Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Volta de Michael J. Fox é apenas fofa

Poucos atores no showbiz americano são mais benquistos do que Michael J. Fox, sobretudo por quem cresceu nos anos 1980, quando ele protagonizou os dois primeiros "De Volta para o Futuro". É esse carisma --e só ele-- que sustenta o novo "The Michael J. Fox Show".

Tamanha é essa aposta que a série abre mão de uma narrativa propriamente dita para orbitar em torno do personagem interpretado e inspirado por Fox: uma celebridade que volta à TV após anos de afastamento decorrente do mal de Parkinson, doença que o ator descobriu precocemente em 1991, aos 30, e que revelou ao público sete anos depois.

Na versão fictícia, a celebridade é Mike Henry, popular ex-âncora de um telejornal nova-iorquino que troca a carreira pela vida de dono de casa após seus tremores no ar literalmente o tirarem de cena.

À volta está a família típica de sitcom, com a mulher, Annie (Betsy Brandt, a Marie da recém-encerrada "Breaking Bad"), um par de filhos adolescentes ególatras (Conor Romero e Juliette Goglia), o temporão (Jack Gore) e a cunhada (Katie Finneran), além do colega Harry (Wendell Pierce) e da produtora Kay (a brasileira Ana Nogueira).

Apesar do elenco insosso, conforta perceber que o timing cômico de Fox continua afiado, após um hiato nos últimos anos em que ele manteve o trabalho de ator limitado a dublagens e participações especiais (as mais notórias em "The Good Wife" e "Curb Your Enthusiasm").

Famoso por "Caras e Caretas", nos anos 80, a última vez que havia protagonizado uma série fora em "Spin City", encerrada em 2001, quando Fox passou a dedicar-se quase exclusivamente à sua fundação para a pesquisa do Parkinson.

A doença é a real antagonista da série, alvo de inúmeras piadas e de cenas que se esforçam para descrever o cotidiano com Parkinson como banal. As limitações físicas de ator e personagem são exploradas com leveza, mas por vezes demais.

O problema é que além do carisma e do mal de Fox, pouco resta. Nos dois primeiros episódios, as únicas situações engraçadas remetem à descrição ácida do filho mais velho, que desiste da faculdade em plena crise para fundar sua start-up e volta a morar com os pais.

Ok, não poderia ser tão diferente com uma série chamada "The Michael J. Fox Show" (o nome denuncia a intenção tanto de se amparar no protagonista como de remeter a comédias-família do passado, quando o ator principal era o título).

Mas a estreia no último dia 26 nos EUA, na NBC, foi morna, com 7,3 milhões de espectadores, índice apenas confortável para o horário em canais abertos --no Brasil, a exibição deve começar em 4 de novembro pelo canal pago Comedy Central, em horário a ser anunciado.

Já a reação da crítica americana lembrou a de quem reencontra um amigo antigo querido e percebe não ter mais nenhum interesse comum.
Pior, Fox perdeu feio em público para outro comediante dos anos 80 egresso da TV para o cinema, Robin Williams, que estreou "The Crazy Ones" no mesmo dia, na CBS, com audiência de 15,6 milhões.

Mas essa fica para outra coluna.

"The Michael J. Fox Show" estreia no Brasil em 4 de novembro pelo Comedy Central, em horário a definir

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