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11/02/2013 - 04h38

"Aprendi a me pentear sem olhar no espelho", conta obesa que se prepara para cirurgia

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CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Até os 16 anos, Marli Matos dos Santos, 53, usava manequim 42. Com a gravidez, aos 17, ganhou 20 quilos. Na segunda gestação, tinha perdido os quilos extras com remédios e dieta.

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Na gravidez da caçula, voltou a engordar. Em outubro passado, com 158 kg distribuídos em 1,65 m, ela foi internada para emagrecer e, depois, fazer a cirurgia de redução de estômago. Até a semana passada, já tinha perdido 23 kg. A seguir, trechos do seu depoimento.

*

"Comecei a engordar durante minha primeira a gravidez. Levei bronca do obstetra o pré-natal todo, mas não ligava. No fim, tinha engordado 20 kg e desembestei a engordar mais.

Karime Xavier/Folhapress
Marli Matos dos Santos, 53, internada em Suzano; ela chegou ao hospital com 158 kg e já perdeu 23 kg
Marli Matos dos Santos, 53, internada em Suzano; ela chegou ao hospital com 158 kg e já perdeu 23 kg

Nas duas gravidezes seguintes, engordei, mas não sei quanto. Eu subia na balança, mas virava o rosto.

Fazia dieta, tomava remédio tarja preta e engordava de novo. Chegou um tempo eu pensei: 'Não adianta nada fazer mais dieta nem tomar remédio'. Fui me largando mais e mais.

Também não me olhava no espelho. Aprendi a me pentear e a me arrumar sem olhar no espelho. Só perguntava aos meus filhos: 'Está bem assim, não está torto?'.

Saía na rua e a sensação era que todo mundo me olhava. Queria morrer. Entrava no ônibus, todo mundo olhava. Com a nova lei, passamos a ter direito ao banco da frente e a sair pela frente. Facilitou, mas continuei me sentindo mal. Pensava: 'Eu não sou paralítica. Estou aqui porque sou gorda'.

Meus filhos insistiam para que eu procurasse um médico, mas eu dizia: 'Se morrer, enterra'. Fiz tudo quanto é dieta. Bebi tanto suco de limão em jejum que ganhei uma gastrite.

Fui me deixando, deixando. Até que uma colega me falou para procurar o grupo de obesidade mórbida das Clínicas. Já tinha tentado tratamento lá, mas não soube me expressar.

Disse que queria me consultar com um gastro, mas ele só olhava os problemas do estômago. Ou então ia para a nutricionista, mas ela só passava dieta.

Já tinha me convencido de que só a cirurgia iria resolver meu caso. Antes, eu era contra. Achava que era mutilação.

Mas, quando eu passei a querer, não conseguia emagrecer sozinha. Não conseguia seguir a dieta. Sentia muita fome, muita ansiedade. As dores aumentavam, estava com artrite, artrose, fibromialgia, pressão alta.

Achava melhor morrer. Comecei a me fechar, só saía na porta de casa para lavar a calçada. Meu marido nunca me criticou por eu ser gorda, continuou carinhoso e talvez isso tenha me deixado mais acomodada.

Mas um dia eu decidi voltar para as Clínicas e pedi: 'Doutor, por favor, me interna. Em casa, eu só como besteira, doce, sorvete'.

Quando me chamaram, comecei a chorar de alegria. Era tudo o que eu precisava: de um lugar que me ensinasse a ser uma pessoa normal.

Às vezes, dá vontade de comer uma besteirinha, mas a gente esquece. Temos a liberdade de fugir um pouco da dieta. A gente conversa com a nutricionista e ela dá uma autorização especial.

Nesses quatro meses aqui, tive uma vez uma vontade incontrolável de comer coxinha com guaraná. Comi uma só com guaraná diet. Foi um manjar dos deuses.

A gente não vê a hora da cirurgia. Dá um 'medinho', mas eu sei que depois disso tudo vou ser uma nova pessoa."

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