Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Marcelo Leite

Feliz Ano Novo, com menos oportunismo e mais verdade

Crédito: Reuters Termo 'fake news' é muito usado pelo presidente norte-americano Donald Trump
Termo 'fake news' é muito usado pelo presidente norte-americano Donald Trump

Quem nunca espalhou informação falsa ou distorcida que atire o primeiro post. Os votos de um melhor 2018 ao planeta científico/socioambiental/progressista começam com um pedido: vamos parar de multiplicar notícias e dados não verificados só porque eles confirmam nossos pontos de vista?

Três exemplos de 2017 saltam à memória, ululantes. O mais recente: toda a celeuma em torno do indulto de Natal. Até a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal ajudaram a propagar a versão de que o decreto de Michel Temer (MDB) foi talhado para melar a Lava Jato.

Só que não. Ricardo Balthazar mostrou na página 2 da Folha que a medida beneficiaria, quando muito, um em três dezenas de condenados da Lava Jato. Nem por isso as pessoas pararam de esbravejar contra o "insulto" de Natal.

É de causar arrepios a sanha vindicativa da opinião pública. Até os que sempre militaram contra a política de encarceramento em massa andam com o dedo rápido no gatilho do celular ou do computador, em especial se o alvo for Temer (há muitos e bons motivos para atacá-lo, mas todos faríamos melhor se nos ativéssemos a eles, os bons).

Outro exemplo? A MP do Trilhão. Muita gente inteligente e honesta deu curso à projeção entusiasmada de um obscuro consultor legislativo sobre o efeito da medida provisória de isenções tributárias para a exploração de petróleo. Neste caso foi Vinicius Torres Freire quem desmontou a traquinagem, mas o estrago estava feito.

É óbvio, diante do que o mundo está passando e vai passar por força do aquecimento global, que não faz sentido dar, aumentar ou prolongar subsídios a combustíveis fósseis. Não faltam motivos racionais para ser contra. Exagerar o valor da renúncia fiscal, apenas para causar mais impacto, não é um deles.

Exemplo final, e o mais antipático para quem defende a preservação da Amazônia: a famigerada Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados). Gente que nunca moveu uma palha pelo ambiente saiu atirando contra o governo pela ameaça à unidade de conservação.

Não era bem assim. A mata está bem preservada na Renca, é verdade, apesar do monte de garimpeiros que circula por lá. Não se trata, contudo, de uma unidade de conservação, e sim de uma reserva mineral.

É notório que o governo Temer e seus asseclas no Congresso não têm o menor respeito pela floresta e uma predileção desmesurada pelos metais nobres ou vis (para dizer o menos). Vamos todos, por isso, descer ao nível deles e passar adiante, pelo valor de face, qualquer bobagem que lhes seja prejudicial?

Na melhor das hipóteses, este ponto de vista será tido como ingênuo. Na pior, acusado de levar água para o moinho de Temer. Que seja. Até quem só consegue ver as coisas por esse prisma merece um 2018 melhor que 2017.

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