levantamentos manipulados para inflar seus números".

O líder do regime chegou a dizer que haverá um "banho de sangue" caso não seja reeleito. Do lado da oposição, que diz que ganhará, pede-se uma "transição ordenada": que o regime aceite passar o bastão do poder em um cenário em que perca nas urnas no dia 28.

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