Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo
Descrição de chapéu Folhajus STF

Alexandre de Moraes diz que big techs podem abrigar o equivalente a 'laboratório de cocaína' e defende responsabilização

Ministro participou de evento jurídico em Londres, nesta quinta-feira (25), ao lado de outras autoridades brasileiras

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes defendeu nesta quinta-feira (25), em evento em Londres, na Inglaterra, a responsabilização de big techs pela circulação de conteúdos antidemocráticos nas redes sociais e o combate ao que chamou de "mercado livre de ódio e fascismo".

O magistrado foi um dos oradores do 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, que também reuniu os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli na capital inglesa, além de outras autoridades do Judiciário, do governo Lula e do Legislativo. As palestras foram organizadas pelo site Consultor Jurídico (Conjur).

O ministro do STF Alexandre de Moraes na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo - Bruno Santos - 11.abr.2024/Folhapress

Em sua exposição, Moraes defendeu que as grandes empresas de tecnologia devem ser responsabilizadas por conteúdos criminosos que circulam em suas plataformas, uma vez que as redes são monetizadas e geram lucros. Para ilustrar a sua tese, o ministro comparou a atividade ao comércio ilegal de cocaína.

"As big techs dizem exatamente isso: que elas são grandes depósitos. Não há nenhum problema. Se você tem um depósito na vida real, você aluga o depósito e a pessoa que alugou faz de lá um laboratório de cocaína, você não tem responsabilidade por isso, você não sabia", disse.

"Agora, se você descobre e faz um aditamento no contrato para ganhar 10% da venda da cocaína, no mundo real você tem que ser responsabilizado. Disso, ninguém discorda", seguiu.

"No mundo virtual, se você simplesmente é um depositário de artigos, vídeos, você não pode ser responsabilizado. Agora, se você monetiza isso, se você coloca os seus algoritmos para direcionar com prioridade essas notícias, aí você está igual à pessoa que está ganhando 10% da cocaína", completou.

Trechos da apresentação obtidos pela coluna ainda mostram Moraes afirmando que as redes já têm uma moderação eficiente para coibir conteúdos que envolvam pedofilia e pornografia infantil, e que o mesmo poderia ser feito contra publicações que façam apologia do nazismo e sejam antidemocráticas, por exemplo.

"Por que pedofilia, pornografia infantil e direitos autorais, 93% do que é publicado, as redes sociais retiram antes de ter um like, uma visualização? Porque elas podem ser responsabilizadas. Aí é o bom uso da inteligência artificial. Elas conseguem retirar 93% antes de uma visualização. Os outros 7%, que ficam na dúvida, levam para uma comissão de seres humanos e [lá eles] retiram em uma, duas horas", disse.

A defesa enfática da regulamentação das big techs se dá na esteira de ataques feitos pelo bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), contra Moraes. O empresário criticou, nas últimas semanas, decisões do magistrado que ordenaram a retirada de conteúdos das redes durante as eleições de 2022.

Nesta quinta, em Londres, Moraes afirmou que uma eventual regulamentação não é sinônimo de censura ou de restrição à liberdade de pensamento e de expressão, mas, sim, uma forma de fazer com que as big techs assumam as mesmas responsabilidades que televisões e rádios já têm no Brasil.

O ministro ainda disse que a circulação de notícias falsas e de conteúdos antidemocráticos nos espaços virtuais desafiam os processos eleitorais e a estabilidade democrática, podendo alterar os resultados de eleições.

"O grande desafio hoje, do processo eleitoral, é garantir que cada um dos eleitores e cada uma das eleitoras não sejam bombardeados por notícias fraudulentas que pretendem desvirtuar a vontade do eleitor, a vontade da eleitora, na hora de depositar o seu voto. Como uma verdadeira lavagem cerebral com discursos de ódio, discursos misóginos, discursos homofóbicos, discursos antidemocráticos", afirmou.

"E como se garantir isso? Voltando à ideia do início do século passado, muito consagrada pelo justice [jurista] Holmes: um mercado livre de ideias, não um mercado livre de mentiras, não um mercado livre de agressões, não um mercado livre de ódio, de nazismo, de fascismo", acrescentou.

Segundo Moraes, a Justiça Eleitoral está preparada para atuar, já nas eleições municipais de 2024 e sob a presidência da ministra Cármen Lúcia, "para que notícias fraudulentas, milícias digitais e inteligência artificial não desvirtuem a real vontade do eleitorado brasileiro".

"A iniciativa privada não vai investir num país que seja instável democraticamente. A iniciativa privada não vai investir num país onde populistas pretendam dar golpes de Estado, atacar as instituições. A iniciativa privada quer estabilidade institucional, quer estabilidade democrática", disse o ministro do Supremo.

Durante o painel, o magistrado ainda comentou medidas judiciais tomadas contra os envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro e disse que nenhuma delas fugiu ao que prevê a Constituição.

"Esse ataque que ocorreu no dia 8 de janeiro permitiu, pela primeira vez, a aplicação de uma legislação aprovada anteriormente pelo Congresso Nacional, sem nenhum atropelo. Isso é muito importante", disse, citando a lei que substituiu a antiga Lei de Segurança Nacional, aprovada em 2021.

"Se eventualmente houvesse algo aprovado após o fato, para aplicação retroativa em relação a esses fatos, nós estaríamos [falando] em medidas excepcionais que a Constituição não autoriza", seguiu o ministro.

"Agora, a aplicação de uma legislação já prevista três anos e pouco antes dos fatos são medidas normais, medidas previstas. Constitucional e legalmente", finalizou.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.