Jogadores recorreram a 'bicos' para sobreviver durante greve argentina

Crédito: Divulgacao ARGENTINA Gonzalo Minguillón Meia do Sacachispas Foto Divulgacao / Comunicaciones ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Gonzalo Minguillón, meia do Sacachispas, da terceira divisão do Campeonato Argentino

ALEX SABINO
EDUARDO RODRIGUES
DE SÃO PAULO

"Quem está no acesso do Campeonato Argentino não nasceu para ser rico. Está porque gosta de futebol."

A frase de Gonzalo Minguillón, meia do Sacachispas, da terceira divisão, expõe a crise financeira que vive o esporte no país sul-americano.

Durante quatro meses, os atletas ficaram sem receber salários de seus clubes e se negaram a entrar em campo para a disputa de torneios nacionais até que a dívida estivesse regularizada.

Na última quarta-feira (8), uma reunião entre a AFA e os Futebolistas Argentinos Agremiados, o sindicato dos jogadores, definiu o retorno das competições para quinta (9) após o pagamento de 305 milhões de pesos (R$ 61 milhões) devidos.

Apesar da normalização, os atletas sentiram na pele o que é não ter dinheiro no fim do mês. Para amenizar a situação crítica, muitos recorreram a bicos para não agravar a situação financeira.

Foi o caso de Nahuel Correa, zagueiro do Argentino de Merlo, clube que disputa a terceira divisão. Com dois meses de salários atrasados, ele foi trabalhar em uma empresa de macarrão.

"É difícil a situação. Tenho que continuar trabalhando. Estou em uma fábrica que fica em Moron [província de Buenos Aires]. Alguns jogadores têm uma condição melhor. Outros, não", afirmou Correa antes do retorno das competições nacionais.

Os clubes vivem um cenário caótico após o fim do "Futebol para Todos", programa estatal criado pela ex-presidente argentina Cristina Kirchner, em 2009. Durante oito anos, ela pagou 9 bilhões de pesos (R$ 1,8 bilhão) pelo direito de transmitir os jogos ao vivo pela TV Pública.

O governo do atual presidente, Mauricio Macri, negociou a rescisão do contrato e as equipes perderam a receita dos direitos de transmissão. Os dirigentes alegaram que a quebra do acordo os deixaram sem ter como honrar a folha salarial.

"Estou fazendo bicos. Qualquer coisa. Faço mudanças, dirijo carros, pinto casas... Minha mulher tem trabalho, graças a Deus. Isso está salvando", disse Ezequiel Melillo, meia do San Telmo, também da terceira divisão.

Apesar do acerto e o retorno do Argentino, que estava previsto inicialmente para recomeçar em 4 de fevereiro, Gonzalo Minguillón acredita que o problema de pagamentos não vai acabar tão cedo.

"Joguei mais de dez anos na primeira divisão, passei pela divisão de acesso. Em todas situações: brigando na parte da cima ou contra o rebaixamento. Nunca recebi em dia. O futebol argentino é assim há anos e os dirigentes não cumprem o que combinam. Priorizam um resultado a qualquer projeto", lamentou Minguillón.

O meia do Sacachispas revelou que sua equipe ficou apenas 30 dias com salário atrasado, mas que já chegou a ficar durante oito meses sem receber em outras equipes do futebol argentino.

SITUAÇÃO DELICADA

Nem todos tiveram a mesma sorte de conseguir um segundo emprego. O zagueiro Damian Gutierrez, do Argentino de Merlo, por exemplo, se sentiu no "fundo do poço".

"Chega em uma situação que temos de pedir dinheiro emprestado para os outros. Procurei emprego em fábricas, para fazer qualquer coisa, mas não achei", contou.

O futebol do país tem tradição em greves. Elas aconteceram em 1948, 1971, 1975, 1983, 1985, 1996, 1997 e 1999. A última grande paralisação, há 18 anos, durou 45 dias.

Crédito: Juan Mabromata/AFP TOPSHOTS Argentina's Boca Juniors supporters cheer for their team during their Copa Libertadores 2015 round before the quarterfinals second leg football match between Argentina's Boca Juniors and Argentina's River Plate at the "Bombonera" stadium in Buenos Aires, Argentina, on May 14, 2015. AFP PHOTO / JUAN MABROMATA ORG XMIT: MAB462
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