Praias no campo viram alternativa tranquila ao litoral no PR e em SP

Crédito: Marcos Labanca/Folhapress SAO MIGUEL DO IGUAÇU - 30-12-2016 Remando nos aguapes,no terminal turistico do Ipiranga. Foto: Marcos Labanca/Folhapress,COTIDIANO ***EXCLUSIVO FOLHA***
Homem rema em aguapés em São Miguel do Iguaçu, oeste paranaense, banhada pelo lago de Itaipu

ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL AO OESTE DO PARANÁ

MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A RIFAINA (SP)

O balneário fica às margens de um lago, mas parece praia: tem calçadão, picolé, churros, salva-vidas e areia. E, a cem metros da água, uma plantação de soja.

"Aqui tem de tudo, principalmente tranquilidade", afirma a dona de casa Ivone Tavares Bueno, 41, à beira do calçadão de Itaipulândia, cidade no oeste do Paraná.

Assim como ela, moradores do interior do Paraná e de São Paulo, a centenas de quilômetros do mar, enchem os balneários da chamada "costa oeste", à beira dos reservatórios de usinas hidrelétricas.

Situadas em uma das principais regiões agrícolas do país, onde 60% do território é ocupado por lavouras, as praias preservam a tranquilidade do campo e poupam os turistas de viagens de até 12 horas ao litoral.

"É muita loucura pegar estrada na temporada", diz o agricultor Luiz Carlos Colombo, 54, que frequenta a prainha de Itaipulândia "há dez anos para mais".

Ele e a família dormem no caminhão –que carrega soja e milho, que ele planta em Medianeira (a 50 km do local). Há colchões espalhados pela carroceria, estacionada a poucos metros do "mar".

O clima é de campo, e não de praia –a não ser pelas roupas de banho e protetor solar.

Além de tomar sol e mergulhar, os banhistas da costa oeste são adeptos do churrasco, do carteado e da pesca. A maioria acampa a metros do lago, em quiosques ou barracas alugadas pelas prefeituras, ou fica em casas à beira das represas.

"Além de a distância ser menor, não tem congestionamento e é mais seguro", diz o empresário Valdemar Sanches, de Ribeirão Preto, que tem um rancho em Rifaina, no interior paulista, divisa com Minas Gerais.

Em meio a lavouras de café, a cidade de 3.600 habitantes "dobra" nos finais de semana, graças à represa da hidrelétrica de Jaguara.

A praia artificial do município, que também tem ranchos particulares às margens do lago, chega a receber quase 20 mil pessoas em épocas como Carnaval e Réveillon.

No Paraná, o balneário mais agitado é o de Santa Helena: a estimativa é de 150 mil visitantes no verão. A maioria tem até 30 anos, e se ajeita em barracas de lona, às margens do lago de Itaipu.

"Eu nem vou à praia direito; aqui, é para fazer festa", diz a atendente de telemarketing Cati Lopes, 22. Na entrada das barracas, um aparelho de ar-condicionado portátil, para combater o calor.

Um festival de costela inaugurou a temporada deste ano em Santa Helena, junto com um show sertanejo. Aos vencedores do concurso, foi dado um kit churrasqueiro.

ÁGUAS CALMAS

A água da represa de Itaipu, que deu origem à "costa oeste" do PR, é tranquila e limpa. Sem ondas nem ligações clandestinas de esgoto, as praias são avaliadas como próprias para banho há anos.

Na temporada passada, os afogamentos foram dois. Salva-vidas fazem plantão e orientam sobre a profundidade da represa. "O único problema aqui são as piranhas e mexilhões", diz um salva-vidas.

A depender das chuvas e da vazão da usina de Itaipu, mais demandada no verão, o nível do lago desce –e os banhistas ficam expostos aos mexilhões, que espalhados pela areia podem causar cortes, e a algas, onde as piranhas botam seus ovos.

"Já aconteceu na minha família, mas não é nada grave. Foi só uma mordidinha", diz a cabeleireira Geórgia Silveira Pinheiro, 33, que vai a Itaipulândia há seis anos.

Na cidade paulista de Rifaina, a hidrelétrica opera com sistema fio d'água, sem rebaixamento de nível. Em anos de crise hídrica, isso atraiu turistas de outras regiões, que viram suas opções de lazer "secarem".

Agora, a cidade tem um edifício com 41 apartamentos e um condomínio, para atender a demanda de turistas e investidores interessados na abundância hídrica.

No Paraná, o pedreiro Getúlio Augusto de Souza, 61, arranjou um jeito mais prosaico de fazer dinheiro: alugando geladeiras e ventiladores no balneário de São Miguel do Iguaçu. A geladeira custa

R$ 120 pelo fim de semana; o ventilador, R$ 10 por noite. "Cada um se vira como pode."

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.