Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

'Broadchurch' é trama policial à moda antiga

Há nos EUA uma expressão para designar aquele tipo de comida sem maiores invencionices, que remete a algo gravado na memória e que, até por isso, tem mais graça ou sabor, a "comfort food". "Broadchurch", produção da rede britânica ITV que o canal brasileiro GNT estreou no dia 5, poderia ser chamada de "comfort series", ou série reconfortante.

Está ali o que um dia já foi essencial para contar uma boa história detetivesca, a começar por um assassinato misterioso chocante (neste caso, do garoto Danny Latimer, 11, vivido por Oskar McNamara).

Há o detetive-forasteiro-atormentado (David Tennant) às voltas com uma parceira mais sentimental com a qual não se dá (Olivia Colman, excelente), uma família jovem prestes a ruir, uma cidadezinha soporífera no meio de uma paisagem linda (a tal "Broadchurch" do título) e, principalmente, uma fileira de tipos modorrentos na superfície, mas cujas inquietações escondidas fazem deles ótimos suspeitos.

"Broadchurch" estreou no Reino Unido em maio deste ano e, desde então, foi comprada por canais de mais de 30 países. A americana Fox já anunciou que produzirá uma adaptação no ano que vem, após a versão britânica recém-estreada nos EUA receber boas resenhas.

A acolhida se justifica.

Tão comum tornou-se esse tipo de roteiro que ele rendeu um subgênero, o "whodunnit", algo como "quem-matou". Aqui, seguindo a fórmula, os suspeitos são apresentados ao espectador na cena final do primeiro episódio, assistindo à entrevista coletiva do detetive Alec Hardy (Tennant, conhecido por ter encarnado de 2006 a 2010 o "Dr Who" da série homônima de sci-fi).

Mas a produção se desvencilha com classe dessa avalanchede crimes fictícios que tomou a TV. E conforta exatamente em sua falta de firulas: sóbria em estilo, sem reviravoltas mirabolantes nem edição convulsiva, "Broadchurch" pode focar no enredo e nos personagens. Um alívio.

O melhor deles, a julgar pelos dois episódios exibidos aqui e nos EUA, é a detetive Ellie Miller, que precisa investigar o assassinato do melhor amigo de seu filho e que é próxima à família Latimer.

Humanizada na medida pela interpretação sem excessos de Colman (mais lembrada como a filha de Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro"), é ela a personagem mais transparente da história e também quem a conduz.

A graça está em ir juntando as peças e as peculiaridades da gente ordinária à sua volta: o reverendo, o jornaleiro, os jornalistas, a dona de pensão, os adolescentes com um namoro proibido, a família da vítima, a família da investigadora.

Fiel à tradição inglesa de romances policiais, as pistas vão sendo expostas aos poucos. A tensão, porém, se estabelece de cara, na cena da morte de Danny na praia que abre o primeiro dos oito episódios.

Poderia lembrar "Twin Peaks" (1990-91), o clássico mais recente do gênero, mas sem os maneirismos, o universo onírico nem os rompantes de genialidade de David Lynch.
Não que isso seja ruim. Às vezes, nada supera um bom brigadeiro.

"Broadchurch" passa às segundas, 22h30, no GNT; os dois primeiros episódios estão no iTunes

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