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11/06/2007 - 18h41

Análise: EUA armam sunitas para resistir à Al Qaeda no Iraque

JIM MUIR
da BBC, em Bagdá

Há sinais cada vez mais fortes de que os Estados Unidos estão se voltando para uma nova tática na tentativa de conter a insurgência sunita no Iraque.

No domingo, comandantes militares dos Estados Unidos e autoridades provinciais iraquianas se encontraram com 130 xeques tribais sunitas na cidade natal de Saddam Hussein, Tikrit.

De acordo com os EUA, os líderes chegaram a um "acordo histórico" para desempenhar um papel mais ativo na defesa da problemática Província, Salahuddin, contra os assédios da Al Qaeda e outros grupos radicais insurgentes.

É a mais recente medida do que está se tornando claramente uma das principais investidas da estratégia de retirada americana aqui: fortalecer e armar as tribos e facções árabes sunitas, à condição de que se comprometam a resistir a militantes externos, como a Al Qaeda.

Ninho insurgente

Um dos principais comandantes militares dos EUA, General Rick Lynch, confirmou que o país está se inclinando para a solução de treinar e armar grupos sunitas a fim de que eles possam proteger suas próprias áreas, que normalmente ficam sob o cuidado da polícia iraquiana.

Marcelo Katsuki/Fol

"Há xeques tribais que dizem: 'Ei, simplesmente me deixe ser a força de segurança local. Não me importa de que me você me chamará, você pode me chamar com o nome que quiser. Apenas me dê o treinamento correto e equipamentos, e protegerei minha área'. Essa é a direção para a qual estamos caminhando", diz o general Lynch.

Comandantes americanos no campo de batalha têm sido autorizados e até estimulados a adotar acordos de cessar-fogo com facções sunitas sempre que possível, mesmo as que no passado foram suspeitas de usar armas contra os EUA.

É uma tática considerada bem-sucedida na Província ocidental de Al Anbar, onde tribos sunitas têm entrado em confronto com a Al Qaeda e seus aliados.

Al Anbar foi até recentemente sinônimo de "ninho de insurgência", mas comandantes americanos têm registrado uma marcante redução na violência desde que muitas das tribos sunitas da província se aliaram ao governo e encorajaram seus seguidores a entrar para as fileiras da polícia local.

Alguns postos de recrutamento da polícia de Al Anbar também foram atacados por insurgentes ligados à Al Qaeda, alimentando ainda mais o ressentimento da população local contra eles.

A insurgência sempre foi composta de diversas facções. Os governos americano e iraquiano sempre consideraram, e ainda consideram, grupos como a Al Qaeda no Iraque como irreconciliáveis e inaceitáveis.

Também conhecidos como "jihadistas" ou "salafis", acredita-se que muitos dos combatentes e homens-bomba desses grupos são radicais islâmicos extremistas de fora do país.

Sua linha irreconciliável de Islã fundamentalista parece ter começado a alienar facções mais nacionalistas da insurgência iraquiana, algumas delas de ex-integrantes do Baath, o partido de Saddam Hussein, outras apenas sunitas ressentidos com a coalizão liderada pelos EUA e um governo que percebem como pouco representativo dos seus interesses.

Admissão tática

Entretanto, uma declaração recente do grupo Estado Islâmico, ligado à Al Qaeda, teve como objetivo pôr em dúvida a medida até onde as tribos se voltaram contra a rede.

A declaração agradeceu os lideres tribais por "ajudar e apoiar os mujahideen em sua confrontação com os cruzados, e rejeitar aqueles que venderam sua religião e seu povo por um preço muito baixo".

O grupo disse que "dezenas de promessas dos chefes e nobres tribais foram recebidas por nós". "Mesmo depois de quatro anos de combates e matanças [as tribos] continuam a oferecer suas crianças e prover abrigo aos mujahideen", disse o grupo.

Entretanto, tem havido conflitos entre o Estado Islâmico no Iraque e o Exército Islâmico do Iraque, uma facção sunita local de caráter nacionalista, pelo controle do distrito de Amariya, no sudoeste de Bagdá.

Os dois lados, ex-aliados contra a presença americana, concordaram em um cessar-fogo, embora as tensões subjacentes permaneçam.

Política fracassada

A decisão americana de enfatizar a segurança em nível local é uma admissão tácita de que, pelo menos em algumas áreas, a política de confiar na polícia e em forças iraquianas não tem funcionado.

Estas instituições estão corroídas de problemas. É difícil encontrar oficiais dispostos a tomar a dianteira. O sectarismo e a penetração das milícias é um problema crescente, sobretudo na polícia.

Autoridades americanas admitem que o aumento de tropas em Bagdá é diminuído pelo fato de que a polícia iraquiana não se comprovou à altura da tarefa de garantir a segurança de diversas áreas.

Fortalecer tribos sunitas e grupos locais para cuidar de sua própria segurança pode se revelar parte da solução --embora isto não vá resolver os problemas do país em qualquer hipótese.

 

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