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11/11/2004
-
13h28
da BBC Brasil, em Nova York
Quem armou minha entrevista com Arafat foi um pastor americano esquerdista que tinha conexões com a OLP em Washington, onde fui receber instruções de um diplomata da Jordânia.
No mundo ocidental, Arafat, mais do que um terrorista, era o próprio pai do terrorismo moderno, um homem marcado para morrer, mas que trafegava nas capitais árabes, em Moscou e Pequim.
Em Beirute, entramos em contato com a OLP e nos explicaram que antes de encontrar o chefe, nossa equipe, da Rede Globo, passaria por uma educação palestina.
Clique aqui para ouvir esta crônica na voz de Lucas Mendes
Teríamos de contratar um guia e um carro com motorista pagando a cada um cem dólares por dia, em dinheiro vivo.
Recebemos uma série de lavagens cerebrais mais primitivas e ingênuas. Visitas a escolas palestinas, campos clandestinos de treinamento militar, conversas com líderes políticos.
No dia seguinte, a mesma rotina, noutra escola, noutro campo e o mesmo líder. E mais duzentos dólares para nossos guias. Dava raiva e dava pena.
Era muito difícil conseguir uma entrevista com Arafat. A OLP me disse que ele nunca tinha falado com a imprensa brasileira. Talvez fosse verdade, mas eles mentiam com freqüência.
No 21º dia, pouco depois de meia-noite, um grupo muito armado nos pegou no hotel e nos levou de carro em alta velocidade para encontrar Arafat num prédio modesto no bairro palestino em Beirute.
A entrevista durou meia hora e não tinha nenhuma revelação importante. Era uma arenga, às vezes teatral, contra Israel e os Estados Unidos .
Quando terminou, ele me deu um beijo lambuzado no rosto e saí de lá com a impressão de que tinha feito uma das últimas, senão a última entrevista com Arafat. Não sei por que achava que ele morreria num atentado em pouco tempo. Minha entrevista seria histórica.
Isto foi em 79. Há 25 anos. Desde então, ele escapou de atentados, do cerco de Ariel Sharon em Beirute, virou estadista, ganhou o prêmio Nobel, e só nesta semana morreu três vezes e ressuscitou duas. Um homem d'outro mundo.
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Homem d'outro mundo
LUCAS MENDESda BBC Brasil, em Nova York
Quem armou minha entrevista com Arafat foi um pastor americano esquerdista que tinha conexões com a OLP em Washington, onde fui receber instruções de um diplomata da Jordânia.
No mundo ocidental, Arafat, mais do que um terrorista, era o próprio pai do terrorismo moderno, um homem marcado para morrer, mas que trafegava nas capitais árabes, em Moscou e Pequim.
Em Beirute, entramos em contato com a OLP e nos explicaram que antes de encontrar o chefe, nossa equipe, da Rede Globo, passaria por uma educação palestina.
Clique aqui para ouvir esta crônica na voz de Lucas Mendes
Teríamos de contratar um guia e um carro com motorista pagando a cada um cem dólares por dia, em dinheiro vivo.
Recebemos uma série de lavagens cerebrais mais primitivas e ingênuas. Visitas a escolas palestinas, campos clandestinos de treinamento militar, conversas com líderes políticos.
No dia seguinte, a mesma rotina, noutra escola, noutro campo e o mesmo líder. E mais duzentos dólares para nossos guias. Dava raiva e dava pena.
Era muito difícil conseguir uma entrevista com Arafat. A OLP me disse que ele nunca tinha falado com a imprensa brasileira. Talvez fosse verdade, mas eles mentiam com freqüência.
No 21º dia, pouco depois de meia-noite, um grupo muito armado nos pegou no hotel e nos levou de carro em alta velocidade para encontrar Arafat num prédio modesto no bairro palestino em Beirute.
A entrevista durou meia hora e não tinha nenhuma revelação importante. Era uma arenga, às vezes teatral, contra Israel e os Estados Unidos .
Quando terminou, ele me deu um beijo lambuzado no rosto e saí de lá com a impressão de que tinha feito uma das últimas, senão a última entrevista com Arafat. Não sei por que achava que ele morreria num atentado em pouco tempo. Minha entrevista seria histórica.
Isto foi em 79. Há 25 anos. Desde então, ele escapou de atentados, do cerco de Ariel Sharon em Beirute, virou estadista, ganhou o prêmio Nobel, e só nesta semana morreu três vezes e ressuscitou duas. Um homem d'outro mundo.
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