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Kevin Roose

Com inteligência artificial, Bing supera Google e torna a pesquisa interessante novamente

Nova tecnologia ajuda buscador a responder às perguntas dos usuários e conversar com eles sobre qualquer assunto imaginável

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Kevin Roose
Kevin Roose

Colunista de tecnologia do New York Times e coapresentador do podcast "Hard Fork".

The New York Times

Ainda me lembro da primeira vez que usei o Google. Eu era um pré-adolescente nerd, obcecado pela internet, e nas semanas seguintes não conseguia parar de contar a meus amigos e parentes sobre o novo mecanismo de pesquisa bacana com um estranho nome meio infantil: a rapidez com que ele apresentava os resultados, o quanto era mais astuto e intuitivo do que os mecanismos de pesquisa existentes, como AltaVista e WebCrawler, e como era mágico poder acessar o conhecimento das profundezas da Internet.

Senti uma admiração parecida esta semana, quando comecei a usar o novo Bing com inteligência artificial. (Sim, Bing, a máquina de pesquisa eternamente ridicularizada da Microsoft. Está boa agora. Eu sei, ainda estou me adaptando também.)

A Microsoft lançou o novo Bing, que é movido por software de inteligência artificial da OpenAI, fabricante do popular chatbot ChatGPT, com grande alarde em um evento na sede da empresa na terça-feira (7). Foi anunciado como um evento marcante –o "momento iPhone" da Microsoft–, e muitos executivos da empresa, incluindo seu CEO, Satya Nadella, orgulhosamente circularam pelo centro de conferências, conversando com repórteres e exibindo os novos produtos da companhia.

Satya Nadella, diretor-executivo da Microsoft, fala com repórteres em evento apresentando o novo mecanismo de pesquisa Bing com inteligência artificial no campus da Microsoft em Redmond - Ruth Fremson - 7.fev.2023/NYT

Mas a verdadeira estrela era o próprio Bing, ou melhor, a tecnologia de inteligência artificial que foi conectada ao Bing para ajudar a responder às perguntas dos usuários e conversar com eles sobre qualquer assunto imaginável. (A Microsoft não diz qual versão do software da OpenAI está rodando sob o Bing, mas há rumores de que seja baseada no modelo de linguagem GPT-4, ainda a ser lançado.)

A Microsoft, que investiu pela primeira vez na OpenAI em 2019 e voltou a investir US$ 10 bilhões este ano, está capitalizando uma onda de progresso recente em recursos de IA para tentar alcançar o Google, que há muito detém a posição dominante no mercado de buscas. (E que, assustado com toda a recente comoção pelo ChatGPT, lançou novas ferramentas de IA próprias.) A Microsoft planeja incorporar futuramente a tecnologia da OpenAI em muitos de seus produtos.

Mas o relançamento do Bing é especialmente importante para a Microsoft, que há anos luta para se firmar nas pesquisas na internet. Se funcionar, poderá reduzir o domínio do Google e parte de seus mais de US$ 100 bilhões em receita anual de publicidade em buscas. O novo Bing, que está disponível apenas para um pequeno grupo de testadores e se tornará mais amplamente acessível em breve, parece um híbrido de um mecanismo de busca padrão e um chatbot no estilo GPT. Digite um comando –por exemplo, "Escreva-me um menu para um jantar vegetariano"– e o lado esquerdo da tela será preenchido com os anúncios padrão e links para sites de receitas. No lado direito, o mecanismo de IA do Bing começa a digitar uma resposta em frases completas, geralmente anotadas com links para os sites dos quais está retirando informações.

Para fazer uma pergunta de acompanhamento ou uma solicitação mais detalhada –por exemplo, "Escreva uma lista de compras para esse menu, classificada por corredor, com as quantidades necessárias para fazer comida suficiente para oito pessoas"–, você pode abrir uma janela de bate-papo e digitar. (Por enquanto, o novo Bing funciona apenas em computadores desktop que usam o navegador Edge da Microsoft, mas a empresa me disse que planeja expandir para outros navegadores e dispositivos.)

Testei o novo Bing durante algumas horas na tarde de terça, e é um avanço notável em relação ao Google. Também é uma melhora em relação ao ChatGPT, que, apesar de seus muitos recursos, nunca foi projetado para ser usado como um mecanismo de pesquisa. Não cita suas fontes e tem problemas para incluir informações ou fatos atualizados. Portanto, embora o ChatGPT possa escrever um belo poema sobre beisebol ou redigir um e-mail irritado para o seu senhorio, é menos adequado para contar o que aconteceu na Ucrânia na semana passada ou onde encontrar uma boa refeição em Albuquerque, no Novo México.

A Microsoft contornou algumas das limitações do ChatGPT casando os recursos de linguagem do OpenAI com a função de pesquisa do Bing, usando uma ferramenta proprietária chamada Prometheus. A tecnologia funciona basicamente extraindo termos de pesquisa das solicitações dos usuários, executando essas consultas no índice de pesquisas do Bing e, em seguida, usando esses resultados de pesquisa em combinação com seu próprio modelo de linguagem para formular uma resposta. Tanto nas demonstrações da Microsoft quanto em meus próprios testes, o Bing se saiu bem em uma ampla variedade de tarefas relacionadas à pesquisa, incluindo a criação de roteiros de viagem, ideias para presentes, resumos de livros e enredos de filmes.

A Microsoft também incorporou a tecnologia da OpenAI no Edge, seu navegador da web, como uma espécie de assistente de redação superpoderoso. Os usuários agora podem abrir um painel no Edge, digitar um tema geral e obter um parágrafo gerado por IA, postagem de blog, email ou uma lista de ideias escritas em um de cinco tons: profissional, casual, informativo, entusiasmado ou engraçado. Eles podem colar esse texto diretamente em um navegador da web ou aplicativo de rede social.

Os usuários também podem conversar com a IA integrada do Edge sobre qualquer site que estejam visitando e solicitar resumos ou informações adicionais. Em uma demonstração impressionante na terça-feira, um executivo da Microsoft entrou no site da Gap, abriu um arquivo PDF com os últimos resultados financeiros trimestrais da empresa e pediu ao Edge para resumir as principais conclusões e criar uma tabela comparando os dados com os resultados financeiros mais recentes de outra empresa de roupas, a Lululemon. A IA fez as duas coisas quase instantaneamente.

O novo Bing está longe de ser perfeito. Assim como o ChatGPT, ele tende a jorrar bobagens em tom confiante, e suas respostas podem ser erráticas. Quando apresentei a ele um quebra-cabeça matemático básico –"Se uma dúzia de ovos custa US$ 0,24, quantos ovos você pode comprar com um dólar?"–, deu a resposta errada. (Disse cem; a resposta correta é 50.)

Também não funcionou bem quando pedi uma lista de atividades para crianças que aconteceriam em minha cidade no próximo fim de semana. Entre as sugestões do Bing estavam um desfile de Ano Novo Lunar (que aconteceu no fim de semana passado), uma arrecadação de fundos para uma escola local (que aconteceu dois finais de semana atrás) e uma celebração de Hanukkah (que aconteceu em meados de dezembro).

Há, ainda, questões legítimas sobre a rapidez com que toda essa tecnologia de IA está sendo desenvolvida e implantada. E, claro, usar modelos de linguagem de IA para responder a consultas de pesquisa levanta uma série de questões espinhosas sobre direitos autorais, citação e favoritismo. (Para citar uma óbvia: o que acontecerá com todos os editores que dependem do Google como fonte de tráfego se ninguém no Bing precisar clicar nos links para seus sites?)

Por enquanto, apenas uma coisa parece clara: após anos de estagnação, a Microsoft e a OpenAI tornaram a pesquisa interessante novamente.

Depois de entregar esta coluna, farei algo que pensei que nunca faria: vou mudar o mecanismo de pesquisa padrão do meu computador desktop para o Bing. E o Google, minha fonte padrão de informação durante toda a minha vida adulta, vai ter que lutar para me trazer de volta.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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