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Serafina

'Shakira do Curdistão', cantora pop desafia o Estado Islâmico no Iraque

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É meio-dia em Erbil, Iraque, e a cantora Helly Luv traz boas notícias. Não é um disco de ouro ou um single nas paradas de sucesso. A popstar, que a mídia internacional apelidou de "Shakira do Curdistão" —comparação que ela própria descarta-, celebra a retomada da cidade iraquiana de Sinjar, até então dominada pelo Estado Islâmico. "Depois de um ano, a população dessa cidade finalmente está segura", contou à Serafina, por telefone.

Helly, ou Hellan Abdullah, 27, nasceu em uma região curda no Irã. Os curdos se espalham também pelo Iraque, Síria e Turquia e há quase cem anos lutam por um Estado independente.

Safin Hamed
Helly Luv por Gabriel Marchi - Pop Porrada - conhecida como a 'shakira do curdistão', cantora Helly Luv vai ao front de batalha no Iraque para pegar em armas e microfones contra o avanço do Estado Islâmico - A cantora Helly Luv na cidade de Erbil, na região curda do Iraque#serafina93
Apelidada de 'Shakira do Curdistão', Helly Luv canta contra o avanço do Estado Islâmico

Como refugiada, cresceu na Finlândia, onde estudou música. Aos 18, partiu para Los Angeles, onde começou sua carreira. Mas suas raízes étnicas e o surgimento do conflito deflagrado na Síria e agravado pela entrada em cena do Estado Islâmico falaram mais alto.

Erbil é a capital do território curdo no Iraque e cidade de economia vibrante antes da guerra (que já matou cerca de 250 mil pessoas). Foi lá que Helly gravou os clipes de "Risk it All" e "Revolution", em meio a tanques, armas e soldados. A mensagem era clara: independência para o Curdistão e oposição armada ao Estado Islâmico. "Eu não havia planejado uma carreira tão politizada e agressiva", diz. "Mas, quando a guerra começou, não pude ficar em silêncio; sou curda e o conflito do meu povo se refletiu na minha música."

Seus clipes foram vistos mais de 7,5 milhões de vezes no YouTube e incomodaram líderes do Estado Islâmico. Hoje, Helly faz parte da lista de procurados do EI e sua cabeça foi posta, literalmente, à prêmio. A artista se alterna entre os holofotes e as sombras: não frequenta lugares públicos e nunca divulga sua localização exata.

"Minha vida mudou radicalmente depois das ameaças de morte, mas foi um risco que assumi conscientemente", diz. Em 2015, a cantora entrou para a lista dos cem pensadores mais importantes da revista "Foreign Policy", pela exposição que conferiu à sua origem curda.

Os curdos são uma peça essencial da ofensiva elaborada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico.

Já a Rússia e o Irã lutam contra a organização terrorista ao lado do regime de Bashar al-Assad. Muçulmanos de maioria sunita, o povo curdo tem sua história marcada pela igualdade de gênero, com forças militares comandadas por mulheres e tropas exclusivamente femininas.

OUÇA "RISK IT ALL":

Veja vídeo

"Desde pequena eu via fotos da minha mãe usando vestimentas tradicionais e achava fascinante, queria dividir a história dessas mulheres com o mundo", relembra."Elas amamentam seus filhos em casa durante a noite e, de dia, marcham para o front de batalha ao lado dos homens", relata.

Para Katherine Brown, pesquisadora de questões de gênero no universo islâmico do King's College, em Londres, é importante desmontar o mito de que todas as sociedades muçulmanas oprimem as mulheres, o que não é o caso da cultura curda. "Isso quebra estereótipos", diz, "além de expor o fato de que o Estado Islâmico tem como política prioritária a exclusão e opressão das mulheres". Ela ressalta ainda que é importante divulgar narrativas alternativas à propaganda do EI. "A música é bastante forte nesse sentido, principalmente para os jovens, pois estabelece uma conexão com o lado emocional", afirma.

A cantora, que diz ter Michael Jackson como sua principal influência, não usa meias palavras quanto à música pop atual. "Sinto que o pop não tem mais mensagem, são músicas sobre roupas e namorados", afirma. Ainda no mundo ocidental, Helly atribui a crise de refugiados à omissão da comunidade internacional: são milhões de refugiados apenas no conflito sírio. "Por três anos, pedimos armas e apoio humanitário para lutar contra o Estado Islâmico, que tem armamento mais moderno que o nosso", diz. "Não é uma surpresa que, sem essa ajuda, as pessoas fujam buscando a sua própria segurança."

Mesmo equilibrando a gravação de um disco, de lançamento planejado para junho de 2016, com o trabalho humanitário, Helly não descarta a possibilidade de lutar diretamente contra os extremistas. "Eles estupram, matam, torturam. Temos de lutar, é a única opção", afirma. "Se você não tem algo por que viver e por que está disposto a morrer, qual a razão para estar neste mundo?"

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