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26/07/2005
-
20h29
da Folha Online
Depois de cerca de nove horas, o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), encerrou a o depoimento de Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. A sessão foi marcada por choros, pedidos de desculpas e menções à vida pessoal.
A revelação considerada mais importante do depoimento foi a informação de que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu teve conhecimento dos empréstimos acertados entre Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, no montante de R$ 39 milhões.
Pela versão de Valério e Delúbio, os empréstimos eram feitos em nome das empresas do publicitário e depois eram repassados para o PT utilizar no financiamento de campanhas eleitorais.
Em depoimento à CPI, Delúbio sustentou que ele foi o único responsável no PT pelas transações. Ainda de manhã, Renilda, no entanto, sustentou que Dirceu sabia dos empréstimos.
"A única coisa que ele [Valério] me disse é que o doutor, na época ministro José Dirceu, sabia dos empréstimos. Eu perguntei como ele sabia. Ele me falou que houve uma reunião da direção do Banco Rural em Belo Horizonte com o ministro José Dirceu para resolver o pagamento desses empréstimos com o Banco Rural. E houve uma reunião em Brasília da direção do BMG, não sei onde, para acertar o pagamento das contas porque o banco também queria receber", disse Renilda.
No final da tarde, o ex-ministro divulgou nota em que nega conhecimento sobre os empréstimos mas confirma que manteve reuniões com os bancos Rural e BMG, a pedido das instituições financeiras.
"Eu não sabia de nada"
Renilda afirmou durante todo seu depoimento de que não tinha conhecimento das empresas das quais era a acionista principal --as agências SMPB e DNA-- pelas quais foram movimentados cerca de R$ 836 milhões e sacadas cerca de R$ 21 milhões em dinheiro vivo nos últimos dois anos.
Essa estratégia foi permanentemente posta à prova por deputados e senadores, inclusive com questionamentos sobre a vida íntima do casal. Parlamentares perguntavam como Renilda tinha tanto desconhecimento da vida empresarial do marido e se ele não comentava sobre seus negócios na vida doméstica.
"Eu dei uma procuração e a empresa era gerida por outros sócios", disse ela, que afirmou ser o seu marido "uma pessoa super-reservada. É uma pessoa extremamente fechada".
E acrescentou: "o sentimento que tenho é de ter sido passiva. Deveria ter tido mais participação. O sentimento que tenho é que fui um pouco covarde", disse, chorando, em referência às transações feitas pelas empresas.
Choro, ataques e desculpas
O depoimento também foi marcado por um nervoso jogo entre Renilda e os parlamentares, divididos entre uma suposta simpatia pela imagem de "mãe e dona de casa", defendida pela testemunha, e a desconfiança de que a mulher de Valério estaria tão somente defendendo o marido.
A sessão foi interrompida por pelo menos duas vezes para Renilda se recuperar. A voz embargada e uma clara demonstração de indignação pelas perguntas repetidas deram a tônica de vários momentos da inquirição.
A imagem de mãe, no entanto, era abalada justamente com as lacunas do depoimento de Renilda, que não soube explicar os valores milionários movimentados em suas contas.
Ela confirmou que não sabe da movimentação financeira das contas da empresa, nem de sua conta pessoal. Ela informou receber R$ 3.500 da empresa DNA, da qual é sócia majoritária.
Segundo ela, suas contas bancárias eram movimentadas por Marcos Valério. Sob sua responsabilidade ficava a conta-salário do marido em que eram depositados R$ 30 mil da SPMB e R$ 30 mil da DNA Propaganda.
Vida pessoal
Boa parte do depoimento também foi gasta em pressão dos deputados e senadores para que Renilda fizesse declarações mais fortes sobre os negócios do marido. Pelo menos dois deputadores fizeram a oferta para ela depusesse numa sessão fechada para a CPI, negada por ela.
Renilda também não foi poupada de questionamentos sobre sua vida doméstica, com menções a sua mãe --que tem uma doença degenerativa-- e a um filho já falecida ou à filha adolescente que é campeã de hipismo.
Ao final, o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), criticou a atuação de alguns congressistas. "Você extrai das pessoas as informações até o limite do possível. Depois, vira uma tortura, não é um depoimento. Isso aqui não é delegacia de polícia, é um parlamento."
Delcidio disse que já tinha conversado na semana passada sobre a postura que alguns integrantes da comissão mantêm de apelar para o lado emocional e vai sugerir amanhã, em reunião fechada, que a estratégia seja revista.
"Esse é um problema que temos de analisar bem. as coisas entram por um lado emocional que não acrescentam em nada a investigação."
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Depois de cerca de nove horas, o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), encerrou a o depoimento de Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. A sessão foi marcada por choros, pedidos de desculpas e menções à vida pessoal.
A revelação considerada mais importante do depoimento foi a informação de que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu teve conhecimento dos empréstimos acertados entre Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, no montante de R$ 39 milhões.
Pela versão de Valério e Delúbio, os empréstimos eram feitos em nome das empresas do publicitário e depois eram repassados para o PT utilizar no financiamento de campanhas eleitorais.
Alan Marques/FI |
Renilda Santiago, mulher de Valério, em depoimento à CPI |
"A única coisa que ele [Valério] me disse é que o doutor, na época ministro José Dirceu, sabia dos empréstimos. Eu perguntei como ele sabia. Ele me falou que houve uma reunião da direção do Banco Rural em Belo Horizonte com o ministro José Dirceu para resolver o pagamento desses empréstimos com o Banco Rural. E houve uma reunião em Brasília da direção do BMG, não sei onde, para acertar o pagamento das contas porque o banco também queria receber", disse Renilda.
No final da tarde, o ex-ministro divulgou nota em que nega conhecimento sobre os empréstimos mas confirma que manteve reuniões com os bancos Rural e BMG, a pedido das instituições financeiras.
"Eu não sabia de nada"
Renilda afirmou durante todo seu depoimento de que não tinha conhecimento das empresas das quais era a acionista principal --as agências SMPB e DNA-- pelas quais foram movimentados cerca de R$ 836 milhões e sacadas cerca de R$ 21 milhões em dinheiro vivo nos últimos dois anos.
Essa estratégia foi permanentemente posta à prova por deputados e senadores, inclusive com questionamentos sobre a vida íntima do casal. Parlamentares perguntavam como Renilda tinha tanto desconhecimento da vida empresarial do marido e se ele não comentava sobre seus negócios na vida doméstica.
"Eu dei uma procuração e a empresa era gerida por outros sócios", disse ela, que afirmou ser o seu marido "uma pessoa super-reservada. É uma pessoa extremamente fechada".
E acrescentou: "o sentimento que tenho é de ter sido passiva. Deveria ter tido mais participação. O sentimento que tenho é que fui um pouco covarde", disse, chorando, em referência às transações feitas pelas empresas.
Choro, ataques e desculpas
O depoimento também foi marcado por um nervoso jogo entre Renilda e os parlamentares, divididos entre uma suposta simpatia pela imagem de "mãe e dona de casa", defendida pela testemunha, e a desconfiança de que a mulher de Valério estaria tão somente defendendo o marido.
A sessão foi interrompida por pelo menos duas vezes para Renilda se recuperar. A voz embargada e uma clara demonstração de indignação pelas perguntas repetidas deram a tônica de vários momentos da inquirição.
A imagem de mãe, no entanto, era abalada justamente com as lacunas do depoimento de Renilda, que não soube explicar os valores milionários movimentados em suas contas.
Ela confirmou que não sabe da movimentação financeira das contas da empresa, nem de sua conta pessoal. Ela informou receber R$ 3.500 da empresa DNA, da qual é sócia majoritária.
Segundo ela, suas contas bancárias eram movimentadas por Marcos Valério. Sob sua responsabilidade ficava a conta-salário do marido em que eram depositados R$ 30 mil da SPMB e R$ 30 mil da DNA Propaganda.
Vida pessoal
Boa parte do depoimento também foi gasta em pressão dos deputados e senadores para que Renilda fizesse declarações mais fortes sobre os negócios do marido. Pelo menos dois deputadores fizeram a oferta para ela depusesse numa sessão fechada para a CPI, negada por ela.
Renilda também não foi poupada de questionamentos sobre sua vida doméstica, com menções a sua mãe --que tem uma doença degenerativa-- e a um filho já falecida ou à filha adolescente que é campeã de hipismo.
Ao final, o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), criticou a atuação de alguns congressistas. "Você extrai das pessoas as informações até o limite do possível. Depois, vira uma tortura, não é um depoimento. Isso aqui não é delegacia de polícia, é um parlamento."
Delcidio disse que já tinha conversado na semana passada sobre a postura que alguns integrantes da comissão mantêm de apelar para o lado emocional e vai sugerir amanhã, em reunião fechada, que a estratégia seja revista.
"Esse é um problema que temos de analisar bem. as coisas entram por um lado emocional que não acrescentam em nada a investigação."
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