'Bruxo' que ajudou Argentina a ir à Copa do Mundo sonha com a Rússia

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Manuel Valdez, místico contratado para fazer um trabalho espiritual com a seleção argentina

ALEX SABINO
FÁBIO ALEIXO
DE SÃO PAULO

Presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), Claudio Tapia ficou agitado com uma pergunta em Assunção, horas antes do sorteio dos grupos da Libertadores, em dezembro. "Não é hora de falar sobre esse assunto", desconversou, antes de virar as costas e ir embora.

Foi reação bem diferente da que teve em 10 de outubro do ano passado, logo após a vitória da Argentina sobre o Equador por 3 a 1, em Quito. Resultado que selou a classificação da equipe para a Copa do Mundo da Rússia.

"Messi teve mais méritos, mas ele também ajudou muito", disse ainda no vestiário.

"Ele" era Manuel Valdez, 57, sentado ao fundo enquanto Tapia discursava, com um riso de orelha a orelha. Foi o momento em que Brujo Manuel virou celebridade.

Com a Argentina em dificuldades e correndo sério risco de não se classificar para o Mundial, o místico nascido em Tucumán e que mora em Gorina, nas cercanias de La Plata, foi convocado para fazer trabalho espiritual para ajudar a seleção a vencer a partida decisiva no Equador.

"Não posso dar detalhes sobre o meu trabalho. É algo sigiloso", disse, com voz baixa e sotaque arrastado, em contato telefônico.

O místico conta apenas que circulou pelo gramado antes da partida. Parou em alguns pontos, fez orações e em seguida foi ao vestiário do estádio Olímpico Atahualpa. Fez novas rezas e subiu para a tribuna, de onde viu a partida, ao lado de dirigentes argentinos e ex-jogadores, como o zagueiro Oscar Ruggeri, campeão mundial de 1986.

"Não tive contato com os jogadores. Não era algo necessário. Estava lá para fazer um trabalho apenas, não para incomodá-los", completa.

Quem o convidou para viajar a Quito é assunto nebuloso. Brujo Manuel não comenta. O técnico Jorge Sampaoli sabia. Claudio Gugnali, integrante da comissão técnica desde os tempos em que o treinador era Alejandro Sabella (que mora em La Plata), sugeriu a visita de Manuel ao prédio da AFA em Ezeiza, Buenos Aires, na semana da partida. Para Tapia, a ideia de levá-lo ao Equador foi de Juan Pipo Marin, presidente do Club Atlético Acassuso, da terceira divisão argentina.

Brujo Manuel agora espera outro convite: ir para a Rússia durante o Mundial.

"Ah, sim. Gostaria de ir. Seria uma grande experiência. Se acharem que posso ajudar, estou aqui", declarou.

Por isso o drible de Tapia em Assunção. Ele não quer tratar sobre isso. A viagem do Brujo Manuel despertou simpatia nos mais supersticiosos, mas incredulidade em parte da imprensa argentina, descrente de que uma seleção que tenha Messi necessite de auxílio do sobrenatural.

"É questão de ver coisas que os outros não conseguem. Não gosto de ficar comentando porque é um dom. Difícil discutir esses assuntos. Você acredita ou não acredita", afirma Manuel.

Não é de hoje que Brujo Manuel é chamado por equipes de futebol antes de partidas decisivas. Ele viajou com o Estudiantes de La Plata em 2009 para a final da Libertadores contra o Cruzeiro, no Mineirão. O time argentino ganhou por 2 a 1 e foi campeão. No mês passado, esteve com a delegação do Independiente para a decisão da Sul-Americana diante do Flamengo. Com o empate, os visitantes ficaram com o troféu.

Brujo Manuel sabe sobre o que falar e quando se calar. Católico, tem quatro filhos e atende o público no galpão de uma fábrica abandonada, adornado com imagens da Nossa Senhora Desatadora dos Nós, São Nicolas e Ceferino Namuncurá, salesiano argentino elevado a beato pela Igreja Católica em 2008.

Não revela quanto cobra dos clubes de futebol que solicitam seus serviços. Nem quanto recebeu da seleção argentina pelo sucesso da empreitada em Quito. No seu "consultório", cada um dá quanto pode, afirma.

Na Rússia ou não (mas de preferência lá), Brujo Manuel vai mandar energias positivas para Messi e companhia. Mesmo que o craque argentino não acredite muito que exista tanta coisa assim entre o céu e a terra.

"Sabia que ele [Brujo Manuel] estava ali. Não sei se ajudou. Se ajudou, que seja bem-vindo, porque nós necessitávamos de qualquer coisa para nos classificarmos. Dizem que ele curou as minhas chuteiras, mas não creio nessas coisas. Não sei se ajudou mas, pessoalmente, não creio nisso", disse o craque argentino para o canal TyC.

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