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22/02/2005 - 12h39

Político diz estar indignado com acusação de que seria mandante do crime

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PATRÍCIA ZIMMERMANN
da Folha Online, em Brasília

O sindicalista Francisco de Assis dos Santos Souza, 36, conhecido como Chiquinho do PT, recebeu com indignação a acusação de que seria o mandante do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, 73, no último dia 12, em Anapu (PA). "É o maior de todos os absurdos da história."

Chiquinho do PT é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, concorreu nas eleições de 2004 à prefeitura da cidade e era amigo da freira desde 1982.

Em depoimento ontem à Polícia Civil, o preso Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, acusou o sindicalista de ser o mandante do assassinato da freira. Segundo Chiquinho, as declarações de Fogoió são uma tentativa de confundir as investigações da polícia. "As pessoas estão brincando com o poder e a inteligência da polícia", disse o sindicalista, ao comentar que ficou indignado também com a forma como a acusação do preso vazou à imprensa.

A senadora Ana Júlia (PT-PA), que preside a comissão interna do Senado --criada para acompanhar as investigações sobre as mortes no Pará--, afirmou que esta não foi a primeira vez em que teve notícias de informações passadas por assessores do governo do Estado do Pará incriminando representantes de movimentos sociais.

Segundo ela, parte da polícia do Estado já tentou criminalizar a própria irmã Dorothy de ajudar a "armar" os trabalhadores rurais. Ana Júlia disse ainda que as informações de que a morte do trabalhador Adalberto Xavier Leal, assassinado no mesmo dia, seria uma suposta vingança do grupo ligado a Dorothy, também vazaram de assessores do governo.

Reivindicações

Chiquinho integra um grupo de dez lideranças do Pará que está em Brasília hoje para apresentar ao governo uma pauta de reivindicações para resolver os conflitos de terra no Estado.

A reunião deve acontecer no Palácio do Planalto, com representantes dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente, da Justiça, da Secretaria Especial de Direitos Humanos e do Gabinete de Segurança Institucional.

Entre as propostas das lideranças está a criação de um pólo para que a agricultura familiar possa se desenvolver. Segundo Chiquinho, a ordenação do espaço fundiário com a legalização de terras, inclusive acima de 100 hectares, deve ser uma das principais medidas para diminuir os conflitos de terra na região.

As lideranças também vão insistir com o governo na federalização do caso, porque, segundo o sindicalista, as pessoas não se sentem seguras com "alguns elementos" das polícias Civil e Militar.

Segundo Chiquinho, uma das justificativas para a federalização é o fato de a terra, objeto do conflito, passar a ser de propriedade da União. "É preciso que o governo do Estado também assuma o seu papel, reforçando a segurança na região, hoje considerada uma terra sem lei."

Ameaças

Chiquinho disse que, após a morte da freira, recebeu ameaças de morte. Ele contou que, enquanto estava no aeroporto para receber o corpo da irmã Dorothy, dois homens invadiram a casa de seu pai e obrigaram sua prima de 17 anos a escrever um bilhete: "Chiquinho, a Dorothy já morreu, você é o próximo. Você se julga inteligente, mas nós somos mais espertos que você. Isso não é uma ameaça, apenas um aviso."

O bilhete, segundo o sindicalista, foi encaminhado à polícia. A mesma prima de Chiquinho também foi vítima ontem, segundo ele, dos mesmos homens com novas ameaças.

O sindicalista disse que os homens tentaram tirá-la à força da casa de seu pai, mas foram impedidos com a chegada de outras pessoas.

Acusados

A Polícia Civil do Pará e a Polícia Federal prenderam na noite desta segunda-feira Uilquelano de Souza Pinto, acusado de ser um dos dois pistoleiros contratados para matar a freira. O outro seria Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, preso no domingo --ele foi encontrado numa floresta, nas proximidades de Anapu.

Uilquelano Pinto, conhecido como Eduardo, na verdade se chama Clodoaldo Carlos Batista e estava foragido havia mais de uma semana. Ele foi encontrado em Belo Monte, cidade próxima a Anapu e Altamira, no oeste do Pará. A Polícia o localizou após uma denúncia.

Agora, encontra-se foragido apenas o fazendeiro Vitalmiro Gonçalves de Moura, conhecido como Bida, acusado de ser o mandante do crime. A rendição de Vitalmiro está sendo negociada pelo advogado do acusado desde sábado.

O agricultor Amair Feijoli da Cunha, outro dos quatro acusados pelo assassinato da freira Dorothy Stang, já foi formalmente indiciado por homicídio qualificado em processos conduzidos pelas polícias Civil e Federal.

Cunha, conhecido como Tato, prestou depoimento à Polícia Civil de Altamira (PA). Ele é suspeito de ter contratado, a mando do fazendeiro Vitalmiro de Moura Bastos, os supostos pistoleiros Rayfran das Neves Sales e Uilquelano de Souza Pinto para matarem a irmã Dorothy Stang.

Tato se apresentou no sábado à Polícia Civil do Pará em Altamira. Cunha, que negou as acusações e estava com prisão preventiva decretada, foi o primeiro dos quatro suspeitos de participação no crime a ser preso.

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