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12/09/2011 - 08h19

Após década turbulenta, EUA questionam reação aos ataques

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LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

É como se a névoa de pó e escombros que subiu naquela manhã de 11 de Setembro em Nova York encobrisse o país inteiro, e os segundos da queda das Torres Gêmeas ensurdecessem os Estados Unidos por dez anos.

Custou uma década, mas os tabus e as dúvidas que tomaram governo e sociedade com os atentados em Manhattan, no Pentágono e na Pensilvânia começam a se dissipar. O país de 11/9/2011 é mais cético que o de 12/9/2001.

Esse despertar é notado por gente da direita e da esquerda do espectro político, como Charles Kupchan, Robert Kagan e Joseph Nye; por ativistas desencantados e por uma população mais desconfiada do que ocorreu naquele dia e do que foi feito depois em nome dele.

O mundo é outro, sem dúvida, e a importância dos atentados já seria inegável mesmo que só para expor ao planeta --e revelar a si mesma-- as impotências daquela que reivindicou para si o termo superpotência.
Mas o quanto dessas transformações nasceu ali, e o quanto delas foi apenas catalisado pela tragédia --essa conta, em dez anos, mudou.

"O 11 de Setembro transformou a política externa americana por uma década, e só agora a forma de os EUA lidarem com o mundo está voltando ao normal", diz Charles Kupchan, pesquisador do Council on Foreign Relations.

"Quando examinarmos esse período o veremos mais como uma aberração histórica do que uma transformação histórica", afirma Kupchan, que integrou o Conselho de Segurança Nacional no governo Bill Clinton.

A ascensão chinesa já estava lá, bem como o avanço da América Latina (seja a emergência do Brasil, ou a onda de governos de esquerda) e a perda de peso político da aliada Europa.

Os EUA apenas demoraram a notá-los --vácuo hoje mais visto como acelerador, e não causador, do processo.

"Nunca me convenci da tese da apolaridade global, e não acho que a estrutura do sistema internacional tenha mudado tanto assim", afirma Robert Kagan, estrategista e colunista conservador que esteve no Departamento de Estado de Ronald Reagan.

"Às vezes, as pessoas, ao olharem para trás, veem um passado imaginário no qual os EUA podiam fazer tudo que quisessem, mas isso nunca existiu", completa.

Na alusão cabem os neoconservadores que dominaram os primeiros anos do governo de George W. Bush e desencadearam uma reação hoje amplamente vista como apressada e exagerada.

Não há consenso se esse lapso, no longo prazo, parirá um país mais introvertido ou mais aberto ao mundo.
Nesse espectro minúsculo de história, três pontos são dados como certos, por ora: o ápice do unilateralismo ficou em 2003, no Iraque; Barack Obama mudou a retórica, mas não corrigiu o rumo externo dos EUA; e são as limitações da crise econômica que ditarão o envolvimento americano no mundo.

DIREITOS CIVIS

Em dez anos, o que já se sabe ter sido afetado de forma duradoura é a maneira de os EUA se defenderem e tratarem suas vulnerabilidades.

Essa mudança de visão afetou o país em algo que o define: as liberdades civis, antes um paradigma social, cultural e político americano, foram afrouxadas.

Analistas alertam que isso prevalecerá --mais do que a radicalização política que costuma ser atribuída às divisões acirradas na última década, mas surgida antes.

O 11 de Setembro tornou os americanos mais lenientes ao atropelamento da Constituição pelo Executivo, à tortura, à supressão de direitos, à prisão sem acusação nem julgamento, a Guantánamo.

Tanta leniência culminou em desencanto, diz Medea Benjamin, uma das principais ativistas antiguerra dos EUA: "Passaram dez anos, e pouco conseguimos. As pessoas cansaram".

Mais pessimista é Michael Ratner, presidente do Centro para Justiça Criminal e defensor de parte dos detentos esquecidos em Guantánamo.

"Obama não mudou quase nada. Isso tornou a depravação da liberdade uma característica permanente de nosso sistema."

 

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