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03/01/2005
-
15h18
da BBC Brasil, em Nova York
Para o governo Bush é a hora de um tsunami diplomático. O secretário de Estado Colin Powell foi transparente. Disse que a mobilização americana para ajudar o sul da Ásia devastado pelo maremoto é um impulso humanitário, mas se trata também de um "investimento em segurança nacional."
De imediato, os Estados Unidos esperam que os passos dados nos últimos dias alterem a percepção de insensibilidade e lentidão que marcou a reação logo após o desastre.
Houve o anúncio patético de ajuda de US$ 35 milhões e as 72 horas que o presidente Bush, em férias no rancho do Texas, levou para fazer um comentário público e ainda por cima para se defender das críticas sobre a suposta falta de generosidade americana.
Nesta segunda-feira foi o apelo de Bush, ao lado dos ex-presidentes Bush pai e Clinton, por mais doações privadas. Há a promessa de US$ 350 milhões de assistência oficial [e muito mais] e helicópteros em tarefas de socorro saudados por populações famintas.
É a maior operação militar americana no sul da Ásia desde os tempos da Guerra do Vietnã. A reclamação hoje é que se trata de uma intervenção insuficiente do país com os maiores recursos financeiros e capacidade logística do mundo.
Reconhecimento
A Casa Branca enviou o secretário Powell e Jeb Bush, o governador da Flórida dos furacões, para uma missão de reconhecimento na região devastada.
O recado do presidente é de que ao despachar o seu irmão é como se ele estivesse presente. E de fato faz sentido a justificativa de Powell de que uma visita neste momento de George W. Bush ao sul da Ásia iria basicamente desviar atenções e até atrapalhar os esforços humanitários urgentes.
Nos últimos dias foram insistentes os recados de que o governo Bush está diante de uma oportunidade invejável para reverter a maré de ressentimento antiamericano.
Como disse o professor de história da Universidade de Yale, John Lewis Gaddis, um dos decanos acadêmicos do país, o maremoto representa uma chance para se tentar ir além da frustração internacional com os EUA no Iraque e as tensões no mundo islâmico.
O ex-embaixador americano na Tailândia, Morton Abramowitz, complementou que seu governo pode provar ao mundo que é capaz de superar sua obsessão com a chamada guerra contra o terror.
E, como observou o jornal "The New York Times", não há dúvida de que até agora a região devastada pelo maremoto e sua vizinhança se encaixou na grande estratégia de Bush como uma segunda frente nesta batalha contra o terrorismo e como um local em que conflitos Coréia do Norte, Taiwan e rivalidades Índia-Paquistão --devam ser neutralizados.
Com maciça assistência humanitária e um novo enfoque geopolítico no sul da Ásia existem oportunidades óbvias como baixar a onda de antiamericanismo em países como a Indonésia, detentora da maior população muçulmana do mundo.
A especialista Tracy Dahlby, que está publicando um novo livro sobre a Indonésia chamado A Tocha de Alá, observa que há cinco anos 75% dos indonésios tinham sentimentos positivos em relação aos EUA isto logo após a intervenção na crise financeira asiática e o fim da ditadura Suharto. O número despencou para 15%.
A imagem negativa dos Estados Unidos no exterior contrasta com a percepção equivocada dentro de casa. De acordo com uma pesquisa, a maioria dos americanos acreditam que o país gaste 24% do seu orçamento em assistência a nações pobres.
É um gasto inferior a 0,24%. Ademais, ajuda prometida nem sempre se concretiza. As vítimas do terremoto iraniano em Bam no final de 2003 ainda não viram a assistência se materializar no nível prometido.
O impacto humano da tragédia no sul da Ásia nunca deixa de estarrecer, mas as indicações são de danos econômicos menores do que se temia. Mas é preciso sempre levar em conta que o maremoto atingiu uma das áreas mais miseráveis do planeta. Não é à toa que Colin Powell tem sido infatigável para advertir que uma intervenção humanitária da superpotência americana é uma questão de interesse nacional.
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CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
Para o governo Bush é a hora de um tsunami diplomático. O secretário de Estado Colin Powell foi transparente. Disse que a mobilização americana para ajudar o sul da Ásia devastado pelo maremoto é um impulso humanitário, mas se trata também de um "investimento em segurança nacional."
De imediato, os Estados Unidos esperam que os passos dados nos últimos dias alterem a percepção de insensibilidade e lentidão que marcou a reação logo após o desastre.
Houve o anúncio patético de ajuda de US$ 35 milhões e as 72 horas que o presidente Bush, em férias no rancho do Texas, levou para fazer um comentário público e ainda por cima para se defender das críticas sobre a suposta falta de generosidade americana.
Nesta segunda-feira foi o apelo de Bush, ao lado dos ex-presidentes Bush pai e Clinton, por mais doações privadas. Há a promessa de US$ 350 milhões de assistência oficial [e muito mais] e helicópteros em tarefas de socorro saudados por populações famintas.
É a maior operação militar americana no sul da Ásia desde os tempos da Guerra do Vietnã. A reclamação hoje é que se trata de uma intervenção insuficiente do país com os maiores recursos financeiros e capacidade logística do mundo.
Reconhecimento
A Casa Branca enviou o secretário Powell e Jeb Bush, o governador da Flórida dos furacões, para uma missão de reconhecimento na região devastada.
O recado do presidente é de que ao despachar o seu irmão é como se ele estivesse presente. E de fato faz sentido a justificativa de Powell de que uma visita neste momento de George W. Bush ao sul da Ásia iria basicamente desviar atenções e até atrapalhar os esforços humanitários urgentes.
Nos últimos dias foram insistentes os recados de que o governo Bush está diante de uma oportunidade invejável para reverter a maré de ressentimento antiamericano.
Como disse o professor de história da Universidade de Yale, John Lewis Gaddis, um dos decanos acadêmicos do país, o maremoto representa uma chance para se tentar ir além da frustração internacional com os EUA no Iraque e as tensões no mundo islâmico.
O ex-embaixador americano na Tailândia, Morton Abramowitz, complementou que seu governo pode provar ao mundo que é capaz de superar sua obsessão com a chamada guerra contra o terror.
E, como observou o jornal "The New York Times", não há dúvida de que até agora a região devastada pelo maremoto e sua vizinhança se encaixou na grande estratégia de Bush como uma segunda frente nesta batalha contra o terrorismo e como um local em que conflitos Coréia do Norte, Taiwan e rivalidades Índia-Paquistão --devam ser neutralizados.
Com maciça assistência humanitária e um novo enfoque geopolítico no sul da Ásia existem oportunidades óbvias como baixar a onda de antiamericanismo em países como a Indonésia, detentora da maior população muçulmana do mundo.
A especialista Tracy Dahlby, que está publicando um novo livro sobre a Indonésia chamado A Tocha de Alá, observa que há cinco anos 75% dos indonésios tinham sentimentos positivos em relação aos EUA isto logo após a intervenção na crise financeira asiática e o fim da ditadura Suharto. O número despencou para 15%.
A imagem negativa dos Estados Unidos no exterior contrasta com a percepção equivocada dentro de casa. De acordo com uma pesquisa, a maioria dos americanos acreditam que o país gaste 24% do seu orçamento em assistência a nações pobres.
É um gasto inferior a 0,24%. Ademais, ajuda prometida nem sempre se concretiza. As vítimas do terremoto iraniano em Bam no final de 2003 ainda não viram a assistência se materializar no nível prometido.
O impacto humano da tragédia no sul da Ásia nunca deixa de estarrecer, mas as indicações são de danos econômicos menores do que se temia. Mas é preciso sempre levar em conta que o maremoto atingiu uma das áreas mais miseráveis do planeta. Não é à toa que Colin Powell tem sido infatigável para advertir que uma intervenção humanitária da superpotência americana é uma questão de interesse nacional.
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