Descrição de chapéu machismo

Terapia e acolhimento são formas de minimizar impacto da violência

Redução de danos para a vítima deve começar já no processo de denúncia

Palestrante fala ao microfone
Cristiane Duarte, professora da divisão de psiquiatria da criança da Universidade Columbia (EUA) - Reinaldo Canato / Folhapress
Diana Lott
São Paulo

A diminuição dos danos sofridos pelas vítimas de violência é um caminho possível, segundo especialistas que participaram da segunda edição do fórum Exploração Sexual Infantil.

A reversão é uma realidade principalmente para as crianças mais novas, de acordo com a psicóloga Cristiane Duarte, pesquisadora da Universidade Columbia, nos EUA.

“Se a criança for colocada num ambiente familiar de alta qualidade, onde há interações benéficas entre pais e filhos, o impacto pode ser revertido. Há o que ser feito.”

Cristiane citou pesquisa feita na República Democrática do Congo em que meninas vítimas de exploração sexual passaram por 15 sessões de terapia em grupo. Elas demonstraram melhora nos sintomas causados pelas más experiências, segundo a pesquisadora.

O juiz Deomar Barroso afirmou que é possível reduzir os danos causados já no processo de denúncia da violência.

A Lei 13.431, sancionada em 2017, instituiu a chamada escuta especializada para menores vítimas de violência, mas o modelo ainda passa por implementação no país.

A legislação determina que a criança deve sofrer o mínimo possível de exposição, limita o relato ao necessário e estabelece um protocolo para assistentes sociais, policiais e funcionários do Judiciário. Além disso, proíbe o contato com o acusado e estipula que o depoimento seja feito com privacidade.

“O que vi nesses depoimentos é que o abusador entra na alma da vítima e rasga os sonhos dela. Viver sem sonho e sem esperança é a coisa mais angustiante que pode acontecer”, afirmou o juiz.

Barroso participou da implantação desse depoimento especial no município de Abaetetuba, no Pará, em 2009.

No evento, o professor Kendall Thomas, da Universidade Columbia, afirmou que o trauma provocado pela violência deixa marcas na família da vítima por anos. Ele contou que é fruto de um estupro, sofrido por sua mãe aos 15 anos.

“O drama moldou a percepção que minha mãe tinha de mim e a nossa relação. Tenho 61 anos e minha família ainda lida com esse evento danoso.”

Palestrante fala ao microfone
Kendall Thomas, pesquisador do centro para direito de gênero da Universidade Columbia (EUA) - Foto Reinaldo Canato / Folhapress

Educar é a forma mais eficiente de prevenção

A educação é uma grande aliada na prevenção contra a exploração sexual infantil, tanto na capacitação dos educadores como na retenção dos alunos em sala de aula.

Segundo os debatedores, escola e professores têm um papel importante na identificação e nas denúncias de abuso.

O Ministério dos Direitos Humanos prepara duas iniciativas com o Ministério da Educação, segundo Berenice Giannella, secretária dos direitos da criança da pasta.

A primeira é uma plataforma de capacitação dos professores no enfrentamento de violência. Os órgãos também planejam monitorar a presença em sala de aula para identificar casos de evasão.

Dois ambientes propícios à prática desse crime, estradas e grandes obras têm sido alvo de ações para repelir a incidência de violência.

A Polícia Rodoviária Federal, com a Childhood Brasil, mapeia pontos de exploração sexual nas estradas, como postos de combustíveis, auxiliando políticas preventivas.

As grandes obras, principalmente em regiões afastadas do país, são foco de preocupação. O deslocamento em larga escala de trabalhadores, em sua maioria homens, torna o ambiente suscetível a casos de exploração sexual.

Para Luciana Temer, diretora do Instituto Liberta, é imperativo que se exija a realização de um levantamento do impacto social, além do já obrigatório estudo de impacto ambiental dessas obras.

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