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24/02/2005 - 19h48

Leia a íntegra do discurso de Lula em Jaguaré (ES)

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da Folha Online

Em discurso realizado na tarde desta quinta-feira, em Jaguaré, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que omitiu informações sobre suposta ocorrência de corrupção em alguns processos de privatização da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Sem citar nomes, Lula revelou que, quando assumiu o governo federal, teria sido informado por uma pessoa de que o processo de corrupção que aconteceu nas privatizações foi "grande" e que algumas delas que foram feitas "levaram a instituição a uma quebradeira".

As declarações causaram uma resposta imediata do PSDB, que decidiu processar o presidente.

Confira abaixo a íntegra do discurso do presidente.

"Meu querido companheiro Paulo Hartung, governador do estado do Espírito Santo,

Minha querida companheira Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia,

Meu caro Dom Aldo Gerna, bispo de São Mateus,

Meu caro senador Gerson Camata,

Meu caro senador Francisco Pereira,

Meu querido companheiro Eduardo Dutra, presidente da Petrobrás,

Deputados federais Iriny Lopes, Rose de Freitas,

Deputados federais Feu Rosa, Jair de oliveira, Manato, Marcelino Fraga,
Neucimar Fraga e Renato Casagrande,

Meu querido companheiro João Coser, prefeito de Vitória,

Meu caro Rogério Feitani, prefeito de Jaguaré em exercício, eu espero que seja um exercício longo,

Meus caros prefeitos da região,

Meu querido Carlos Vereza,

Meus queridos funcionários da Petrobras,

Diretores da Petrobras,

Meus amigos e minhas amigas,

Eu estava comentando com a Dilma, porque eu estou com um problema que é o seguinte: toda vez que eu converso com os ministros e com a Petrobras para pegar informações para preparar o meu discurso, eu termino tendo um problema, porque como eu sou o último orador, os números que eu coloco no meu discurso, eles citam antes de mim e eu fico a priori prejudicado no meu discurso.

Eu não sei se vocês perceberam também, aqui, um fato inusitado. A Dilma e o José Eduardo Dutra, fazendo uma "puxação" muito grande para o Espírito Santo. Não é porque a mãe do José Eduardo Dutra mora aqui, é que eles são mineiros e os mineiros são meio freqüentadores das praias capixabas. A Dilma, quando veio à praia, ela não queria a praia, ela queria a areia. Por isso que ela foi a Guarapari na sua primeira visita.

Mas, meus companheiros, minhas companheiras, o que nós estamos vendo com essa visita que estamos fazendo ao estado do Espírito Santo, é mais do que uma obra que gera empregos, é mais do que uma obra que desenvolve o estado, é mais do que uma obra que garanta a auto-suficiência do nosso país na produção de petróleo. O que nós estamos vendo é o potencial extraordinário de um povo, o potencial extraordinário de um país que já podia, alguns anos antes, ter chegado a uma posição de destaque maior do que estamos vivendo hoje, se as pessoas que governam o país acreditassem nele.

Não é possível, um governante, seja ele de uma prefeitura, seja ele de um governo federal, querer que a economia do seu país se desenvolva, querer que o seu país seja respeitado, querer que o seu país aja com soberania nas relações internacionais, se as pessoas passam o tempo inteiro lamentando e chorando que as coisas não estão bem.

Eu me lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, foi prestar contas de como tinha encontrado a instituição em que ele estava trabalhando --e me permitam, aqui, não dizer o nome da instituição --e ele me dizia simplesmente o seguinte: 'Presidente, a nossa instituição está quebrada, estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu, antes de nós, foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira.'

Eu disse ao meu companheiro: 'olhe, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Para fora, feche a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento deste país'. Ele não entendeu. E eu dizia para ele: 'é isso mesmo,' porque se nós, com três dias de posse, ou com três meses de posse, saíssemos pelo Brasil vendendo a idéia de que determinadas coisas importantes em que a sociedade brasileira acredita, se determinadas instituições de que a República tanto necessita, como uma espécie de alavanca para o desenvolvimento deste país, se a gente saísse dizendo que estavam está quebradas, eu me pergunto: que mensagem nós íamos passar à sociedade? Tanto à sociedade interna, quanto à sociedade externa?

Isso poderia ser bom se eu tivesse tomado a decisão de achincalhar o governo que substituí. E eu tomei uma decisão muito pessoal e fiz com que o governo assumisse essa posição, de que o presidente que tinha deixado o governo, tinha feito aquilo que ele entendia que deveria fazer, e eu, ao invés de ficar preocupado com o que ele deixou de fazer, deveria me preocupar com o que eu tinha que fazer neste país.

Portanto, se tinha alguma coisa que não estava funcionando, não era mais da responsabilidade de quem tinha deixado o governo, mas era da responsabilidade de quem tinha assumido o governo. Aliás, meu querido Carlos Wilson, eu, numa linguagem mais popular, sempre digo o seguinte: quando a gente casa com uma viúva, a gente não recusa a família; a gente casa com a viúva, com os filhos, com a mãe, com o pai e com as virtudes e os defeitos que a pessoa possa ter. E a recíproca é verdadeira: quando a mulher casa com o viúvo, também, leva a penca de problemas que, no primeiro momento, pensa que são soluções. Mas isso faz parte da vida.

E um desses problemas que nós enfrentamos foi a Petrobras. Os companheiros da Petrobras estão lembrados que no meio da campanha, maio ou junho de 2002, nós compramos uma briga sobre a questão da construção da P-51 e da P-52. Eu acho que eu, sozinho, fiz umas oito reuniões com gente da Petrobras, fiz várias reuniões com a indústria naval brasileira. E a cada reunião eu recebia testemunhos e documentos de que a Petrobras tinha condições de produzir a plataforma aqui. Até que fui pego de supressa com uma matéria paga nos jornais, feita pela ex-direção da Petrobras, dizendo que eu não sabia do que estava falando, que a Petrobras não tinha condições de produzir as plataformas aqui.

Como Deus escreve certo por linhas tortas, e a Petrobras tem a graça de ter, quem sabe, neste país, o melhor corpo de funcionários qualificado que uma empresa pode ter, não só a gente tomou a decisão de fazer as plataformas aqui, como a Nuclep foi recuperada e está, inclusive, fazendo os cascos dessas plataformas. E isso demonstrou o quê? Demonstrou a falta de confiança que as pessoas tinham no seu próprio país, a falta de confiança que as pessoas tinham numa indústria que, na década de 70, tinha chegado a ter 50 mil trabalhadores, que era a indústria naval do Rio de Janeiro, ou seja, de repente, nós passamos a filosofar e a entender que tudo que vinha de fora era melhor do que aquilo que a gente poderia construir aqui, e a gente não valorizava, não só a mão-de-obra qualificada que a gente tinha, mas a criatividade do povo brasileiro. E, aí, é um paradoxo, meu caro governador Paulo Hartung, meu caro José Eduardo. É um paradoxo.

Nessas viagens todas que eu faço pelo mundo, eu estou cansado de ver presidentes de empresas multinacionais, das mais importantes que vocês conhecem no mundo, fazerem discurso dizendo textualmente que nas pesquisas feitas em todas as empresas deles, em todos os países do mundo, a conclusão é de que a melhor qualidade e a maior criatividade é exatamente a dos trabalhadores brasileiros. E de repente, aqui, no Brasil, você percebe determinadas pessoas que têm poder de decisão achando que é melhor fazer em tal lugar, 'eles estão mais preparados, eles têm mais tecnologia, eles têm mais conhecimento'.

Bobagem. Em alguns ramos da atividade econômica, o Brasil não perde para ninguém. Em algumas atividades econômicas, o Brasil compete em igualdade de condições com qualquer país, por mais desenvolvido que ele seja. O que nós precisamos é dar um voto de confiança a nós mesmos.

Imaginem se nós levantássemos todo dia de manhã dizendo: 'eu não posso. Ah, hoje o dia não vai dar certo, ah, hoje vai dar tudo errado'. Ninguém sairia de casa. Nós temos que levantar todo dia acreditando que é possível transformar aquele dia num dia melhor do que o dia anterior. E assim é que a gente vai construindo uma sociedade com pensamento positivo, com energia positiva, com disposição de decidir as coisas importantes para este país.

E, passados dois anos de governo, eu acho que nós podemos afirmar que a nossa indústria naval está recuperada. A Petrobras, que durante muito tempo teve medo ou preocupação de se embrenhar no mundo para disputar espaço, de fazer parcerias, porque num determinado momento também predominou, dentro da Petrobras, a idéia de que 'vamos ficar do tamanho que a gente está mesmo, porque a gente não pode fazer alianças com gente muito grande, que a gente pode perder espaço'.

E a Petrobras é uma empresa que tem que levantar a cabeça e fazer acordo com quem ela bem entender, porque ela tem mais competência e não vai perder nunca. Ela vai ganhar se tiver ousadia, ela vai ganhar se tiver coragem. E, na medida em que a gente não tem nenhuma empresa com a competência da Petrobras para prospecção em profundidade, o mundo está precisando da Petrobras, e nós temos que ter a ousadia de ocupar esses espaços que o oceano está nos permitindo ocupar.

Foi por isso que fizemos um acordo com a Pedevesa. É por isso que vamos ter que fazer acordo com outras empresas aqui, da América do Sul. É por isso que vamos ter que ver o que a gente pode fazer com Angola, o que a gente pode fazer com Cabo Verde, com São Tomé e Príncipe, ou seja, onde tiver uma oportunidade, nós temos que estar presentes, sabendo que temos condições de ganhar, que temos condições de competir e que nós temos condições de produzir mais do que qualquer outra empresa do mundo.

E essa é uma vantagem comparativa que a gente não pode permitir que a mediocridade gerencial diminua, como foi diminuída durante muito tempo neste país.

Então, o fato de estar aqui, hoje, reconhecendo que este Estado passa a se transformar, logo, logo, no segundo Estado produtor de petróleo do Brasil, nos dá uma satisfação de a gente dizer: 'O petróleo não é do Espírito Santo, o petróleo não é do Rio de Janeiro, o petróleo não é do Estado de Sergipe, o petróleo não é do Estado da Bahia. O petróleo, na verdade, é uma propriedade de 180 milhões de brasileiros, que têm o direito de usufruir dessa riqueza produzida pela Petrobras.'

E eu espero que a Petrobras tenha coragem de achar petróleo em Pernambuco e na Paraíba, pois falta dar uma pesquisadinha lá. Eu desconfio que até em Caetés, onde eu nasci, deve ter um pouquinho de petróleo. É pagar para ver. Se cavou um poço em Mossoró e achou 300 mil litros d'água de vazão por hora, por que não cava um lá em Caetés, para ver se sai, pelo menos, alguma coisinha?

Eu acho que é plenamente possível a gente ter petróleo, em todo o litoral brasileiro. E eu acho que o papel da Petrobras é esse, por isso que a Petrobras chegou à posição de destaque que ela chegou.

Mas não é apenas na questão do petróleo, meu querido Governador. Eu, de vez em quando, fico meio cauteloso, para não parecer que estou otimista demais, mas eu sou o maior vendedor de otimismo que este país já pôde produzir. Primeiro, porque acredito em cada gesto que eu faça por este país; segundo, eu acredito que o Brasil está tendo uma oportunidade histórica que há muitos anos não teve. E as que teve, jogou fora.

A gente pode lembrar da esperança que foi o Plano Cruzado e que acabou depois das eleições de 15 de novembro. A gente pode lembrar do que foi o sucesso do Plano Real e que acabou quando se aprovou a tese da reeleição neste país.

Tudo isso porque um político tem que pensar grande. E pensar grande não permite que um político pense em si mesmo. Pensar grande não permite que um político pense apenas no seu mandato. Pensar grande obriga um político a pensar um país para daqui a 30 anos, para daqui a 40 anos, para daqui a 20 anos.

É pensar nas futuras gerações e não pensar apenas nas futuras eleições, como habitualmente e historicamente acontece no nosso país. Não estou preocupado, meu caro José Eduardo Dutra, pelo fato de Pernambuco ainda não ter petróleo, porque nós vamos mostrar que este país não precisa apenas de petróleo, porque o nosso programa de biodiesel vai deixar a Petrobras boquiaberta de ver o que a gente vai produzir de biodiesel numa região empobrecida do Brasil, que ninguém dava nenhum valor.

Na caravana de 1993, visitando o Vale do Jequitinhonha e visitando o Nordeste brasileiro, eu comecei a matutar: se foi possível o presidente Roosevelt fazer o Vale do Tenessee ser o que ele é hoje, por que a gente não pode fazer o Nordeste brasileiro deixar de ser a parte pobre e começar a produzir alguma coisa? Ah, tudo bem! Não dá petróleo, não dá gás, mas dá mamona. Então, vamos produzir o biodiesel da mamona.

E, agora, com a aprovação do Protocolo de Kioto, você vai perceber que a nossa matriz enérgica verde vai ter um valor incomensurável. Vamos aguardar para ver o que vai acontecer no mundo nos próximos dez anos e vamos ver quem é que tem condições de competir com este país. Vamos ver quem é que tem condições de competir com o Brasil na produção de uma nova matriz enérgica seja do álcool, seja do biodiesel, da mamona, da palma, do girassol, da soja, ou seja, nós temos tantos produtos que, muitas vezes, lá fora, eles só têm beterraba. Nós temos tantos produtos que eu quero ver se o mundo levar a sério o Protocolo de Kioto, quem é que vai ter condições de competir com o Brasil. Eu quero ver quem é que pode fazer o que nós fizemos.

Vocês estão lembrados, no comecinho da década de 90, este país produziu 90% de seus carros à álcool; em 2000, este país estava produzindo 0% de carro a álcool. Agora a indústria automobilística brasileira voltou a produzir carro a álcool. E eu acho que nós vamos ter que produzir cada vez mais, porque o petróleo é uma coisa tão nobre, que se o preço continuar como está, essa é a matéria-prima mais valiosa para a gente entrar na OPEP, para a gente exportar, e o José Eduardo Dutra não vai ficar apenas discutindo, aqui, com os sindicatos, o aumento de salário. Vai discutir com o príncipe da Arábia Saudita o preço do petróleo, para valorizar o petróleo brasileiro cada vez mais. É isso é que vai acontecer neste país.

E nós temos alguns programas, governador, que serão marcantes para o Brasil. Primeiro, o programa de biodiesel, que vai ajudar uma parte do Norte do Brasil, que vai ajudar uma parte do Nordeste brasileiro e que vai ajudar outras regiões do nosso país, mas, sobretudo, a parte mais pobre do Brasil, porque o biodiesel começa com uma vinculação social muito grande. O objetivo, num primeiro momento, não é a gente criar grandes empresas de biodiesel, mas a gente fomentar para que a agricultura familiar do Nordeste possa se organizar em pequenas cooperativas ou grandes cooperativas, e aqueles trabalhadores tenham uma renda mensal fixa para poderem conquistar a sua cidadania. E isso vale para o Norte do país, isso vale para algumas regiões de Minas Gerais.

Depois, nós temos uma outra obra que eu considero fantástica. Obviamente que tem gente que é contra, eu respeito os que são contra. Eu já fui contra tantas vezes, por que não posso aceitar que alguém seja contra alguma coisa que eu penso? Mas é a questão das águas do rio São Francisco.

Nós temos dez milhões de famílias brasileiras que precisam de água para beber, e nós vamos levar, com toda a controvérsia que exista, neste país, nós vamos levar, porque é uma necessidade de a gente evitar que aquelas famílias pobres continuem sendo vítimas de estelionato eleitoral, em cada eleição as pessoas prometendo. E desde 1846 que dom Pedro pensou em fazer a transposição das águas do rio São Francisco.

Nunca conseguiu fazer, porque tem sempre uma oligarquia que quer manter aquele povo na miséria, não quer que se leve a água. E nós vamos levar. Até porque eu acho que, muitas vezes, alguns que são contra não sabem o que é carregar um pote de água 18 léguas na cabeça; não sabem o que é colocar uma lata d'água, onde dois palmos são de barro, para assentar e, na hora de tomar, com uma canequinha, vê mais caramujo na lama do que água. Não sabem como é que vim de Pernambuco para São Paulo, que só tinha barriga, as perninhas desse tamanho e eu pensava que era saúde e era, na verdade, doença; era, na verdade, verme. E nós não vamos permitir que essas coisas continuem a acontecer no nosso país. Essa é a segunda obra importante.

A terceira obra vai ser a Ferrovia Transnordestina, uma ferrovia que há mais de 40 anos... uma ferrovia que interliga o Piauí ao Porto de Suape e ao Porto de Pecém, no Ceará, e que se a gente não fizer, não há nenhuma razão daquele Nordeste se desenvolver, porque tem Estado que já está tão desenvolvido que a gente faz para escoar a riqueza. Mas tem Estado em que nós não temos que discutir a viabilidade econômica momentânea. Tem Estado que tem que ter a obra primeiro, para depois se desenvolver. E é esse o papel do Estado. O Estado não é nada mais, Irene, do que uma mãe. Mas não uma mãe que faz proselitismo. Uma mãe, se tiver dois filhos, ela vai sempre dar mais atenção para aquele que está mais fraquinho, para aquele que está mais frágil. Ela dará menos atenção --não que goste menos --para aquele que está mais robusto. E eu acho que o Nordeste brasileiro precisa de uma oportunidade que outros estados tiveram durante todo o século 20.

Então, não vamos discutir, como se discutiu outro dia, no Congresso Nacional, que não se poderia dar vantagem para a Zona Franca de Manaus. Só é contra a Zona Franca de Manaus quem não conhece a Zona Franca de Manaus. Se a pessoa for lá, vai dizer e agradecer a quem pensou a Zona Franca de Manaus, há 30 anos, com 100 mil metalúrgicos trabalhando.

Agora, as pessoas são contra porque acham que tudo tem que ir para a parte rica. A parte rica já tem as vantagens comparativas: tem as melhores estradas, tem os melhores profissionais, tem as melhores pontes, os melhores ônibus, os melhores caminhões, os melhores portos. É preciso que o Estado pense naqueles que não tiveram oportunidade.

E nós vamos pensar. Nós vamos pensar, e é por isso que essas obras da Petrobras simbolizam, um pouco, essa nova lógica do desenvolvimento nacional. Este país tem que ser pensado na sua totalidade. Quando nós falamos em desenvolvimento, nós temos que pensar no país total, depois temos que pensar no país regional para, depois, pensar no país local.

E nós não podemos permitir que metade do país continue atrasado. Nós é que temos que alavancar para que essas pessoas se desenvolvam. E o que estamos fazendo, meu caro Governador, está dando frutos, eu não digo extraordinários, mas muito além daquilo que qualquer economista pudesse dizer, há algum tempo atrás. Produção industrial: a maior, desde 1986. Geração de empregos: a maior desde 1992. Exportação: recorde, todo mês e todo ano. Saímos de um déficit primário --e vocês conhecem bem isso --saímos de um déficit de conta corrente de 32 bilhões de dólares para um superávit de 14 bilhões de dólares.

E as coisas continuam acontecendo. 'Ah, mas esse Lula está querendo brigar com os Estados Unidos e com a Europa e o país vai quebrar, não vai exportar'. As nossas exportações com a América do Sul aumentaram 82%, do ano passado para este ano. As nossas exportações com o mundo árabe... A Síria nunca importou nada de nós. Da primeira visita que nós fizemos, a Síria, hoje, já importa de nós 78 milhões de dólares. Sabem por quê? Porque não temos vergonha de nós. Não temos vergonha de nos apresentar como nós somos. Nós não temos vergonha de dizer que sabemos fazer as coisas.

Eu me lembro do primeiro ministro japonês. O primeiro ministro japonês veio almoçar comigo, e eu fiquei sabendo que há 28 anos o Brasil tentava vender manga para o Japão, e o Japão não comprava a manga brasileira porque a manga brasileira tinha fama de ter o "bicho da mosca". Mas isso foi há muito tempo. Só fala mal da manga brasileira quem não conhece o pólo de fruticultura do Baixo São Francisco, quem não conhece a nossa produção.

Ah, não teve outra: o meu amigo primeiro ministro sentou à mesa, eu coloquei um pratão de manga lá. E expliquei para ele: 'eu estou sabendo que vocês não compram manga do Brasil, eu queria que você experimentasse, para você saber se tem alguma manga no Japão melhor do que essa'. Conclusão: no mês de janeiro, agora, o Brasil exportou a sua primeira carga de mangas para o Japão.

O presidente Putin, da Rússia, vetou a carne brasileira porque saiu uma matéria --nós somos obrigados a comunicar a uma instituição internacional quando tem um caso de febre aftosa em qualquer lugar. Como nós somos honestos, o Roberto Rodrigues comunica no dia seguinte, é uma entidade que tem sede na França. Pode ser um bezerrinho, no interior do Espírito Santo, se teve um caso de febre aftosa e o governo foi honesto e comunicou ao governo federal, a gente comunica à entidade internacional. E aí a Rússia parou de comprar carne do Brasil porque teve um caso de febre aftosa numa cidade da Amazônia, quase divisa com a Venezuela.

O Putin chegou na minha sala, peguei o Putin e falei: 'presidente, eu queria lhe mostrar uma coisa'. Fui lá no mapa do Brasil e falei: 'olha, presidente, acho que vocês estão cometendo um equívoco com o Brasil. Está vendo, aqui, lá em cima, foi naquela cidadezinha que teve um caso de febre aftosa. Aquela região não tem gado, aquilo deve ser um coitado que tem 50 cabeças de gado. A região produtora de gado, presidente, é essa daqui, é o Mato Grosso, é Minas Gerais, são os Estados do Sul e do Sudeste. Aqui nós produzimos. A distância, presidente, daqui até lá, é muito maior do que da Rússia para a Inglaterra ou da Rússia para a Alemanha. Então, Presidente, não é possível.'

A mesma coisa com o primeiro-ministro japonês. Agora eu vou para o Japão, em maio. Vou chegar com uma caixa de picanha e de costela. O embaixador brasileiro sabe que tem que fazer uma churrasqueira, se não tiver na Embaixada. Vamos convidá-lo para comer uma picanha e vamos ver se depois ele vai ter problema de comprar a carne brasileira, porque se não for assim, meu caro, se a gente ficar esperando que eles venham aqui comprar, eles têm mais vendedores perto.

Carlos Wilson, vou te dizer uma coisa: você não sabe a importância do que você está fazendo nos aeroportos brasileiros. E nós vamos tomar uma decisão logo, logo, de fazer, na América do Sul, as coisas que têm que ser feitas, porque se a gente quer que um presidente do Equador, um presidente do Peru ou um presidente de um país africano venha comprar coisas no Brasil, nós temos que garantir a ele pelo menos o direito de vir ao Brasil. E aí precisa de avião, porque se ele tiver que ir à França para vir ao Brasil, ele já faz negócio com a França. Se ele tiver que ir a Miami para vir ao Brasil, ele já faz negócio em Miami, porque ele vai vir ao Brasil? Então, nós, que somos a maior economia, que temos mais tecnologia, que somos mais ricos, nós é que precisamos facilitar para que as empresas de aviação brasileira passem pelo menos uma vez por dia nessas capitais, arrebanhando quem queira fazer negócio com o Brasil, senão as coisas não acontecem. Durante 500 anos a elite brasileira ficou sentada na beira da praia olhando para a Europa e se esqueceu de desenvolver o centro do país que começou, graças a Deus, com um mineiro, chamado Juscelino Kubitschek, o grande desenvolvimento para o Centro-Oeste.

E, agora, se nós quisermos nos transformar numa grande nação, nós temos que fazer uma ligação física entre o Brasil e todos os países que fazem fronteira com o Brasil. Nós temos que fazer pontes, estradas. Não é à toa, meu caro Camata, que eu tive o prazer de inaugurar a primeira ponte em 500 anos de história entre Brasil e Bolívia. Vamos inaugurar, agora, a primeira ponte entre o Brasil e o Peru e acabamos de financiar o gasoduto da Argentina, acabamos de financiar uma estrada na Bolívia. E por que estamos fazendo isso? Não estamos financiando com o dinheiro que a gente poderia fazer aqui, não. Estamos financiando com o dinheiro do Proex, com exportação, estamos financiando como o BNDES, igual financia o Banco Mundial.

E por que fazemos isso? Fazemos isso por uma crença: se a gente fizer o que tem que ser feito, na hora certa, a gente não vai se arrepender, porque no Brasil, toda vez que a gente fala de política social, toda vez que a gente fala de integração na América do Sul, toda vez que a gente fala em fazer alguma coisa, aparece um engraçadinho, na imprensa, na televisão, ou quem sabe no Congresso Nacional: 'vai gastar muito'. Este país não foi alfabetizado na década de 50 porque ia se gastar muito; este país não faz universidades porque gasta muito; este país não resolveu o problema do ensino fundamental porque se gasta muito.

Agora, a pergunta que eu faço é o seguinte: nós precisamos ter a coragem de compreender que o que a gente gasta com os pobres não significa gasto, é investimento, tanto quanto é investimento o financiamento numa empresa. Isso é investimento. O que a gente investe na melhoria da qualidade de uma escola é muito mais significativo do que a gente ter que investir numa sala, para cuidar de um adolescente na Febem, como a gente vê espalhado neste país afora. Um preço que custa quase mil reais por mês. E tem gente que lamenta que a gente esteja dando 85 reais no Bolsa-Família para seis milhões e meio de famílias.

E por isso, meus queridos, que eu queria dizer para vocês o seguinte: o Brasil tem uma oportunidade ímpar. O Brasil já teve outras, mas jogou fora, mas nós não temos o direito de jogar fora. Nós precisamos crescer, mas não crescer aquele crescimento de um vôo de galinha, onde se cresce em um mês 2%, no outro decresce 2; cresce um mês 3%, no outro decresce 3. Não, nós não precisamos crescer 8, 9, 10% ao mês, nós precisamos sistematizar isso de forma organizada. Se é para crescer 4 ou 5%, é para crescer durante 10 anos seguidos, é para crescer durante 15 anos, basta que a gente faça as coisas certas.

Eu me lembro que, durante a eleição, faltavam 15 dias para o segundo turno das eleições do ano passado, e os juros foram aumentados. Tinha gente que dizia: mas, Lula, é uma loucura, é o segundo turno. Eu não posso governar um país para 186 milhões de habitantes pensando numa eleição de uma prefeitura, por mais que seja importante uma eleição na prefeitura. Eu não posso deixar de traçar a solidez do destino de um país pensando numa eleição, e tem, de dois em dois anos, uma aqui, no Brasil.

Portanto, estejam certos de uma coisa, meus amigos: nós, governo brasileiro, se Deus quiser, vamos seguir o exemplo da Petrobras. Cada vez com mais competência, cada vez produzindo mais, cada vez com mais solidez e cada vez mais pensando no futuro deste país.

E é por isso que eu queria terminar dizendo para vocês, apenas um dado, Camata, que de vez em quando eu vejo no jornal: 'O governo não está gastando no social'. E exatamente quem falava era quem já governou este país. Eu vou dar um número, aqui, para vocês verem, apenas do Ministério da Ação Social: em 2002, todo o investimento do governo foi de 7,2 bilhões em políticas sociais; em 2003, primeiro ano nosso, elevamos para 11 bilhões e 400 milhões; em 2004, elevamos para 14 bilhões e, em 2005, 17 bilhões de reais em política social, 135% a mais do que era gasto em 2002.

Se a gente quiser pegar todos os investimentos deste país, que envolvem educação e Previdência, nós vamos perceber o quê? Em 2002, se gastava 56 bilhões e 400; em 2003 nós pulamos para 63 bilhões; em 2004 pulamos para 75 bilhões; em 2005 estamos em 86 bilhões de reais.

Portanto, nós vamos continuar gastando em política social, porque o dinheiro que nós gastamos com a política social é muito mais benéfico a este país do que o dinheiro que, muitas vezes, foi roubado, historicamente, neste país.

E vamos fazer isso com a certeza de que chegaremos, daqui a 10 ou 15 anos, a gente vai ter uma sociedade mais sadia, uma sociedade mais formada. Eu até queria pedir para os deputados, queria pedir para os senadores, Camata e Luiz, quando vocês estiverem em Brasília peçam para ir ao quartel do Exército brasileiro em Brasília, visitar o 'soldado cidadão. O Soldado Cidadão foi uma coisa que nós criamos para colocar jovens da periferia, primeiro para aprenderem cidadania; segundo, para aprenderem disciplina; terceiro, para aprenderem uma profissão. Já estão com seis meses lá. Aproveitem um dia em que estiverem em Brasília, visitem lá, para perceberem o que a gente pode fazer com pouco dinheiro e muito compromisso com este país.

Muito obrigado. Meus parabéns, meu querido governador, e que o Espírito Santo continue crescendo dessa forma extraordinária.

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