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10/06/2005 - 08h14

Protestos na Bolívia unem de elite a camponeses

JAMES PAINTER
da BBC Brasil

A Bolívia tem longa tradição de protestos políticos organizados e foi o primeiro país sul-americano a passar por uma revolução de esquerda em 1952, que nacionalizou as minas e tornou o direito ao voto universal.

O país tem uma história de forte sociedade civil e governos fracos. Os mais recentes movimentos de protesto surgiram no fim dos anos 90, motivados, principalmente, pela falta de melhoria nas condições de vida dos mais pobres --em sua maioria indígenas --e desilusão com os partidos tradicionais.

Veja abaixo os grupos envolvidos na atual crise:

Favelados de El Alto

O grupo tem sido um dos mais ativos nas últimas semanas, bloqueando as estradas entre El Alto e a vizinha La Paz, dificultando o acesso à cidade.

Cerca de 750 mil pessoas vivem em El Alto, que continua crescendo, principalmente com a chegada de novos imigrantes rurais da cultura Aymara.

O grupo liderado por Abel Mamani defende a nacionalização dos setores de gás, o fim da economia de livre mercado e mais direitos políticos para os indígenas.

O grupo foi instrumental na derrubada do governo de Gonzalo Sanchez de Losada, em outubro de 2003, e também lutou contra a concessão dos suprimentos de água à uma empresa francesa.

Evo Morales e os plantadores de coca de Chapare

Evo Morales é um índio da etnia Aymara que se tornou conhecido como líder dos plantadores de coca na região de Chapare, centro da Bolívia, onde está concentrada a produção.

O partido dele, MAS (Movimento ao Socialismo), ficou em segundo lugar nas eleições gerais de 2002. Ele é considerado menos radical e mais flexível do que outros líderes indígenas, mas recentemente anunciou ser favorável à nacionalização do setor de energia, o que ele considera "não negociável".

Morales é totalmente contra a intervenção americana na Bolívia --principalmente na questão da erradicação da coca-- e tem relações com o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, uma das razões pelas quais o governo dos EUA não o vê com bons olhos.

O líder indígena defende a convocação de novas eleições.

Felipe Quispe e os pequenos agricultores

Felipe Quispe é um líder Aymara radical das montanhas bolivianas.

Ele defende a formação de um Estado aymara independente e ataca constantemente a "elite branca" boliviana.

Em 1998 se tornou conhecido ao assumir a liderança da poderosa federação dos pequenos agricultores, a CSUTCB, e o partido de Quispe, MIP (Movimento Indígena Pachakuti), elegeu seis representantes para o Congresso nas eleições de 2002.

Ele, no entanto, renunciou ao cargo depois, para voltar ao ativismo de raiz. O grupo de Quispe não é visto como um dos principais nos atuais protestos.

Os mineiros

Historicamente, os mineiros da Bolívia foram, provavelmente, o sindicato mais militante de toda a América Latina, formando a espinha dorsal da confederação dos trabalhadores da Bolívia.

Mas nos anos 80 o número de mineiros no país diminuiu bastante por conta da queda do preço do estanho no mercado internacional.

Nos últimos protestos eles têm lutado contra a proposta de privatizar as aposentadorias e vêm mantendo a tradição boliviana de explodir dinamite durante as manifestações.

Manifestantes em Cochabamba

Cochabamba é a quarta maior cidade boliviana (depois de La Paz, Santa Cruz e El Alto).

Os manifestantes de lá ficaram conhecidos internacionalmente em 2000, quando uma série de violentos choques eventualmente levaram o governo a voltar atrás na concessão do suprimento de água para uma subsidiária da multinacional americana Bechtel.

Tanto os usuários urbanos, como os agricultores e os plantadores de coca dos arredores de Chapare se uniram em protestos maciços, numa das primeiras tentativas bem sucedidas de se opor ao modelo econômico de livre mercado dos últimos 20 anos.

O líder das marchas em Cochabamba foi Oscar Olivera, que hoje lidera o movimento pela nacionalização do gás boliviano. Eles também exigem a eleição de uma nova Assembléia Constituinte.

Indígenas e agricultores de Santa Cruz

Os indígenas no estado de Santa Cruz, leste do país, são uma mistura de imigrantes de outras partes da Bolívia e grupos indígenas como o Guaraní, Ayoreo, Chiquitano e Guarayos.

Eles estão envolvidos em disputas por terras. A principal organização é o CIDOB, mas há alguns movimentos mais radicais como o MST --semelhante ao Movimento dos Sem Terra brasileiro-- que esteve envolvido na tomada de terras dos últimos 10 anos.

A mais famosa foi a ocupação de três plataformas de petróleo da British Petroleum no país. Nos proetstos de agora, os índios Guarani ocuparam campos de petróleo controlados pela Repsol e BP, forçando as duas empresas a diminuir a produção.

A elite de Santa Cruz

Historicamente, os cruceros gostam de se distinguir dos habitantes das montanhas. A região é a mais rica em recursos naturais e, nos últimos meses, suas exigências por maior autonomia vêm se tornando mais visíveis, em parte por causa dos protestos pela nacionalização do setor de energia.

Eles argumentam que por ser o setor econômico mais dinâmico e que mais cresce na Bolívia, eles deveriam ficar com uma fatia maior da receita gerada pela exploração do gás.

Os grandes criadores de gado e agricultores apóiam o movimento que, em janeiro deste ano, organizou protestos pressionando por maior autonomia.

Os líderes locais já avisaram que vão levar adiante o referendo por autonomia em agosto deste ano, com ou sem a aprovação do governo central.

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