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17/06/2010 - 08h49

Ursas, republicanas e feministas

LUCAS MENDES
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK

2010 é o ano das "muié". Dizem lé em Minas e aqui também. No Brasil, ano da Dilma, e aqui, das republicanas conservadoras que agora são as novas feministas. Sarah Palin, pró-arma, pró-religião, pró-petróleo, anti-aborto, anti-gay, anti-Estado, é a nova feminista? Quem diz é Sarah Palin.

Sarah se refere às feministas republicanas como "Mamães Ursas". Para quem já se sentia confuso com a identidade e os rumos do movimento feminista, como eu, agora se sente mais perdido do que nunca. A Dilma é ursa? É feminista? Por favor, esclareçam.

As mulheres paparam os homens nas eleições primárias americanas deste mês, em especial as republicanas conservadoras, com a benção da Sarah Palin e do Tea Party, o não-partido mais direitista no cenário político americano.

Duas republicanas milionárias ganharam eleições primárias na Califórnia para disputar o governo do Estado e o Senado. Meg Whitman, candidata a governadora, gastou US$ 80 milhões da própria bolsa. Carly Fiorina, que quase afundou a Hewlett- Packard quando dirigia a multinacional, também meteu a mão na bolsa e vai tentar tomar o emprego de outra milionária, a democrata Barbara Boxer, que já está há quase 18 anos no Senado.

Liberais cínicos não viram candidatos com ideias revolucionárias. Viram apenas mulheres que finalmente aprenderam a comprar votos, como os homens.

Nem todas que ganharam eleições foram republicanas conservadoras, mas elas foram maioria em quatro Estados.
Entre elas a mais ursa das ursas é Sharron Angle, de Nevada, que vai disputar com o mais influente democrata no Senado, o líder, Harry Reid. Ele está sufocado pela identificação com os programas de Obama, mas os liberais torcem por ela porque acham esta ursa indomável e inelegível.

Sharron Angle, 60 anos, avó de dez netos, votou tantas vezes "não" na Câmara Estadual de 42 deputados que os resultados das votações eram anunciados "41 a Angle". Ela é a Madame "No". A deputada quer tirar os Estados Unidos das Nações Unidas porque é "um reduto liberal e promove a farsa do aquecimento global", quer fechar o Ministério da Educação, privatizar a Previdência Social e a Assistência Médica estatal, jogar no lixo o código do imposto de renda e proibir uso de flúor na água . "Se não for na base do voto, então vai ser na base das armas". Este discurso é a grande esperança dos democratas.

Comparada com a ursa de Nevada, Nikki Haley é uma ursa de pelúcia, muito mais perigosa para os liberais porque ela deve se eleger. Nascida Nimrata Nikki Randhawa, uma indiana da religião sikh, é candidata a governadora da Carolina do Sul . Conseguiu 49% dos votos na primária de 1º de junho e esta semana vai disputar uma segunda eleição para conseguir superar os 50% para ser a candidata do partido.

Nikki agora além de sikh é metodista, casada com filhos, tem 38 anos, magra e bonita. Dois de seus ex-assessores anunciaram que dormiram com ela, mas as revelações não impediram sua vitória parcial na eleição. Disse que sempre foi fiel ao marido e, além de negar os affairs, prometeu que renunciará se as denúncias forem provadas, mas não processou. A numerosa lista de chamadas telefônicas entre ela e os supostos amantes não foi suficiente para derrubar a candidatura dela.

A Carolina do Sul é um Estado estranho. Um veterano político local dizia que é muito pequeno para ser um país e muito grande para ser um hospício.

O Ano da Mulher não é novidade na política americana. Em 84, quando Geraldine Ferraro foi a primeira mulher numa chapa presidencial, como vice de Walter Mondale, nove mulheres se candidataram ao Senado concorrendo com senadores no poder. Todas as nove perderam. 1992 também foi Ano da Mulher. Dez desafiaram senadores no poder, quatro ganharam. Grande progresso.

Com a benção da padroeira Palin, elas são a sensação deste ano eleitoral. Conservadoras, mães, esposas, mas não apenas donas de casa. Na marcha feminista as companheiras americanas avançam cada vez menos de mãos dadas. E no Brasil as mulheres estão com Dilma?

 

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