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Serafina

Com passado versátil, Carey Mulligan interpreta sequência de feministas

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Carey Mulligan jura se divertir com a armadilha que engendrou para si própria. A atriz inglesa de 30 anos, indicada ao Oscar em 2010 por "Educação", encarnou no cinema, desde então, a fragilizada Irene ("Drive"), a desesperada Sissy ("Shame"), a enigmática Daisy ("O Grande Gatsby") e a agridoce Jane ("Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum", dos irmãos Coen).

Papéis que afirmaram uma versatilidade profissional devidamente celebrada por diretores, colegas e público. Mas, decidida a subverter a fama de camaleoa, as duas personagens que emendou no cinema neste ano têm mais semelhanças do que diferenças, às voltas com desejos, conquistas e estigmas ligados ao avanço dos direitos das mulheres desde a virada do século 19.

Chris Pizzello
Uma feminista após a outra - Em dois filmes deste ano, atriz Carey Mulligan encarna personagens engajadas na mesma luta: direitos iguais para as mulheres #serafina93
Carey Mulligan encarna personagens engajadas na luta de direitos iguais para as mulheres

A atriz brinca que, ao olhar para a dupla da ficção, poderia repetir a resposta pronta: "Que nada, nenhum personagem é igual ao outro". Mas aí ela não seria Carey Mulligan. "Não pensei duas vezes em encarnar uma feminista após a outra. Se acharem que estou me prendendo a um nicho, este é, de qualquer forma, o melhor que poderia ter encontrado", aposta a inglesa.

"Feminismo se tornou uma palavra feia, gasta, com conotação negativa. Mas a defesa da igualdade, de oportunidades no trabalho e dos direitos civis é uma responsabilidade tanto dos homens quanto das mulheres."
As moças valentes do cinema são as protagonistas de "As Sufragistas", que estreia nesta quinta (24), e de "Longe Deste Insensato Mundo", lançado no Brasil diretamente em DVD.

Em "As Sufragistas", na Londres do começo do século 20, ela é a lavadeira Maud, personagem criado a partir da biografia de várias trabalhadoras reais que se juntaram ao movimento pelo direito do voto das mulheres britânicas.

Coestrelado por Meryl Streep e Helena Bonham Carter, o longa é dirigido por Sarah Gavron ("Brick Lane"), cuja ambição era a de oferecer luz a um movimento social negligenciado até então pelo cinema.

"Maud é inicialmente ignorante em relação ao movimento que acontece ao seu redor, mas percebe aos poucos o significado do direito ao voto e se junta a mulheres e homens em um momento inédito para a sociedade britânica até então, com a comunhão entre pessoas de todas as classes sociais em busca de um objetivo comum", afirma Carey à Serafina.

A atriz revela que também se surpreendeu com o tamanho do sacrifício imposto às feministas de então -muitas delas encarceradas e torturadas pelo Estado. No filme, Maud marcha ao lado de figuras como Emily Davison, presa por nove vezes e conhecida por suas inúmeras greves de fome, além de Emmeline Pankhurst (1858-1928), uma das mulheres mais emblemáticas do feminismo inglês, interpretada por Meryl Streep.

Não foi só no cinema que a atriz encarnou ideais feministas. Depois de temporada de sucesso em Londres, Mulligan entrou em cartaz na Broadway no primeiro semestre na elogiada nova montagem da peça "Skylight", escrita em 1997 pelo inglês David Hare (roteirista de "As Horas" e "O Leitor"), agora dirigida por Stephen Daldry ("Billy Elliott").

Por sua Kyra, alvo de um homem casado com quem teve um romance -e que passa a tentar voltar a vê-la depois da morte de sua mulher-, ela foi indicada ao Tony de melhor atriz.

*

INSENSATO MUNDO
Feminismo não era lugar-comum quando o romancista inglês Thomas Hardy (1840-1928) escreveu, em 1874, "Far From The Madding Crowd". Na adaptação do livro -"Longe Deste Insensato Mundo"-, Carey vive Bathsheba Everdene. A heroína da trama é considerada por críticos literários do mundo todo como uma das primeiras personagens feministas da literatura em língua inglesa. Rebatizado de "Longe Deste Insensato Mundo", mesmo título da produção de 1967, em que Julie Christie tinha o papel principal, a nova versão, sob a batuta do dinamarquês Thomas Vinterberg ("Festa de Família"), é mais fiel ao livro do que ao clássico dirigido por John Schlesinger (1926-2003).

Coincidentemente, a feminista Pankhust e o romancista Hardy morreram no ano em que o direito ao voto a todas as mulheres com mais de 21 anos foi finalmente referendado pelo Parlamento britânico, resultado do movimento iniciado em 1872, dois anos antes da publicação de "Far From The Madding Crowd". No fim de "As Sufragistas", a audiência recebe a informação de quando as mulheres puderam enfim votar nos principais países do globo, incluindo o Brasil, que regulamentou o direito ao sufrágio feminino em 1932.

"Bathsheba e Maud são, para mim, duas facetas igualmente importantes da luta feminista: uma vista pela ótica do indivíduo, a outra pela da pressão social", diz a atriz.

No papel, as afirmações de Carey parecem mais dramáticas do que ao vivo. A mulher do músico Marcus Mumford, da banda folk-pop Mumford & Sons, com quem vive em West London ao lado da filha dos dois, Evelyn, de três meses, parece buscar no interlocutor uma mescla de plateia privilegiada e companheiro de diversão.

Combinação traduzida no som gutural, engraçado e assustador, mais reflexo do que resposta a uma questão nem tão hermética assim: se ela, do distante século 21, encontrou partes da Carey de carne e osso em personagens, cada qual a seu modo, tão à frente de seu tempo.

ASSISTA AO TRAILER DE "AS SUFRAGISTAS":

Vídeo

Ela percebe a surpresa do repórter e se apressa em se explicar: "No caso de Bathsheba, jamais trilharia os mesmos caminhos da personagem, sejam os amorosos, sejam os relacionados à administração de sua fazenda. E a Maud, por sua vez, só descobre quem de fato é durante a militância política".

Três séculos atravessam Carrie Mulligan ao se dividir, pela ordem cronológica, entre Bathsheba, Maud e a Kyra de "Skylight". "As roupas de época podem esconder a contemporaneidade dos dois filmes. Mas essas mulheres se mostraram abertas para o futuro em momentos históricos mais difíceis que os de hoje", reflete.

Daí o interesse da feminista em retratar o nascimento e o desabrochar da mulher moderna, interessada em exercer plenamente sua independência financeira e sentimental. Um ser humano que, nas palavras de Mulligan, "não vê mais sentido em ser controlado por ninguém além de si mesma".

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