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Serafina

Ex-psicóloga faz sucesso com doces medicinais feitos de maconha

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Alison Draisin deixou de fumar cigarros de estranhos. Há cinco anos, ela tem sua própria plantação, com 45 pés de maconha, no jardim de casa, em Seattle. "Fiquei muito exigente, preciso saber quem plantou, quais nutrientes foram usados, se a água foi filtrada...", diz a ex-psicóloga americana, que virou especialista na planta e fundou uma premiada confeitaria de doces medicinais feitos com a erva.

"A polícia sempre passa de helicóptero, e eu dou tchauzinho enquanto eles contam minhas plantas", diz Alison, 43.

Brandon Hill
Alison Draisin - Serafina Novembro
A ex-psicóloga americana Alison Draisin, 43, prepara doces medicinais feitos com maconha

Pelas leis do Estado de Washington, onde a droga foi legalizada para uso medicinal em 1998 e para uso recreativo em 2012, ela pode ter 15 plantas. As outras 30 são de dois clientes-pacientes, cujas receitas médicas estão coladas na porta da casa.

Alison aderiu ao tratamento alternativo com a erva após um acidente de carro em 2002, seguido por uma cirurgia nas costas e dores contínuas.

Hoje, sua cozinha tem cheiro de bolo saindo do forno, mas uma fungada profunda no pote de manteiga revela seu ingrediente mágico: para cada meio quilo de manteiga, vão cerca de 60 gramas de maconha. Há também haxixe, concentrado da planta, triturado num pó verde como se fosse um tempero qualquer.

A cada semana, mais de 100 gramas vão parar em cerca de mil cookies de chocolate, bolinhos de baunilha com recheio de figo e barras de amendoim que formam o menu da Ettalew's, criada em 2010 e com distribuição em 40 lojas do Estado.

Por enquanto, só quem tem carteirinha médica pode comprar, já que ela não começou a vender para as ainda raras lojas de maconha recreativa (a única existente em Seattle abriu em julho).

"Não quero que tenham gosto ou cheiro de maconha, não quero que isso brilhe nos meus doces", ela avisa, de sandália de couro com os dedos sujos de farinha. "Uso muito cravo, canela e gengibre, ingredientes poderosos que mascaram a cannabis."

Alison, que há dois anos largou a psicologia após duas décadas de carreira, faz a ronda dos festivais nacionais sobre maconha dando palestras a respeito do consumo responsável da droga.

"A primeira coisa é reconhecer que comer não é o mesmo que fumar. Um baseado dura duas, três horas no organismo. Na comida, pode durar umas boas seis, oito horas. Você precisa estar preparado, limpar a agenda do dia", diz a chef. "Sempre digo, comece pequeno, espere uns 90 minutos e, se precisar, aumente a dose."

COME-DORME

Seu produto best-seller é uma barra que leva caramelo, nozes e coco, tem 240 calorias e custa US$ 8 (R$ 18). Uma das principais lojas de maconha medicinal da cidade, a Seattle Medical Marijuana Association, vende de 15 a 30 guloseimas da Ettalew's por dia, com destaque para os doces veganos.

"Os pacientes mais velhos gostam bastante", diz Jay Berger, 40, gerente da loja, que também come os doces para tratar sua insônia. "Graças à Alison, deixei de tomar drogas pesadas para dormir. Com meia barra, durmo por oito horas."

A barra de caramelo já ganhou duas medalhas consecutivas da edição nacional da Cannabis Cup, ou Copa da Maconha, organizada pela revista "High Times", especializada na erva. Alison virou até juíza do concurso na categoria "bubble hash", uma forma de fazer haxixe com gelo. Ela circula pelo festival com uma maleta com suas ferramentas, como cachimbos e óleos. "A mala assusta, os homens ficam intimidados com meu conhecimento. É difícil arranjar namorado nessa indústria", desabafa.

Alison fuma desde os 14 anos. Na época, sempre escondida dos pais. Hoje diz que a droga funciona como seu copo de vinho após um dia cheio.

Nem de longe ela lembra o estereótipo do maconheiro lesado. De fala rápida e discurso focado, conta que foi em 2009, quando um vizinho e um amigo da família sofriam com câncer terminal, que resolveu usar o livro de receitas da avó para criar os doces de maconha e tentar ajudar a aliviar a dor dos dois.

Um ano depois das primeiras fornadas, fundou a Ettalew's (nome dado em homenagem aos avós Ethel e Lou). "No começo, era muita tentativa e erro, acabava cozinhando chapada. Com o tempo, aprendi a não colocar o dedo na manteiga e a usar luvas", diz a chef.

"No início, meus pais não gostaram nada. E, agora, reclamam que só falo de maconha", afirma Alison. "Eles nunca fumaram, mas têm cabeça aberta. Meu pai é médico, tem problemas sérios no joelho e dei para ele passar uma loção de cannabis. Ele adorou e pediu mais no Dia dos Pais."

Dos 50 Estados americanos, 23 legalizaram o uso da droga medicinal e dois o uso recreativo. Com a legalização total da droga em Washington, nada mudou nos negócios ainda, apenas na sensação de liberdade.

"Tenho amigos de outros Estados, do Sul e da Costa Leste que acham que eu vivo em outro planeta. Eles têm medo de falar de maconha, vivem no armário. É muito estranho."

*

RECEITA: Bolinho vermelho da Alison (sem glúten, com maconha)

Reprodução
Alison Draisin - Serafina Novembro - Serafina 79
Alison Draisin - Serafina Novembro - Serafina 79

Recheio:

1 colher de chá de essência de baunilha
2 xícaras de açúcar de confeiteiro
1/2 xícara de manteiga de cannabis
230 gramas de cream cheese

passo a passo

Numa tigela, misture a manteiga e o cream cheese em temperatura ambiente até ficar cremoso. Adicione a baunilha e gradualmente acrescente o açúcar peneirado. Coloque num recipiente fechado na geladeira.

Bolo:

1/2 xícara de farinha de arroz integral
1/2 xícara de farinha de coco
1/2 xícara de farinha de sorgo (ou farinha de aveia sem glúten)
3/4 de xícara de polvilho
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de goma xantana
1/2 de colher de chá de sal
1/2 colher de chá de cacau em pó sem açúcar
1 xícara de óleo de canola com infusão de cannabis
2 ovos
1 1/2 xícara de açúcar refinado
1/2 de xícara de purê de maçã sem açúcar
1 xícara de buttermilk*
28 gramas de corante vermelho
1 colher de chá de essência de baunilha

Passo a passo

1 - Preaqueça o forno a 175°C. Unte e enfarinhe duas assadeiras de bolo redondas. Numa tigela, misture a farinha de arroz, farinha de coco, farinha de sorgo, polvilho, bicarbonato de sódio, goma xantana, sal e três colheres de sopa de cacau.

2 - Em outra tigela, bata o óleo de canola e o açúcar até misturar completamente. Adicione os ovos um de cada vez até que estejam totalmente incorporados. Junte o purê de maçã. Bata a mistura de ingredientes secos com os líquidos, alternando com o buttermilk. Acrescente o cacau restante, corante e baunilha. Misture até obter uma massa e a despeje nas assadeiras.

3 - Asse por cerca de 25 minutos. Espere esfriar antes de cortar em bolinhos. Coloque o recheio entre dois bolinhos, como num sanduíche. Coma com cautela!

*Para fazer o buttermilk, misture uma colher de sopa de suco de limão com uma xícara de leite integral e reserve por 30 minutos. O suco de limão vai deixar o leite com consistência mais grossa.

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