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Serafina

Esporte dos Matarazzo, polo se profissionaliza no interior de SP

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Este texto foi originalmente publicado na Serafina de agosto de 2010

Garota Negra -uma égua- acordou na manhã de sábado, 21 de agosto, sob a égide de paparicos dedicada às estrelas. Comeu alfafa, repousou à sombra e, ao meio dia, acompanhada das colegas de plantel, chegou ao Helvetia Polo Country Club, para a final do 54º Campeonato Brasileiro de Polo. À sua frente estava o campo onde ocorreria a disputa. Ao lado, os equinos que caberia derrotar.

Com o auxílio de dois tratadores, Garota Negra foi paramentada com sela, rédea e caneleiras, para proteger os tendões. Às 15h, entrou em campo com seu time perdendo por 3 a 2. Às 16hs, quando saiu, ajudara a consolidar um placar favorável de 13 a 5. A égua não sabia, mas, naquele momento, carregava no peito os títulos de campeã brasileira -glória dividida com outros 30 equinos e quatro humanos do time- e de melhor animal da competição -mérito e louro exclusivos dela.

O Brasileiro de 2010, disputado em Indaiatuba, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, contou com onze times, 44 jogadores e 400 cavalos na divisão de elite. Jogando pela equipe Invernada, do empresário José Eduardo Diniz Junqueira, a égua laureada fechou com chave de ouro a campanha iniciada duas semanas antes, com uma vitória sobre o São José Polo (pertencente a um Matarazzo), e finda naquela tarde, com a goleada sobre o Maragata (que tinha, entre seus jogadores, um Klabin). Se transposta ao universo empresarial, Garota Negra teria lançado o país em uma crise econômica.

SANGUE AZUL

Para além dos sobrenomes pomposos (ou, possivelmente, em função deles), o Brasil é tido, hoje, como uma potência mundial do polo -à grossíssimo modo, um futebol jogado com tacos, sobre cavalos. O país possui uma confederação, um comitê de avaliação de jogadores (eles são divididos em categorias) e 21 campeonatos anuais. Quatro times têm patrocínio da Audi, Itaipava, Azul ou do banco Pactual.

O Maracanã do esporte é o Helvetia Polo Country Club, em Indaiatuba, cidade que concentra 40 campos, dezenas de times e milhares de cavalos (para evitar o transporte de animais, os praticantes de polo tendem a se reunir sempre na mesma área). Em 2011, o Helvetia vai sediar as eliminatórias para a Copa do Mundo de Polo, a ocorrer no mesmo ano na Argentina, que está, para o Polo, como a Europa para o futebol. Dos oito mundiais disputados até hoje, o Brasil venceu três. Em importância no cenário internacional, perde apenas para os "hermanos".

O polo, assim como o futebol, chegou ao país no começo do século passado, por intermédio de ingleses que aqui aportaram para a construção das ferrovias. Em 1927, ocorreu, na Sociedade Hípica Paulista, o primeiro torneio oficial, que contou com as equipes da Força Pública e do Orlândia Polo Clube. Como o esporte era desconhecido, o regulamento precisou ser publicado nas páginas do jornal "Correio Paulistano", ensinando que "os cavalos podem ser de qualquer altura", que "o campo completo não deve exceder 275 metros de comprimento" e que "o peso máximo da bola é de 156 gramas".

As normas, desde então, são basicamente iguais. Uma partida é dividida em seis tempos de sete minutos. Cada time conta com quatro jogadores, e cada jogador, com um mínimo de seis cavalos -um para cada tempo. Um equino de qualidade -como Garota Negra- pode disputar dois tempos por partida (na final, ela entrou na segunda e na sexta etapas). Mais que isso impossível, por risco de contusão.

Via de regra, o esporte é disputado com éguas da raça puro-sangue inglês (à diferença de cavalos, os equinos do sexo feminino não precisam ser castrados para mostrar docilidade). Uma boa égua reune três características: obediência, velocidade e placidez. Um bom jogador, outras três: cabelo liso, tez alva e nome no diminutivo. Entre os principais atletas, há um Ricardinho (Mansur), um Fabinho (Diniz Junqueira), um Pedrinho (Zacharias) e dois Robertinhos (Souza Aranha e Villa Real).

Cavalos de polo, a exemplo de atletas, descansam na segunda, treinam de terça a sexta e trabalham nos finais de semana. O auge profissional ocorre dos seis aos dez anos, idade em que chegam a pesar 600 quilos e valer R$ 50 mil (como um bom time precisa ter ao menos 40 cavalos, chega-se ao valor base de R$ 2 milhões para ingressar no esporte). Pedro Bordon, presidente do Helvetia Polo Country Club, diz que o animal é como carro de Fórmula-1: "Coloca o Schumacher no carro do Bruno Senna, e ele larga em último". No Brasil, a égua a atingir o preço mais alto foi Tarsila, comprada em maio deste ano por Lica Diniz, cunhada de Abílio Diniz, por R$ 150 mil.

CLASSE AAA

Embora não tenha chegado à final do Campeonato Brasileiro, o bicho papão do esporte, atualmente, é o São José Polo, equipe do empresário José Eduardo Matarazzo Kalil, 43, parente em terceiro grau da ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. "Dos 27 campeonatos que disputei nos últimos três anos, ganhei 26", ele se apressa em dizer (não há prêmio em dinheiro para os times campeões).

Dono de uma empreiteira, Kalil se orgulha da compra de um terreno de 3 milhões de metros quadrados em Indaiatuba, onde pretende construir 120 casas e quatro campos ou, segundo conta, "um condomínio triplo A, totalmente voltado ao polo." Não é seu único investimento. Ele é dono também de uma revista bimestral -a "São José Polo"- e do plantel mais valorizado, com cem cavalos divididos entre Brasil e Argentina (onde costuma ficar três meses por ano, para participar dos campeonatos locais).

Desde 2009, sua equipe tem patrocínio da Audi, cuja logomarca adorna sela e camisa dos jogadores. Leandro Radomile, diretor comercial da montadora, diz que "o casamento é perfeito": "Queríamos patrocinar um esporte de nicho. Só que o golf já era terreno da BMW, o tênis, da Mercedes e a regata, da Volvo. O polo veio a calhar: vimos que era viril e sofisticado." Ele diz não mensurar o retorno em unidades vendidas: "Agora, em imagem de marca, sim. Já vi torneio com trânsito de helicóptero." Segundo estimativas, a Audi investe R$ 1 milhão por ano no esporte. "Dá para cobrir metade das despesas", diz Matarazzo Kalil, antes de completar: "Mas parei de fazer essa conta faz tempo".

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