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07/11/2006 - 18h12

Bush, o presidente "velcro", enfrenta teste final nos EUA

MATT FREI
da BBC, em Washington

"Toda a política é local", de acordo com um clichê testado e confirmado em Washington. Mas, certamente, as eleições desta terça-feira são principalmente um referendo sobre o presidente George W. Bush.

Se Ronald Reagan era o presidente "Teflon", em quem nada aderia, Bush se tornou o presidente velcro, em quem tudo gruda. Pode-se dizer que esse é o preço de uma liderança decisiva.

Apenas um dia antes das eleições, George W. Bush estava em campanha em Pensacola, na Flórida [o Estado que seu irmão governou com enorme sucesso].

Lá, as tentativas republicanas de suceder Jeb Bush não vinham incluindo o presidente. O único comercial de TV em que Bush aparece é o da oposição.

Os únicos Estados onde o presidente, que é ótimo em campanha, pôde exercitar seu charme sobre os eleitores foram aqueles onde o público já o adora como o Kansas.

Ou pediram para a Casa Branca ficar de longe ou ela está tentando tapar os buracos que apareceram em lugares inesperados, onde imaginaram que não precisariam gastar tempo ou dinheiro.

Capital político

O segundo mandato do presidente não deveria ter sido assim.
No dia seguinte a sua vitória sobre John Kerry, com o partido presidencial tendo controle firme sobre o Congresso, um energético George W. Bush anunciou que tinha "conquistado capital político e pretendia gastá-lo".

O presidente abriu seu cofrinho político em uma tentativa de reformar o sistema previdenciário. A reforma era uma boa idéia, até mesmo necessária, mas as tentativas de realizá-la foram desastrosas. Em meses, o complicado plano do presidente estava juntando poeira.

Na seqüência, vieram derrotas e indignidades ainda maiores, que custaram os centavos que haviam sobrado ao presidente após o debate sobre a Previdência.

O furacão Katrina produziu níveis de devastação chocantes, que só foram superados pela incompetência inacreditável do governo.

E houve ainda a corrupção: financeira e, aparentemente, sexual. O republicano Tom "Martelo" DeLay precisou deixar seu cargo na Câmara dos Representantes.

Pelo menos três outros parlamentares republicanos foram investigados em um ou outro escândalo. Um já está preso, e outro parece que vai seguir o mesmo caminho.

Acrescente a isso Mark Foley, o republicano da Flórida que mandou e-mails libidinosos e mensagens instantâneas para páginas de adolescentes, e você tem a receita para se criar um presidente velcro.

Mau humor

As más notícias deixaram o Partido Republicano de mau humor. Essa campanha foi marcada por uma série de troca de farpas entre os republicanos.

Os conservadores sociais estão irritados porque o presidente não fez mais para avançar com as cruzadas morais como sua proposta de uma emenda para banir o casamento gay.

Os conservadores fiscais estão lívidos com os gastos do Congresso, milionárias "pontes ligando nada a lugar nenhum" e um déficit orçamentário realmente vergonhoso.

Os neo-conservadores, como Richard Perle e Ken Adelman, estão, pelo que parece, apopléticos com a forma como o Iraque foi mal administrado e com a forma como seu sonho de criar uma democracia no coração do Oriente Médio foi estragado pela mesquinharia do governo com tropas e recursos.

Se a administração é um arco, o Iraque foi a pedra que desmoronou. As mortes diárias a conta-gotas, a guerra civil, a dolorida sensação de impotência, tudo isso diminuiu a confiança do governo e a boa vontade do eleitor.

Os democratas deveriam ser os maiores vencedores com isso, mas estão envolvidos no Iraque, assim como o resto do país.

O maior problema dos democratas é que eles não têm um plano. O maior problema dos republicanos é que os democratas talvez nem precisem de um plano.

Eles vêm seguindo o conselho do falecido estrategista republicano Lee Atwater. "Se o seu oponente está ocupado atirando em si mesmo, não fique no caminho."

Apesar de o país inteiro estar elegendo representantes nesta terça-feira, e um terço dos Estados estarem escolhendo senadores, o controle no Legislativo será decidido por sete vagas do Senado e talvez 25 da Câmara, que tem 435 cadeiras.

Nacionalmente, a corrida eleitoral se tornou uma batalha entre a raiva dos democratas e a organização dos republicanos.

Diferença

As últimas pesquisas indicam que a diferença entre os dois partidos está diminuindo.

Após meses de sólida liderança democrata, à medida que o tempo passa, mais republicanos se sentem subitamente cheios de energia, alarmados ou culpados, decidindo levantar do sofá e ir votar.

De ligações automáticas criadas para amolar os eleitores do partido rival, até campanhas negativas na televisão, essa eleição está se tornando um caso clássico de disputa voto a voto.

Em particular, os republicanos admitem que esperam perder o controle da Câmara, mas que pretendem segurar o Senado.

Mas é importante lembrar que um governo dividido é a regra nos Estados Unidos. No último século, os presidentes enfrentaram duas vezes mais oposição do que apoio no Congresso. Isso não evita que um presidente realize seus planos.

Bill Clinton conseguiu aprovar sua polêmica reforma social dois anos após o choque de um "tsunami republicano". Ele aprendeu como trabalhar com o Congresso, e isso o tornou um presidente melhor.

Poderá George W. Bush, o político convicto, se tornar um "triangulador clintoniano" nos dois anos finais de seu mandato?

Alguns duvidam. Mas isso pode acabar sendo positivo para o presidente. Afinal, o Congresso republicano não fez nenhum favor especial a Bush nos últimos dois anos.

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