Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/02/2005 - 04h59

Papa compara legalização do aborto a apoio ao nazismo

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

O papa João Paulo 2º comparou a aprovação do aborto por legislativos nacionais ao consentimento dado pelo Parlamento alemão às políticas nazistas nos anos 1930 e 1940.

"Foi um Parlamento regularmente eleito que consentiu que Hitler chegasse ao poder na Alemanha", diz o papa no livro Memória e Identidade, lançado nesta terça-feira em Roma.

De acordo com o Sumo Pontífice, o apoio parlamentar ao nazismo é suficiente "para ver com clareza que a lei estabelecida pelo homem tem limites precisos" e suscita um questionamento "sobre escolhas legislativas decididas nos Parlamentos dos atuais regimes democráticos".

"A referência mais imediata é à lei do aborto", afirma o papa no livro. "Quando um Parlamento autoriza a interrupção da gravidez, comete um grave abuso para com um ser humano inocente e privado de qualquer capacidade de autodefesa."

João Paulo 2º continua dizendo que os parlamentares que aprovam leis como a do aborto "vão além de suas competências e se colocam em evidente conflito com a lei de Deus e com a lei da natureza".

Conversas

Além do aborto, o papa também critica a aprovação de leis que permitem a eutanásia e uniões homossexuais.

No livro, que será traduzido para dez línguas e lançado no Brasil, o papa também analisa os regimes totalitários e relembra os dramáticos momentos vividos durante o atentado que quase custou sua vida em maio de 1981.

Sobre o comunismo, João Paulo 2º diz que o "sistema" caiu em parte como resultado da "doutrina econômica pobre" que o embasava, mas sugere que há razões divinas por trás do fim dos regimes marxistas.

"Não foram apenas fatores econômicos. Sei bem que seria ridículo acreditar que tenha sido o papa a abater com suas próprias mãos o comunismo. A explicação está no evangelho."

"Permissividade"

Mas um outro totalitarismo ameaçaria a Humanidade: o "antievangelho" --que se disfarça, segundo o papa, de democracia.

Ele acusa a sociedade contemporânea ocidental de propagar a idéia de que é preciso viver como se Deus não existisse.

No entanto, assim, as pessoas perderiam as coordenadas sobre o bem e o mal, de acordo com o papa.

São essas correntes que difundem, na opinião de João Paulo 2º, a permissividade moral que ameaça a família com o divórcio, o amor livre, o aborto, a eutanásia, a manipulação genética e o casamento de homossexuais.

Atentado

No fim do livro, João Paulo 2º recorda o atentado que sofreu na praça de São Pedro, em maio de 1981.

Ele descreve o que sentiu com detalhes até chegar ao hospital, onde perdeu os sentidos, mencionando inclusive a nítida sensação de que sobreviveria.

"Tudo aquilo foi testemunho da graça divina. Agca sabia como atirar e atirou para acertar. Foi como se alguém tivesse guiado e desviado aquele projétil."

O livro não é uma autobiografia ou uma coleção de ensaios, mas a versão escrita das conversas que o pontífice teve durante o verão de 1993 com dois amigos filósofos, poloneses como ele.

Kristof Michalski e Jozef Tishner encontraram João Paulo 2º na residência de verão do papa em Castelgandolfo, a poucos quilômetros de Roma.

As conversas eram gravadas, e depois o material foi elaborado e retocado pelo próprio papa para se transformar no livro publicado pela editora Rizzoli.

Memória e Identidade é o quinto livro de João Paulo 2º. Antes, ele publicou Cruzando o Limiar da Esperança, Dom e Mistério, Tríptico Romano, de poesias, e Alzatevi, Andiamo.

Leia mais
  • Pentágono nega que realiza vôos de espionagem sobre o Irã
  • Bioterror é maior ameaça do terrorismo, diz Interpol

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre legalização do aborto
  • Leia o que já foi publicado sobre o papa João Paulo 2°
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página