Marco Aurélio Canônico

Jornalista foi repórter da Ilustrada, correspondente em Londres e editor de Fotografia.

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Marco Aurélio Canônico

Nem bem começou o atual verão e o país já está assistindo a mais um de seus periódicos filmes de horror —neste caso, "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado", versão febre amarela.

Centenas de pessoas contaminadas, dezenas morrendo, filas intermináveis em busca de vacinas inexistentes.

Tudo como há um ano, porque o governo federal e alguns estaduais não souberam se planejar. Na última temporada de calor, o Brasil enfrentou o pior surto de febre amarela em décadas. Foram 271 casos e 99 mortes confirmados.

Minas, São Paulo e Rio foram vitimados e a ameaça de que o vírus se urbanizasse disparou campanhas de vacinação em massa. Os postos de saúde não deram conta da demanda, mas o governo federal prometeu que não faltariam vacinas —somos os maiores fabricantes delas no mundo, afinal. A Fiocruz, sozinha, é capaz de produzir 9 milhões de doses por mês. Apesar da promessa à população, o Ministério da Saúde decidiu alterar sua orientação de vacinação, que por décadas determinou duas doses (a segunda, dez anos após a primeira). Por economia, determinou-se que uma bastaria —o que já era o padrão da OMS, registre-se.

Em julho passado, o ministério considerou o surto encerrado. Desde então, morreram 11 pessoas em Minas, 16 em São Paulo e três no Rio. O aumento da produção de vacinas parece ter ficado só na promessa, porque o governo foi obrigado a fazer outra gambiarra: fracionou as doses. Antes, uma pessoa precisava de duas delas.

Agora, tem de ser virar com um quinto de uma.

Não que essa solução seja ineficaz: estudos mostram que mesmo uma dosagem fracionada é capaz de imunizar por ao menos alguns anos. Mas só a inépcia das autoridades explica termos chegado a um novo verão vendo o mesmo filme do passado.

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