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25/07/2006 - 13h46

Israel é acusado de usar palestinos como "escudos"

LUCY WILLIAMSON
da BBC Brasil

O Exército israelense foi acusado de usar civis palestinos como escudos humanos em uma operação no norte de Gaza.

De acordo com o grupo israelense de direitos humanos B'tselem, seis civis, entre eles dois menores, foram submetidos à tática ilegal durante uma incursão na cidade de Beit Hanoun, na semana passada.

Há pilhas de escombros levando até um buraco na casa de Hazem Ali.

Faz uma semana que Israel fez a incursão em Beit Hanoun, mas os danos à estrutura da casa parecem recentes, a vida dessa família ainda exposta através dos pedaços de concreto pendurados na parede.

Uma cama quebrada, algumas vigas caídas em cima dela, um armário elegante ainda encostado na parede ao fundo.

Foi logo após o amanhecer que o Exército de Israel forçou sua entrada. Hazem dormia, num momento de descanso do seu trabalho como engenheiro numa agência de notícias palestina.

"Vendado"

Sua mãe os encontrou no corredor: soldados israelenses dentro de uma casa palestina. Atrás dela, Hazem e seus dois irmãos apareceram, um a um.

Os três irmãos foram vendados, conta Hazem, e suas mãos amarradas nas costas. Ele me mostra as feridas nos pulsos causadas pelas algemas de plástico --ainda infeccionadas, mas começando a curar.

Ele me leva até o local onde os soldados os colocaram: do lado de fora do apartamento de terceiro andar, nas escadas, virados para os degraus.

"Eu acho que eles nos colocaram aqui porque estavam aguardando a chegada de militantes suicidas, já que nenhum dos soldados estava nas escadas --eles estavam todos dentro do apartamento. Eles nos colocaram aqui para que atirassem na gente primeiro."

Dentro do apartamento, os soldados socaram as paredes fazendo buracos na sala e no quarto. Através deles, atiradores enfrentavam militantes palestinos. Hazem e seus irmãos ouviram tudo, mas não podiam ver nada.

Hazem diz que naquele momento não tinha idéia de quanto tempo ele tinha sido mantido ali.

Tudo que ele se lembrava era do som de artilharia pesada ao seu redor e de contar os chamados para as rezas que ecoavam na vizinhança: um na hora do almoço, um à tarde e um logo após o pôr-do-sol. Doze horas no total.

Ele conta que esperava ser morto a qualquer minuto. Hazem ainda não consegue entender por que, como civis, eles não foram mantidos dentro da casa, onde estariam mais seguros. "Mas eles nos colocaram no meio do confronto", diz ele. "Não havia necessidade disso."

Tática ilegal

Alegações sobre o uso de escudos humanos por Israel já apareceram antes. Na última vez, elas foram manchete durante a Operação Escudo de Defesa, na cidade de Jenin, na Cisjordânia, há quatro anos.

O Exército negou que seu pessoal tenha usado civis como escudos humanos sistematicamente durante aquela operação, mas emitiu uma ordem tornando a prática ilegal, assim como fez a Suprema Corte israelense.

Mas Yekhezel Lain, diretor de pesquisa do grupo de direitos humanos israelense B'tselem, diz estar preocupado que essas garantias estejam se desgastando. Ele afirma que os casos de Beit Hanoun na semana passada são os primeiros desde a decisão da Suprema Corte israelense.

"Esta foi uma violação grosseira da proibição do uso de escudos humanos", disse. "Eram simplesmente soldados se escondendo atrás de civis que foram mantidos à força em sua própria casa."

O B'tselem diz que está investigando relatos de outros incidentes similares em Gaza durante o mês passado. O grupo também se preocupa com o fato de que --tendo se retirado de Gaza no ano passado-- o Exército israelense veja a região como diferente de outros territórios palestinos.

De acordo com o B'tselem, Israel poderia estar estabelecendo regras diferentes para a faixa de Gaza, onde segundo o Estado não há mais ocupação. Lá estaria ocorrendo apenas uma situação de guerra ou conflito armado.

O grupo de direitos humanos não acredita que haja diferença entre estes dois casos quando se trata de proteger civis.

O Exército de Israel disse à BBC que os incidentes em Beit Hanoun estavam sendo investigados e que seus soldados eram obrigados a agir de acordo com seus princípios morais e as regras da instituição. Qualquer desvio, eles disseram, seria investigado a fundo.

Enquanto espera notícias sobre o seu caso em Beit Hanoun, Hazem Ali chamou operários para tapar os buracos nas paredes de seu apartamento, recolocar vidros nas janelas e consertar o que mais for possível.

Sua mulher, enquanto isso, se prepara para o nascimento de seu primeiro filho. Ela é meio egípcia e vem pedindo a Hazem há meses que eles se mudem da faixa de Gaza. Mas ele se recusa a deixar a região. "Não se pode fugir de Gaza", diz ele.

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