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16/11/2004 - 15h49

Caio Blinder: No 2º mandato, Bush deve abafar debate interno

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Além do ponto óbvio do reforço da postura unilateralista e mais agressiva, a mexida no ministério de Bush para o segundo mandato do presidente tem outro significado profundo. Esta é uma Casa Branca que preza muito mais a lealdade do que o debate franco de idéias.

Com a saída de cena de Colin Powell e a promoção da assessora de segurança nacional Condoleezza Rice para o cargo de secretária de Estado é possível dizer sem nenhum tato diplomático que o arrocho intelectual impera em Washington.

A palavra-de-ordem é pensar com apenas uma cabeça e abafar a discussão. Mais do que isso, funcionários encarregados de implementar a política oficial são extremamente próximos de Bush. São confidentes ou amigos pessoais do presidente.

Este padrão já transpareceu na semana passada com a indicação de Alberto Gonzáles para ser ministro da Justiça no lugar de John Ashcroft. O demissionário é um herói da direita cristã. Isso, no entanto, não o salvou. Ele nunca foi parte do círculo de poder ou de confiança do presidente.

Já Gonzáles, assessor jurídico da Casa Branca, acompanha Bush desde os tempos em que ele era governador do Texas.

Intimidade

O caso de Condoleezza Rice é ainda mais acentuado. Ela geralmente passa o fim de semana em Camp David com Bush e sua mulher, Laura. Nas raras horas de folga, a acadêmica da Universidade de Stanford "debate" resultados dos jogos de futebol americano com o presidente.

Como Colin Powell, Condoleezza Rice não é uma pensadora estratégica profunda. Seu impacto será dar mais peso ao Departamento de Estado em constante conflito com o Pentágono de Donald Rumsfeld, para não dizer o vice-presidente, Dick Cheney.

Ironicamente quando assumiu o cargo de assessora de segurança nacional, Condoleezza Rice era vista como uma moderada e uma realista, mais ao esquema de Colin Powell do que dos neoconservadores.

Mas, com o passar do tempo, ela pendeu para o lado dos unilateralistas e não exerceu com competência o papel atribuído inicialmente: mediar os conflitos entre as facções da administração Bush.

Isso não impediu que tivesse algumas rusgas com o Pentágono sobre a reconstrução do Iraque. Aqui outra nota baixa: ela não assegurou que o esforço no pós-guerra estivesse nos eixos desde o começo.

A especialidade acadêmica de Condoleezza Rice é o finado bloco soviético. Esse conhecimento a levou a trabalhar na Casa Branca do primeiro presidente Bush quando um dos grandes conflitos do século 20, a Guerra Fria, chegava ao fim.

Para este presidente Bush, a assessora de segurança nacional foi crucial no empenho para estreitar os laços com a Rússia de Vladimir Putin, o que agora gera um certo desconforto diante do crescente autoritarismo em Moscou.

Os desafios imediatos para Condoleezza Rice são em áreas como as ambições nucleares do Irã e Coréia do Norte, além da questão palestina. São áreas de atuação em que ela não tem o trânsito internacional de Colin Powell, que mesmo enfraquecido nas brigas internas em Washington insistia na necessidade de flexibilidade.

Para o lugar de Condoleezza Rice no Conselho de Segurança Nacional foi seu lugar-tenente, Stephen Hadley. Ele não precisará se engajar com afinco em algumas das tarefas da chefe que parte. Não existem muitas arestas para aparar em um governo cada vez mais rígido e uniforme.

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