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19/07/2005 - 09h01

Valério lista autorizados pelo PT a sacar dinheiro em banco

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MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
FERNANDA KRAKOVICS
da Folha de S.Paulo

Em depoimento à Procuradoria Geral da República, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza listou 11 pessoas que teriam sido autorizadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a sacar dinheiro dos empréstimos de R$ 39 milhões que teria obtido para o partido. E envolveu José Dirceu na operação.

Ouvido no dia seguinte pelo procurador-geral da República, Delúbio Soares afirmou reconhecer três nomes da lista: Wilmar Lacerda, Raimundo Ferreira Silva Júnior e Solange Pereira de Oliveira. Raimundo é vice-presidente e Wilmar preside o PT no DF.

Outra diferença nos depoimentos do publicitário mineiro e do ex-tesoureiro diz respeito a quem, na cúpula petista, sabia dos recursos obtidos por caixa dois para as campanhas do PT.

Valério disse que Delúbio afirmou que as operações eram de conhecimento do então ministro José Dirceu (Casa Civil) e do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e que ambos poderiam garantir o pagamento dos empréstimos numa eventualidade. Já Soares poupou Dirceu e confirmou que Pereira sabia.

O ex-secretário-geral do PT será ouvido hoje pela CPI dos Correios, que recebeu cópias dos depoimentos de Valério e Delúbio.

A CPI também analisa detalhes de seis empréstimos tomados por empresas ligadas a Marcos Valério no BMG (Banco de Minas Gerais) e no Banco Rural entre fevereiro de 2003 e julho de 2004. A soma dos valores financiados supera os R$ 39 milhões mencionados por Valério e chega perto dos R$ 70 milhões, sem correção.

O publicitário listou ao procurador-geral da República 11 pessoas que teriam sido autorizadas pelo então tesoureiro do PT para receber recursos em dinheiro vivo. "Não me recordo", afirmou Delúbio sobre os demais nomes.

São eles: José Nilson dos Santos, Rui Milan, Anita Leocádia, Roberto Costa Pinho, Áureo Markato, Renata Maciel Rezende Costa, Luiz Mazano e José Luiz Alves. Leocádia é assessora do líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PT-PA), que disse não ter conhecimento de saques feitos por ela.
No depoimento de quinta-feira passada, Valério disse que o dinheiro dos empréstimos teria sido usado para financiar as campanhas dos deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor da denúncia do "mensalão", e Carlos Rodrigues (PL-RJ).

Delúbio contou que recorrera aos empréstimos porque, apesar da vitória nas eleições presidenciais, teve "muita dificuldade" para obter recursos para as campanhas municipais de 2004. Disse também que o PT recorrera a empréstimos (no Rural e BMG) para pagar gastos que seriam do PT, para cobrir despesas efetuadas na transição e na posse presidencial.

O procurador perguntou por que o ex-tesoureiro recorrera aos empréstimos tomados pelo publicitário mineiro em 2004. Delúbio respondeu: "Para não gerar expectativa infundada nos eventuais contribuintes", sugerindo que doadores formais pudessem exigir contrapartidas do governo ou do PT aos pagamentos.

Segundo integrantes da comissão que tiveram acesso aos depoimentos, o publicitário teria manifestado preocupação com o fato de Delúbio deixar a tesouraria do PT e ele ficar sem receber o dinheiro que, corrigido, chegaria a R$ 93 milhões. Ainda segundo o relato de parlamentares, Marcos Valério contou que teria sido acalmado por Delúbio. O tesoureiro teria dito ao publicitário que não haveria problemas para saldar a dívida, já que Dirceu e Silvio saberiam da operação.

A preocupação deve-se ao fato dos empréstimos terem sido feitos por contratos de gaveta. Valério e Delúbio apresentaram a mesma versão para os altos valores em dinheiro sacados das contas das agências de publicidade DNA e SMPB no Banco Rural.

Outro lado

O vice-presidente do Diretório Regional do PT no Distrito Federal, Raimundo Ferreira Silva Júnior, enviou carta ao deputado Paulo Delgado (PT-MG) em que diz que foi ao Banco Rural fazer serviços para o escritório nacional do PT e para o Diretório Regional.

Ele disse não saber de mais detalhes sobre as visitas. Raimundo era funcionário do deputado, mas Delgado disse que assinou a sua exoneração. O deputado afirma que nunca trabalhou diretamente com o funcionário, que teria sido cedido ao Diretório Regional do PT e ao escritório nacional do partido. "Embora lotado no meu gabinete, nunca trabalhou comigo", disse.

O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), declarou que desconhece a suposta autorização a sua assessora Anita Leocádia para realizar saques no Banco Rural. "Que eu saiba, a Anita foi uma vez ao prédio do Brasília Shopping para realizar exames numa clínica."

Ao ser confrontado com o depoimento de Marcos Valério e Delúbio Soares à Procuradoria Geral da República, Rocha declarou que precisaria informar-se melhor com sua assessora. Leocádia, de acordo com Rocha, estava "em recesso" e não podia ser localizada.

O deputado José Dirceu (PT-SP) foi procurado, mas sua assessoria declarou que ele não iria se pronunciar. Já o ex-presidente nacional do PT José Genoino estava viajando e não poderia ser localizado, de acordo com a assessoria do partido.

Não foram localizados ontem pela Folha: José Luiz Alves, Luiz Mazano, Wilmar Lacerda, Solange Pereira de Oliveira, Renata Maciel Rezende Costa, Roberto Costa Pinho, Áureo Markato, Rui Milan e José Nilson dos Santos.

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