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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Montadoras abandonam comodato e BYD ocupa espaço

Chinesa emprestou carro de quase meio milhão de reais para o presidente Lula

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Brasília e São Paulo

A BYD arrombou uma porta fechada pelas concorrentes tradicionais e está distribuindo seus carros para personalidades e autoridades como forma de promoção de seus modelos elétricos.

Um dos empréstimos, conhecidos no mercado como comodato, foi para o presidente Lula, que, desde janeiro, passou a usar um BYD Tan, de quase meio milhão de reais.

A BYD ganhou força no mercado automotivo e é líder entre os elétricos
A BYD ganhou força no mercado automotivo e lidera entre os elétricos - Focke Strangmann - 26.fev.24/AFP

A montadora chinesa ofereceu o carro até janeiro do próximo ano, porque o contrato com a Ford venceu e não será renovado.

As montadoras tradicionais estão encerrando essa prática. Consultados, executivos do setor afirmam que houve mudanças de compliance (governança) nas corporações.

A Volkswagen, por exemplo, afirma que possui uma política de empréstimo de veículos em comodato para fins exclusivamente comerciais, institucionais (testes de carros) e disponibiliza veículos que serão desmontados para instituições públicas (corpo de bombeiros, polícia militar e SENAI), com foco em treinamentos e capacitação de profissionais.

As matrizes não querem mais qualquer tipo de situação com autoridades ou personalidades públicas que abra espaço para suspeitas de troca de favores.

O objetivo desses empréstimos é promover a marca ou uma tecnologia. Para o departamento de marketing das empresas, é valioso quando uma personalidade, artista ou político, exibe seus produtos gratuitamente.

Foi o que ocorreu, nesta terça (22), quando a primeira-dama Janja Lula da Silva postou um vídeo levando o presidente para o trabalho, no Palácio do Planalto, no BYD Tan.

O Planalto afirma que "a cessão do veículo não representa nenhum ônus para a Presidência da República e possibilita o conhecimento e funcionamento deste modelo de carro".

Especialistas em ética pública consideram que autoridades, especialmente o presidente da República, não deveriam aceitar qualquer tipo de presentes dessa natureza.

Para eles, embora não haja nada de ilegal, isso prejudica a presunção de conflitos de interesse.

Os advogados, que só quiseram se manifestar sob condição de anonimato, avaliam que a situação da BYD coloca o presidente numa situação complicada porque, nesse momento, a fabricante chinesa busca conquistar o mercado brasileiro com seus elétricos, aproveitando a onda verde da transição energética encampada pelo governo.

Os fabricantes de motores a combustão defendem a convivência entre as duas tecnologias. A própria BYD, aliás, também produz híbridos.

A indústria aqui instalada almeja a conversão dos motores atuais, a gasolina e diesel, para o etanol ou biocombustíveis —que são de baixa emissão.

Consultada, a BYD disse, via assessoria, que faz contratos de comodato de acordo com a lei e com a máxima transparência, atendendo todos os critérios de compliance da companhia.

Ford, Fiat (Stellantis) e Chevrolet (GM) foram consultadas, mas não responderam até o momento.

Com Diego Felix

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