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Serafina

Melhor atriz em Gramado, Andréia Horta sonhou com Elis por meses

Dilvugação
Andreia Horta, 33, que realizou seu sonho ao interpretar Elis Regina no cinema
Andreia Horta, 33, que realizou seu sonho ao interpretar Elis Regina no cinema
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A cinebiografia "Elis" foi exibida pela primeira vez para o público no Festival de Gramado. Os 1.100 lugares do Palácio dos Festivais estavam lotados para a sessão, que abriria a mostra competitiva, na noite de 27 de agosto.

Após a última nota de "Velha Roupa", música que fecha o longa-metragem de Hugo Prata, a plateia ficou no mais absoluto silêncio. Ninguém se levantou. A não ser a protagonista, que estava na sala, acompanhada pelo pai, e foi assolada por ansiedade incontrolável.

"Foi me dando um suor, foi me dando um desespero", diz Andréia Horta, 33. Ela então decidiu: "Bora, pai, bora! Fracassei, fracassei, vamo embora". Os dois se levantaram no momento em que a luz foi acesa e o público se levantou para aplaudir. Dias depois, ela levaria o prêmio de melhor atriz por um papel que já era dela há muito tempo.

Pelo menos em sua cabeça.

Corta.

Dezenove anos atrás, quando era adolescente, Andréia viu uma foto de uma cantora da época dos seus pais. Ela tinha o cabelo cortado "à la garçonne", como Mia Farrow nos filmes de Woody Allen. Sem saber quem era Elis Regina, a atriz passou anos em Juiz de Fora (MG), onde cresceu, com o cabelo Joãozinho inspirado pela ousadia da cantora.

Aos 19 anos e já estudando teatro em São Paulo, onde faria parte do grupo Teatro da Vertigem, ela se deparou com uma biografia de Elis, escrita por Regina Echeverria. "Foi uma cabeçada. Um encontro com uma força da natureza."

Foi aí que passou a mentalizar: um dia interpretaria a cantora, que viveu de 1945 a 1982. "Comecei a mandar isso para o universo." E para amigos. Falou com um conhecido, produtor de teatro, do desejo íntimo. No dia seguinte, ele ligou e se ofereceu para ir a campo encontrar alguém que estivesse fazendo uma peça sobre a cantora. Ela disse que ainda não era hora.

Anos depois, já trabalhando para a Rede Globo e morando no Rio, leu que a vida de Elis viraria um filme. Levou o tema para a sessão de análise, e achou que pararia por aí. Por pouco não parou. Saiu para jantar com um colega no Leblon na mesma semana. Ele encontrou a sua melhor amiga, Patricia Andrade, que fez o roteiro do longa com Nelson Motta. Patricia sentiu "um ar" de Elis na jovem, e ligou para o diretor Hugo Prata.

Hugo e Andreia se encontraram no Forte de Copacabana para tomar um café. Mas ela não foi com o intuito de pedir o papel. "Vim saber qual é o seu filme, para ver se quero fazer parte dele", disse ao diretor, que relembra a história aos risos.

Ele já a conhecia da série "Alice" (2010) e queria trabalhar com ela. Anos se passaram até a verba para o filme sair. Mas, quando a parceria finalmente ia se concretizar, havia uma novela no meio do caminho, e as agendas colidiam. Ela saiu do projeto e ele teve que abrir testes com outras atrizes.

Meses se passaram de novo até Andréia sair da escalação do folhetim. "Tive que chamar ela para fazer teste, ou seria injusto com as outras", diz o diretor. Ela foi para a audição caracterizada. Ganhou o papel com que sempre sonhou, diz o diretor, "no silêncio, no olhar".

DE NOVO, ELIS

É em silêncio que Andréia entra no Papo Pinga e Petisco, bar da praça Roosevelt onde em 1964 funcionava a boate Djalma's, primeiro lugar em que Elis se apresentou em São Paulo. A cantora gaúcha moraria ali perto por anos.

A atriz parece menor na vida do que na tela –qualidade peculiar a quem domina seu ofício. Acabou de cortar o cabelo, que estava na altura do ombro para a novela histórica "Liberdade, Liberdade", que chegou ao fim em agosto. Trocou o estilo batidinho de Elis por um corte enviesado. Mas ainda há na sua cabeça ideias idênticas às da cantora.

No filme, Elis prevê que uma ditadura cultural viria depois da Ditadura Militar. E que seria pior. "Meu amigo, eu concordo. Não vou dizer que a de hoje é pior, porque toda censura é uma merda, mas é ruim", diz Andréia, que é contratada da Globo. Mas tem consciência de classe. "Sei que 1% dos artistas conseguem viver do seu trabalho, se muito."

Trabalha como uma operária da arte. Emendou as gravações do longa com as da novela, que classifica como "atletismo emocional". Na reta final, teve de ser afastada por ordem médica. A imprensa falou em esgotamento. "Não foi estafa. Tive a primeira crise de labirintite da minha vida. Era por cansaço mental."

Pela primeira vez em dois anos está sem personagem. "Não tô ansiosa não. Eu amo trabalhar, mas é preciso saber lidar com a pausa." Faz parte da labuta para si mesma viajar sozinha. Já desbravou, em viagens solo, Cuba, Áustria e França. "Esse foi o primeiro fim de trabalho que não deu para ir viajar imediatamente."

O filme nem estreou (entra em cartaz em 24 de novembro), mas a imprensa televisiva já dá como certo que será ela a interpretar Elis numa série de dez capítulos que a Globo deve gravar em 2017. Perguntada se o papel será de novo dela, Andréia faz silêncio. Sorri. E sai pela tangente: "É prematuro falar. Mesmo".

Da primeira vez que nos encontramos, no set de filmagem em agosto de 2015, ela começou a verter lágrimas segundos após começar a falar de Elis.

"Eu penso tanto nela que sonho com ela todo dia", disse, à época.

O mercado imobiliário dos seus sonhos já tem outros inquilinos, mas falar de Elis Regina ainda traz algo. "Ela me emociona. Sempre vai."

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