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16/06/2011 - 08h56

Linguiça Frito

LUCAS MENDES
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK

Em Nova York, junho foi o mês da linguiça. Não aquela do cachorro-quente, mas a de um dos mais eficientes, brilhantes e dedicados deputados da história da cidade. E um pateta da era virtual.

Au revoir, Dominque Strauss-Kahn. Welcome Anthony Weiner. Desde criança ele foi foco de deboche e provocação porque o sobrenome significa linguiça e uma gíria para pênis.

Durante duas semanas ele e sua linguiça foram alvos das mais saborosas, sutis e vulgares manchetes, piadas e insultos na televisão, do tamanho, da consistência, com associações religiosas, morais, culinárias, políticas. O que você puder e não puder imaginar. Se duvidar, entre no YouTube.

Um botão errado. Na hora de tuitar a foto desfocada de uma cueca cinza com um volume que sugeria uma linguiça possante em semiereção, em vez de mandar para uma de suas fãs, o deputado conectou com seus milhares de seguidores. Em poucos minutos estava exposto no blog de um canalha conservador, Andrew Breibart, que já deu vários flagrantes falsos em liberais. Desta vez era verdadeiro.

Na primeira semana, o deputado negou, esbravejou, ameaçou. Jon Stewart, estrela de um talk show, foi amigo e companheiro de juventude de Tony Weiner quando estudavam juntos, alugavam uma casa na praia e conviviam em situações íntimas.

Stewart duvidou que aquela linguiça fosse a do amigo que tinha visto nu tantas vezes. "A do Tony era deste tamaninho", disse Stewart mostrando o polegar e o indicador. O deputado ganhou tempo.

Como Breibart é fonte suspeita, ele teve o benefício da dúvida até aparecer a segunda foto, mostrando um peito atlético, depilado e a parte do rosto do nariz para baixo.

Fritado, Tony confessou que a foto da cueca era dele, pediu perdão à mulher, a Breibart, à imprensa, aos seus eleitores, em contorções humilhantes e lacrimejantes diante das câmeras.

Mas renúncia ao mandato, negativo. Afinal, nunca teve contato com as mulheres que tuitava e sem carne não há pecado. Uma defesa na linha do ex-presidente Clinton: "Eu não tive relações sexuais com aquela mulher". Oral, segundo Clinton, não é sexo. Virtual, segundo Weiner, também não. E surgiram várias fotos e mulheres.

O deputado achava que a prefeitura de Nova York poderia ser dele no ano que vem. E tinha números, verba e partidários influentes.

O casamento dele com Huma Mahood Abedin, uma muçulmana praticante, foi oficializado por Bill Clinton. Huma, filha de mãe paquistanesa, nasceu em Michigan e cresceu na Arábia Saudita. O pai, um acadêmico saudita, morreu quando ela tinha 17 anos.

Huma estudou em Washington e em 1996 foi estagiária na Casa Branca, contemporânea de Monica Lewinsky, mas atendia a primeira-dama. Tão bem que continuou na equipe dela, pós-Casa Branca. Hoje é a sub-chefe da assessoria de Hillary no Departamento de Estado e estava com ela na África enquanto a linguiça do marido estava na frigideira da imprensa. Huma entrou na lista das 40 pessoas com menos de 40 anos anos e maior futuro político.

Nesta trágica semana para o deputado, anunciaram a feliz notícia de que ela está grávida do primeiro filho. Ele, com a porta do apartamento tão vigiado quanto o de Dominique Strauss-Khan, pediu uma licença de duas semanas do Congresso para tratamento numa clínica de reabilitação de tuitagem sexual.

Quem, como eu, não tuita, bloga ou facebuka, ficaria perplexo e devastado. Weiner não representava meu distrito eleitoral --ele representa parte de Brooklyn e parte de Queens, eu estou em Manhattan--, mas era o campeão das minhas brigas contra as seguradoras de saúde.

O Linguiça dizia, e ainda diz, que o Partido Republicano é empregado das seguradoras. Trinta por cento do que elas cobram dos segurados é lucro e uma parte gorda vai para os executivos.

Foi um batalhador derrotado pelo seguro universal, proposto por Obama, modelo europeu/canadense, acusado de socialista e denunciado pelos republicanos como absurdamente caro. Barato não é, mas de 69 para cá, o custo do medicare, o seguro de saúde federal dos velhos, subiu 400%. O seguro privado, como o meu, subiu 700%. Às vezes aumentam 25% num ano de inflação de 3%, reduzem a cobertura e os benefícios. Meu seguro, que não é grande coisa, custa US$ 1.500 por mês.

O seu, aí no Brasil, pelo mesmo caminho, mais caro, menos serviço. O modelo de sacanagem é inspirado aqui. Nem os homens do petróleo e dos bancos --os banksters-- são tão gângsteres.

A maioria dos eleitores do Linguiça --56%-- não quer que ele renuncie, mas a liderança do Partido Democrata na Câmara e o presidente Obama sugeriram que ele peça demissão. Obama foi um pouco mais sutil: "Se fosse eu, renunciaria".

Hoje, quando esta coluna for publicada, Huma estará de volta da África com sua patroa e melhor amiga, Hillary Clinton. Talvez Linguiça salve o casamento, mas o emprego, no Congresso, está frito.

Desfritar na cozinha é impossível, mas em política é diferente. Daqui a dois ou três anos, Anthony Weiner vai voltar quente. Com o Twitter, sem a linguica.

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